Capítulo 31 - A Tempestade

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Após terem caminhado alguns metros de distância, Yuhan olhou para frente e se deparou com a cena: Yuná observando o horizonte, parada em frente ao mar segurando suas mãos junto ao peito. Seus cabelos e roupas tremulavam com a brisa suave que vinha do oceano. Por sua reação, ele estava percebendo que as palavras de seus amigos a comoveram de alguma forma. Provavelmente ela estava mais motivada ainda a nascer, já que supostamente aceitou o desafio de tentar lembrar e descobrir quem eram aquelas almas quando viveram no mundo mortal.

Ele não quis se aproximar, portanto ficou apenas olhando triste do seu lugar. Era óbvio que não valeria a pena mais insistir, inclusive, seria muito egoísmo por parte dele. Talvez daquele jeito era melhor mesmo, embora não conseguisse evitar de sentir o fluxo de emoções que surgia quando se aproximava dela.

O mar estava se enchendo da nova maré enquanto os céus se escureciam com nuvens rubras de chuva. Yuhan concluiu que aquelas nuvens eram as mesmas que começaram a se formar lá atrás na cidade central e agora estavam chegando ao litoral noroeste. Nuvens de tempestades fortes não são comuns no Reino dos Mortos, mas esse fenômeno ocorria às vezes quando tragédias aconteciam no mundo mortal como: Grandes queimadas, enchentes, terremotos, tsunamis ou destruições por vulcões. A natureza sofre uma grande perda material/espiritual e aquele era o jeito dela manifestar sua profunda dor. Entretanto, mal sabia Yuhan que aquela chuva decorria por causa da luta entre Debby e o góin.

Desviando o olhar dos céus que escureciam cada vez mais, Yuhan se preparou para chamar Yuná para irem embora antes que a torrente de água caísse sobre eles. Porém, percebeu tarde demais que ela já não tinha brilho nenhum. Um senso de urgência bateu em sua consciência e a passos largos observou pelas suas costas que seus cabelos estavam completamente opacos bem como sua pele pálida que não emanava nenhum dos tons coloridos de sua aura. Quando estava quase próximo o suficiente para perguntar se estava tudo bem, Yuná deixou seus braços caírem inertes em um claro sinal que desmaiaria naquele instante.

— YUNÁ!? — Ele correu e a segurou a tempo antes dela cair e bater na areia fofa.

Pingos de água começaram a cair dos céus e um vento frio vindo do mar fez Yuhan se encolher segurando-a em seus braços. Naquele momento o desespero surgiu de dentro do seu ser e se esqueceu de qualquer pesar que estivesse guardando. Rapidamente, ele tirou o celular do bolso e ligou para Mihai, que deveria ter se esquecido de encontrá-los para repor a energia dela.

Ele apertou os números com uma mão enquanto segurava Yuná com o outro braço. Ela estava do mesmo jeito quando desmaiara no parque "Além das Flores". A chuva começou a engrossar e junto com o frio. Mihai não atendia o celular.

— Ah que droga! MIHAI!!!! — Ele gritou aos céus que agora estavam relampejando raios rubros intensos. Ele estava mais do que desesperado.

Jogando o inútil celular de qualquer maneira na areia, se ajoelhou deitando Yuná sem deixar sua cabeça cair de seu braço. Ele respirou fundo e concentrou toda a energia que sentia fluir dentro da sua própria alma. Segurou a pequena mão gélida da moça e tentou passar para ela a energia que ele podia oferecer de si.

Três minutos se passaram e nada aconteceu. Ele não sentiu energia sair dele, logo ela não havia recebido nada. Tentou por dois dedos na têmpora dela, imitando, como já viu Mihai fazer, mas também não funcionou.

Raios caíram simultaneamente no meio do oceano causando trovões assustadores. Sentindo o absurdo frio, que não parava de aumentar, abraçou Yuná para pelo menos impedir a perda do resto de calor que tinha em seu corpo etéreo.

Sentir a alma dela em contato com a dele o fez lembrar do beijo que ele queria tanto esquecer. Todas as lembranças daquele momento vieram à mente. Ele segurou o rostinho dela com uma mão e mesmo sendo uma loucura, porque ela estava desacordada, ele teve o forte impulso de beijá-la novamente. Era uma vontade incontrolável.

Os dois já estavam ensopados da chuva e não tinha nenhum sinal de que Mihai apareceria milagrosamente no último sopro de vida da alma de Yuná. Se aquele momento terminasse de maneira trágica e de alguma forma aquela alma deixasse a existência por culpa dele, então que pelo menos se despedisse dela.

— Eu juro que nunca vou te esquecer, Yuná. Me perdoe por tudo que te causei. — Ele disse mesmo sabendo que ela não podia ouvir.

Ele puxou o rosto dela e beijou seus adormecidos lábios sem fechar os seus olhos. Permaneceu assim por alguns segundos sentindo vontade de chorar. Uma vontade que nunca teve. É assim a dor da perda? — Ele pensava. — Será que isso é o reflexo do que é perder um amor? Porque dói tanto?

Após uns minutos, uma onda de calor passou a brotar no meio do seu peito e foi aumentando gradativamente. Yuhan não conseguia conter aquela sensação. Suas resistentes lágrimas finalmente rolaram de seus olhos misturando-se com as gotas da chuva que chicoteavam seu rosto. Yuhan fechou os olhos e pressionou mais forte sua boca contra a de Yuná sentindo aquele imenso fluxo de energia se mover para fora como se fosse uma massa física.

Quanto mais dor elesentia, mais fraco também ficava. Sua aura e energia foram minguando até elenão aguentar mais o próprio corpo. Sua culpa o fez aceitar que se Yuná fossedeixar de existir ele não também não queria continuar na existência convivendocom um remorso eterno, com uma saudade eterna. Se entregando a dor, permaneceude olhos fechados até perder a consciência esperando que desaparecesse juntocom Yuná.

Além das Flores - CONCLUÍDO ( 45 de 46)Onde histórias criam vida. Descubra agora