VI

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A Princesa de Madeira

O Irmão Reynolds estava atrasado. Os caras estavam na frente, empurrando sua mesa para a frente da plataforma de modo que, se ele colocasse qualquer peso sobre ela, cairia. Missão cumprida, todos nos sentamos e tentamos parecer tranquilos enquanto ele marchava para dentro, seguido por um garoto chamado Billy, com o rosto vermelho. Billy foi direto para sua mesa sem olhar para ninguém.

'Desculpem, girinos. Bill teve um incidente esta manhã que envolveu a polícia.' Ele roubou de novo. 'Pedi sua permissão para contar a vocês sobre isso e ele generosamente concordou. Bill foi ao banheiro na estação de trem esta manhã e, enquanto estava no mictório, um empresário lhe ofereceu cinco dólares...'

'Dois dólares, senhor,' Billy corrigiu.

'Dois dólares, para colocar o pênis do homem na boca dele.' A sala se encheu de sussurros. Viados de merda. Deviam ser fuzilados. Que nojo.

'Billy fez exatamente a coisa certa. Ele permaneceu calmo e disse: "Não, obrigado", depois foi até a entrada principal e contou para a polícia, que prendeu o homem. Acho que o que ele fez foi muito corajoso. Lembrem-se de que vocês nem sempre conseguem identificar um homossexual, mas, se algum se aproximar de vocês, mantenham a calma e chamem a polícia. O policial é seu amigo.'

Qual será a estação de trem? Eu teria feito isso para ele.

'Muito bem, esta manhã vamos olhar uma peça chamada A Princesa de Madeira, que é baseada em um antigo mito hindu. Rankin, você lê o papel do caçador. Conigrave, você pode ler o papel da princesa.' Morte instantânea. Ele nos entregou cópias da peça. Uma bola de papel acertou a parte de trás da minha cabeça. 'Oi, Princesa,' Quin sussurrou atrás de mim.

'Cena 13, à beira do rio,' disse o Irmão Reynolds.

CAÇADOR: Por que você fugiu?
PRINCESA: Não é certo que... ['Não conseguimos te ouvir, Conigrave.'] Não é certo que você se aproxime de mim assim. Nós não podemos nos apaixonar.
CAÇADOR: Eu só quero cuidar de você, caçar esquilos e construir uma casa onde possamos brincar com nossos filhos.
PRINCESA: Você deve ir embora. Não posso te dizer o porquê.

Enquanto eu engasgava com cada palavra, sentia todas as chances de sobrevivência no playground desaparecendo. Irmão Reynolds me agradeceu e a Rankin, e pediu para nós lermos tudo para a turma na semana seguinte. Ah, mal posso esperar. A mesa do professor caiu com um estrondo ensurdecedor. Irmão Reynolds não se abalou. 'Andy, pegue isso.'

Em questão de dias, fui apelidado de Princesa, depois Princesa Tina e eventualmente Sue, que se tornou meu apelido por um bom tempo.

Uma semana depois, Rankin e eu estávamos chegando ao final da leitura. Minhas pernas estavam bambas, minhas mãos tão úmidas que as páginas da peça estavam manchadas de suor, e meu rosto estava em chamas. Continuei.

PRINCESA: Não se ajoelhe diante de mim. Não é punição que eu desejo. É o seu amor.

Fizemos nossas reverências como verdadeiros atores. Os caras aplaudiram freneticamente. O Irmão Reynolds ficou em silêncio, chocado, talvez até emocionado. Ele olhou para cima e nos dispensou com um aceno. Saímos da aula três minutos mais cedo.

'Exagerou um pouco na maquiagem, não acha?' era o Quin.

'Não estava usando nada.'

'Mentira. Você parece uma garota.' Ele se afastou irritado pelo quadrilátero.

Fiquei atordoado. Quando eu era pequeno, os comerciantes às vezes me chamavam de menininha, mas aquilo era um ataque direto. O que eu fiz? Ele estava tão furioso. Entrei no banheiro. Olhei no espelho. Vi minha franja caindo nos olhos, as linhas marrons ao redor deles, minhas bochechas coradas, meus lábios vermelho sangue. Eu estava corado por ter atuado diante de uma turma hostil. Realmente parecia que eu estava usando maquiagem.

Segure-o (Holding The Man) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora