Capítulo 1

189 31 634
                                    

   Anthony estava ali, em frente ao espelho de corpo inteiro que ficava no canto do seu quarto, em uma plena manhã de segunda-feira, tentando arrumar seu cabelo, que parecia não estar muito a fim de obedecer. Não importava o quanto ele puxasse para baixo com a escova, seus enormes fios de cabelo negros e ondulados permaneciam embolados e arrepiados, entregando assim que ele já estava há dias sem cuidar deles.

   O único motivo pelo qual ele estava fazendo isso era porque seu cabelo era a coisa mais importante para ele, visto que seus cabelos compridos até a altura do queixo cobriam seu rosto perfeitamente, para que ninguém se concentrasse em sua aparência.

   Não é que ele se achasse feio ou coisa do tipo, mas sim que seu medo de pessoas fazia com que os olhares sobre sua face o deixassem totalmente desconfortável, em um nível absurdamente ridículo. Mesmo que os olhares não fossem maldosos, como a maioria costumava ser, sua mente meio que se autoprogramou para entender que os olhares eram de pessoas que queriam feri-lo por chamar atenção demais.

   Desde que deixou os cabelos cobrirem seu rosto e começou a usar máscaras, tudo deu uma diminuída considerável. Ele, na verdade, nunca entendeu o real motivo pelo qual sua aparência incomodava tanto os demais, mas se isso significava ter que escondê-la, assim ele fez sem nem pensar duas vezes.

   — Anthony, vem logo, senão vai se atrasar. — A mãe de Anthony gritava da sala, alertando que ele estava tempo demais no quarto apenas arrumando seu cabelo.

   Anthony, mesmo contra sua mais pura vontade, foi obrigado a deixar seu tão quentinho e confortável quarto para sair de casa e ter que lidar com monstros que se consideravam pessoas.

   — Filho, tira o cabelo do rosto. — Assim que Anthony se aproximou, ela tentou tocar em seus cabelos, porém foi rapidamente impedida pelo garoto, que deu um passo para trás. — Tem certeza de que não quer cortar o cabelo? Seu rosto é tão bonito que é um desperdício não ser visto.

   — E por que eu faria isso? A senhora sabe que eu deixei o cabelo crescer justamente pra isso. — Ele passou a mão no cabelo para ter certeza de que seu rosto estava coberto corretamente. — Fique feliz, eu não estou usando aquela máscara que tanto me implorou para deixar de usar.

   Ele não simplesmente parou de usar a máscara porque sua mãe praticamente implorou, mas sim porque nem ele mesmo suportava mais quase morrer asfixiado com aquilo no rosto. Sendo uma cidade nova e tal, ele pensou que, como ninguém o conhecia, fosse uma boa ideia.

   — Tanto faz.

   Ela não tinha feito o café, pois acordou um pouco atrasada, então entregou para seu filho uma pequena quantia de dinheiro. Aquele dinheiro era para que ele comprasse algum lanche para quando sentisse fome, uma coisa que o jovem não sentia há dias.

   — Espera, eu esqueci minha mochila. — Ele voltou correndo até seu quarto e pegou a mochila que tinha esquecido em cima da cama.

   Ele passou seu braço por dentro da alça e a colocou sobre o ombro. Abriu-a e guardou o dinheiro que sua mãe havia lhe dado para comprar algo. Pelo menos ali o jovem tinha certeza de que não iria perder aquela pequena quantia de dinheiro.

   Após pegar a mochila, Anthony colocou seus fones de ouvido com a música no volume máximo e saiu de casa. Ele não sabia o porquê, mas amava fazer isso. Talvez fosse porque a música o ajudava a esquecer tudo ao seu redor, e com isso ele não tinha nenhum problema com o qual se preocupar.

   Mesmo tendo sérios problemas em relação à sua sensibilidade auditiva, fazendo com que até mesmo uma buzina de carro ou fogos de artifício o assustassem e fizessem com que o pequeno garoto de pele pálida sentisse seu coração disparar de medo, as músicas que estavam em sua playlist, mesmo contendo bandas de rock e notas bem altas, o deixavam tão calmo que era impossível conseguir explicar ao certo como funcionava.

GUARDIÕES: Chamas da justiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora