Capítulo 6

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   Pietro sabia na confusão que estava se metendo. Se ele, um garoto altamente inteligente e super focado levou meses para conseguir se tornar um Guardião de verdade, era impossível ele conseguir treinar três adolescentes como Anthony, Lorenzo e Giselle em um mês. Por mais que isso parecesse algo que nem mesmo Diana via como, ele acreditava que seus colegas de classe seriam perfeitos para isso, e ele não poderia simplesmente desistir depois de já ter os animado com essa história.

   Todos estavam muito empolgados com essa história de serem heróis, até porque, mesmo sendo pessoas extremamente bonitas e talentosas, os três se sentia muito mal por não conseguirem ser tão bons quanto desejavam, e agora, nesse momento fantástico, os três jovens se sentiam alguém de verdade em anos.

   Desde que nasceu, Lorenzo sempre teve tudo do bom e do melhor, sendo o único herdeiro de toda fortuna de sua família, Lorenzo sempre teve a pressão de ser bom quanto o fundador da Norton Industries, ou até mesmo como a fabulosa Carolina, uma modelo e atriz conhecida no mundo inteiro e premiada diversas vezes por seu talento e beleza. Só que com tudo isso, Lorenzo nunca conseguia se ver além da sombra daqueles de lhe deram a vida. O garoto de olhos verdes acreditava cegamente que o seu destino era apenas esse. Mas finalmente, ao ser escolhido como o mais novo Guardião, Lorenzo Stuart-Norton se via muito mais do que um simples menino herdeiro.

   Com todos os quatro não era diferente. Todos eles tinham medo, muito medo. Crescer rodeado de pessoas querendo se aproveitar de seu nome e de pessoas que exigiam que você fosse o que eles queriam fez um mal muito grande para essas pequenas crianças, que agora, bom, não conseguiam nem mesmo saber quem eram de verdade sem que alguém os dissesse.

   Sem dúvidas o que mais estava se sentindo melhor com toda essa história era Anthony. Em sua mente, ele acreditava que pelo menos os outros tinham capacidade para se tornarem o que esperavam deles. Tudo o que precisavam fazer eram ser bonitos e acenar para os pobres enquanto levavam vidas de luxo com tudo do bom e do melhor, bem ao contrário dele, que levava uma vida de merda e que nunca poderia acreditar que conseguiria ser alguém que desse orgulho para seus pais.

   A pior parte é saber que os pais de Anthony nunca o pressionaram para nada. Sera não ligava para o que ele fizesse enquanto a deixasse em paz, e Louis sempre o apoiava em quase tudo o que fosse. Mesmo assim, Anthony se sentia obrigado em ser algo melhor. Ele precisava sentir que algum dia ele se tornaria o orgulho da família, e não apenas a sombra de seu irmão Andrew, que ao contrário de Anthony conseguia ser o filho perfeito.

   Andrew estava seguindo os passos de sua mãe, desse jeito estando cursando advocacia Harvard e já planejando tudo o que vai fazer logo em seguida, e tudo isso ao mesmo tempo em que Anthony não consegue nem ir para a escola sem pensar em largar tudo e tentar qualquer outra coisa que não seja escola ou tenha que lidar com outros seres humanos.

   Entre os três, a única que sabe o que realmente quer é Giselle, que por mais que ame moda e passe boa parte de seu dia desenhando roupas e mais roupas que são produzidas e vendidas por seus pais em seu nome, Giselle Greco, vinda de uma longa linhagem de costureiros e designs, só queria ter a liberdade o suficiente para conseguir cursar veterinária e trabalhar com isso.

   A garota de cabelos ruivos ama os animais que gostaria de conseguir ajudá-los de alguma forma. O problema, é que mesmo sendo a filha mais nova, por ser a única com os dons para moda da família, acabou se tornando a herdeira do império dos Greco. Então, mesmo que ela consiga se formar em veterinária, seus pais nunca a deixariam trabalhar e querer viver com isso.

   — Eu faço qualquer coisa para continuar com esses poderes foda. — disse Giselle.

   — Concordo com a cenoura ambulante. — Anthony sorria, nem parecendo que alguns segundos atrás havia se irritado com o jovem mexicano — Eu não quero perder esses poderes literalmente divinos.

   — Ei, só eu posso chamar minha amiga de cenoura, seu esquisitão. — tendo apenas a vontade de defender sua amiga, Lorenzo acabou sendo bem desnecessário ao chamar o outro assim.

   Mesmo não sendo a pior ofensa que Anthony já ouviu em sua vida, essa porra foi um real gatilho para que sua raiva o consumisse rapidamente. Ele cerrou os punhos e pensou seriamente em como seria prazeroso acertar um soco bem em um dos olhos verdes do outro garoto, porém, por algum milagre ele conseguiu se conter e não fez nenhuma besteira.

   — O treinamento já começou bem. — Disse Diana, se sentando em seu enorme sofá de couro.

   — Porra, gente! — Pietro se estressou.

   Anthony de primeira ficou bem surpreso como os demais. Entretanto, logo em seguida começou a rir, não de deboche ou coisa do tipo, mas sim por causa da voz fofa de Pietro. O jovem nerd parecia uma criança indefesa e frágil, o que aos olhos de Anthony era algo muito interessante de se presenciar, visto que ele nunca viu alguém que mesmo tendo quatorze tivesse esse jeitinho de ser.

   Anthony admirava pessoas como o pequeno Pietro. Para o jovem Day-Lions, pessoas assim eram como pequenos anjos perdidos no meio da crueldade que existe nesse mundo horrível e maldoso. Ele ainda ficava honestamente muito intrigado ao ver que mesmo o quão difícil seja a vida, ainda existirem seres humanos assim.

   — Eu estou aqui me esforçando para um caralho para que vocês consigam se tornar verdadeiros Guardiões assim como eu me tornei. — durante a demonstração do que Pietro sentia, Anthony, que olhava fixamente para o seu belo rosto, conseguiu notar uma gota de lágrima que escorria por sua bochecha até chegar em seu queixo antes de ser enxugada com a manga da camisa xadrez que Pietro utilizava naquele momento — O problema é que vocês parecem está pouco se fodendo para isso. Eu sei que vocês são bons, até porque eu os acompanho muito antes de vocês sequer saberem de minha medíocre existência patética.

   Os outros três jovens não conseguiram evitar de ficarem extremamente mal com a cena que estavam vendo. Ver a forma com a qual Pietro falava os faziam se sentirem os piores seres humanos a existissem nessa terra. E até mesmo Diana, que sempre costumou ser uma mulher e mestra rígida, estava mal com essa situação.

   Em todos esses meses que o treinou, a mestra Diana nunca o viu dessa forma. Ela sempre soube o quão sentimental ele poderia ser, até porquê muitas vezes ele chegou a chorar durante seus treinamentos por não se sentir o suficiente ao ponto de ter certeza que conseguiria ser um Guardião, todavia, ela nunca poderia imaginar que ele ficaria nesse estado por outros aprendizes, dando a ela a total certeza que ele foi a melhor escolha que um dos amuletos poderia ter tido em todos esses séculos.

   Sentada no sofá, Diana pensou seriamente em se levantar para abraçar seu aprendiz, porém, ela ainda tinha que manter a pose de mestra durona e fria. Com isso, ela se conteve e apenas assistiu para ver até onde isso iria parar.

   — Pietro, eu... — Anthony tentou falar, mas logo foi interrompido.

   — Eu sei que todos vocês estão cansados de não se sentirem como gostariam. Eu sei que todos vocês carregam o maldito fardo que eu carrego que e o medo de nunca serem capazes de merecerem o que tem, ou no caso de Anthony, de ter medo de nunca conseguir ser tão boa quanto seu irmão. Eu sei muito bem como é não se sentir o suficiente, e eu sei que ser uma Guardião é a porra de uma responsabilidade muito grande para meros adolescentes que nem sequer sabem o que caralhos querem fazer da vida. Mas também sei que algo que os faram se sentirem muito bem ao conseguirem fazer coisas que nenhum mortal já conseguiu fazer antes na história da humanidade.

   A fala de alguém nunca teve tanto impacto na mente desses três jovens quanto a de Pietro. Ele nunca poderiam imaginar que alguém saberia tão bem o que cada um deles passa dentro de sua própria mente. Obviamente que eles não ao menos sabiam como reagir a isso.

   — Mas como que você sabe tanto sobre nossas vidas? — questionou Anthony.

   Anthony jamais contou para alguém como ele se sentia ao ver seu irmão dando orgulho para seus pais enquanto ele continuava preso no mesmo lugar por não conseguir se soltar do passado. E a mesma coisa eram os outros dois. Nenhum deles tinha coragem o suficiente para abrir a boca e desabafar com alguém como era carregar aquela fardo gigantesco mesmo sendo apenas crianças que mal sabiam como era viver de verdade.

   — Nenhum de nós foi escolhido por acidente meu amigo. Cada um aqui tem um propósito nessa vida. — a resposta de Pietro não chegou nem perto da que Anthony estava querendo, mas foi o bastante para que ele se calasse e não fizesse mais perguntas — Se quiserem desistir, a porta está bem ali, entretanto, peço para que vocês pensem bem se quiserem realmente desistir.

   Mil coisas se passavam pela mente da jovem Giselle. Ela tinha muitas perguntas para fazer sobre tudo o que estava acontecendo em tão pouco tempo. A menina mal teve tempo para conseguir engolir tudo isso. Ela ainda estava se questionando se tudo isso não era apenas um fruto doido de sua imaginação e que na verdade ela não estaria trancada em algum hospício após ter feito merda.

   Lorenzo também tinha questões que precisavam de respostas, mas assim como os outros dois ele tinha medo de perguntar e acabar fazendo com que Pietro chorasse mais ainda. Lorenzo não gostava de ver pessoas chorando, muito menos por sua culpa. Contudo ele apenas se manteve calado juntamente aos outros.

   — Vou levar vocês para casa e deixar com que pensem bem. Se quiserem desistir de verdade, todos sabem quem sou eu e onde me encontrar.

GUARDIÕES: Chamas da justiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora