𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄

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Meu sonho desde criança era ter um clube do livro

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Meu sonho desde criança era ter um clube do livro. O que parecia ser uma utopia pra mim, porque eu não tinha o hábito contínuo de ler, apenas o básico do dia dia, mas nunca algo que me fizesse imaginar coisas inimagináveis e sentir coisas que ninguém jamais faria eu sentir.

Acho que é por isso que as pessoas gostam de ficção. Conhecemos personagens incríveis e amáveis que não existem, mas que nos trazem uma doce expectativa de que podemos encontrar alguém assim na vida real algum dia. A leitura nos faz sentir coisas que não sabíamos que seria possível, nos apaixonamos, choramos, odiamos, rimos...

E por que eu queria um clube do livro? Porque eu via em filmes e séries e imaginava o quão legal poderia ser participar de um. Os membros leem os livros e simplesmente debatem sobre ele. É o tipo de conversa que te puxa da realidade e te leva para minutos, até mesmo horas, de felicidade e aconchego.

E é por isso que eu, Beatrice Kurosawa, estou desenhando um cartaz bem chamativo para colar no mural da minha nova escola afim de encontrar pessoas que se interessem em participar do clube.

Quero pessoas que possam compartilhar experiências, individuais e coletivas, comigo através da ficção. Talvez eu seja muito solitária? Bom, é uma hipótese a qual jamais descartarei.

— Você acha mesmo que alguém vai ler isso?

Encaro o rosto de Ellie um pouco abaixo dos meus ombros. Ela é minha irmã mais nova, graças a Deus a única que tenho. 

— Acho. — Respondo convicta de que sim, as pessoas podem passar e se interessar pelo cartaz de imediato, apenas passando os olhos nas grandes informações coloridas que coloquei nele.

— Ele está muito feio e pouco chamativo. — Ela pontuou. Revirei os olhos com a sua opinião não pedida e tornei a encarar o meu cartaz amador. — Olha só, 'tá torto.

Clube do livro! Aqui lemos de tudo! Rua Surrey, 76.

Encontro aos sábados, às 10 a.m.

Ellie apontou a forma como a frase ia subindo ao invés de continuar em linha reta. 

É. Não estava do mais bonito que sou capaz de fazer, mas a estética não é importante por aqui! Preciso apenas de algumas garotas para sentarmos em sofás, comer alguns biscoitos e discutir sobre o livro que escolhemos.

— As pessoas vão vir. — Ainda com um pouco de positivismo, respondo.

Ellie deu de ombros e saiu de perto.

Ela nunca tirou o sono dos nossos pais por causa de mentiras, felizmente minha irmãzinha é sincera demais para o pingo de pessoa que ela é.

— Bea, não esqueça de colocar o lixo para fora! — Minha mãe grita da cozinha.

— Sim, já ia fazer isso! — Eu tinha esquecido desta tarefa. Enrolei o cartaz e o enfiei delicadamente dentro da minha mochila para não amassar.

Amanhã é o primeiro dia de aula na escola nova. Ellie também está de mudança, o sexto ano pode parecer assustador, mas não é nada demais se comparado ao terror que é o ensino médio.

E logo depois do ensino médio vem a vida adulta... Me causa arrepios só de pensar.

Vou até a cozinha e, como pedido, pego o saco de lixo já amarrado. Saio de casa e ando até a calçada, depositando a sacola preta em um canto estratégico onde ninguém possa tropeçar e o lixeiro a encontraria rápido.

Nos mudamos recentemente para este bairro. Não conhecemos muito bem nossos vizinhos e acho que está bom assim, entretanto, minha mãe foi convidada para o aniversário de alguém na vizinhança. Que é daqui alguns dias, aliás.

Ellie parece animada com a festa, diferente do resto da família. Não somos chegados às boas-vindas, mas juntos chegamos a conclusão de que um aniversário não matará ninguém. Só precisamos comparecer e agir como as pessoas normais que somos.

Cansada de olhar ao redor, rolo os calcanhares para entrar em casa e voltar ao meu quarto, onde ficarei o resto da manhã listando todas as coisas ruins que podem dar errado no primeiro dia de aula e evitar elas da maneira mais sutil possível.

Um barulho alto e incomum no bairro faz meu peito quase pular para fora do corpo. Viro a cabeça na direção da rua e o estridente som de pneus se arrastando pelo asfalto corta meus ouvidos.

A Van branca que passou por mim estaciona desengonçada na casa ao lado da minha. Fico para ver a cara dos indivíduos responsáveis pelo transtorno logo de manhã para marcar a feição dessa galera nada educada.

Um a um, os garotos com estilos de roupas escuras e rasgadas, deixam o carro. São garotos baderneiros e inconvenientes com atitudes de crianças que acabaram de sair das fraldas. Não estamos longe, mas suas risadas parecem alto-falantes virados propositalmente na direção do quintal da minha casa.

O último a sair foi o motorista. Ele não era nada diferente dos que que saíram primeiro, entretanto, foi o único que me notou em meio ao longíquo silêncio do bairro.

Seu olhar era intenso; um levantar de sobrancelhas e feição debochada poderiam ser lidas como "perdeu alguma coisa na minha cara?"

— 'Tá olhando o quê, Rodrick? — Alguém o chama. Era mais um de seus amigos baderneiros. 

Nossa troca de olhares se encerra com um cenho franzido por parte dele. Logo ele some entre os arbustos que separavam nossas casas como se nada tivesse acontecido.

E nada aconteceu realmente.

Faz somente uma semana que minha família e eu nos mudamos e eu ainda não havia topado com este garoto por aqui, mas já sei que ele será problema.

Minha mãe costuma dizer "fique longe de garotos encrenqueiros" e eu consigo farejar a encrenca que ele exala.

𝕿𝐇𝐄 𝖀𝐍𝐃𝐄𝐑𝐃𝐎𝐆𝐒 ‹𝟹 rodrick heffleyOnde histórias criam vida. Descubra agora