II

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Casa para o Natal

Eu já estava cansado de estar no banco de trás do carro. Mas logo estaríamos em casa para o Natal, o que significava dormir até mais tarde, o prato de salmão defumado da mamãe e o cheiro das agulhas de pinheiro.

Quando chegamos a Melbourne, deixamos Peter na casa dos enfermeiros do Hospital Fairfield, agradecendo por tudo o que ele fez por nós nos últimos meses. Levei John para a casa da família dele, em East Ivanhoe. Lois estava regando o jardim em seu conjunto esportivo turquesa. Ela abriu a porta para John e sorriu, oferecendo ajuda para ele sair do carro.

John se sentou na sala. Lois trouxe uma xícara de chá e perguntou sobre Byron Bay. "Ouvi dizer que é magnífico. Nunca fui para nenhum lugar além de Sorrento ou Sydney." Agradeceu por ter trazido John para casa e perguntou o que eu faria no dia de Natal.

"Almoço com a família, imagino."

Em casa, minha mãe estava sentada à mesa de jantar, com o livro de sempre. Perguntou sobre John.

"Ele agora está com dificuldade para respirar, acho que é por causa da anemia. Eu só queria dizer a Deus: Dá uma folga pra ele, por favor."

"Logo vai acabar."

"Não quero ouvir isso."

Na manhã seguinte, fui acordado pelo telefone. Era Peter, ligando do Fairfield.

"John mal consegue respirar esta manhã. Ele pediu que eu o levasse ao hospital."

"Vou o mais rápido que puder." Saí dirigindo, com a fita de Diamonds and Pearls do Prince tocando alto.

Fairfield, o hospital de doenças infecciosas, é cercado por gramados magníficos e, nessa época do ano, os jardins estavam cheios de pavões e agapantos em plena floração.

Na enfermaria, pedi orientações a uma enfermeira.

"Você é o parceiro de John? Ele é muito doce. Tem cílios lindos."

No quarto de John, uma mulher alta com lábios sensuais pintados de vermelho-fogo estava ao lado de Peter. Fui beijar John, mas ele usava uma máscara de oxigênio. Fiquei brincando de tentar beijá-lo através da máscara. "Não consigo, tem uma coisa no seu rosto." Ele sorriu, levantou a máscara e fez um biquinho. A médica se apresentou.

"Acreditamos que seja pneumonia, mas não sabemos qual tipo, e prefiro não fazer uma indução de escarro ou broncoscopia para não causar outro pneumotórax. Sugiro tratar para pneumonia bacteriana e por PCP. Está bem para você, John?"

"Você é a médica."

"Receio que isso signifique que você ficará aqui no Natal." John suspirou. "Sinto muito. Vejo você de manhã." Ela saiu.

"Droga. Passar o Natal aqui."

"Não se preocupe, vamos fazer desse o melhor Natal de todos."

Peter foi embora, e eu me deitei na cama ao lado de John, segurando-o perto de mim. Fica comigo, não vá embora ainda. Como um filhote que se aconchega à mãe, eu me confortava com as batidas do coração dele.

Um homem rechonchudo, com o cabelo ralo, entrou com duas bolsas de remédios e uma bandeja de metal. Apresentou-se como Michael. Segurei a mão de John enquanto Michael desinfetava o antebraço dele. "Veias boas. A maioria dos pacientes daqui mataria para ter veias assim. Agora, anestésico, picadinha." John fez uma careta. "Agora a cânula." Ele mostrou a ponta de aço. "Já deve estar dormente o suficiente." Enfiou a agulha no braço de John, que gemeu. "Já está." Ele fixou a cânula com fita adesiva. "Vejo vocês mais tarde. Não hesitem em me chamar. Tim, você quer ficar esta noite? Podemos arrumar uma cama de campanha para você. E talvez consigamos jantar para você, mesmo que não devêssemos alimentar visitantes."

Segure-o (Holding The Man) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora