Capítulo DOIS - I

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John à Distância

O Xavier College, a escola de ensino médio, juntava meninos de duas escolas primárias. Era em Kew, do outro lado de Melbourne, um subúrbio arborizado, cheio de bétulas prateadas e gramados bem cuidados. Os dias de sair de casa dez minutos antes da aula haviam acabado.

Chegar à escola agora significava caminhar até a estação de Brighton Beach, uma viagem de vinte minutos em um vagão cheio de crianças fumando, trocar de trem em Richmond para mais uma viagem de dez minutos, apertado com trabalhadores migrantes das fábricas têxteis, e depois correr por uma rampa para lutar por um lugar no bonde Glenferrie. O bonde era um microcosmo de sobrevivência humana. Quando um chegava, subíamos uns sobre os outros para conseguir um pedaço do estribo e segurar em uma alça. Os cobradores estavam tão apertados entre as espinhas e o pé de atleta que não conseguiam coletar as passagens. Acabávamos fazendo lucro; nossas passagens viravam dinheiro para Redskins ou Choo-choo bars.

No meu primeiro dia no Xavier, segui uma corrente de meninos mais velhos pelo portão de arame farpado. Os outros meninos de Kostka avistaram alguns amigos e eu continuei subindo a calçada sozinho. Um grande quadrilátero de grama abriu-se diante de mim, sombreado por imponentes olmos e ladeado por salas de aula de tijolos vermelhos de dois andares. No extremo oposto, havia um grande salão vitoriano com enormes janelas e um telhado de ardósia.

Subi um lance de escadas, puxando minha folha de informações para encontrar o escritório do mestre do Terceiro Ano. Enquanto tentava entender o mapa, Damien se aproximou por trás de mim. 'Ei, amigo', ele sussurrou. Tentei sorrir, mas ambos estávamos desconfortáveis. Nenhum de nós tinha feito contato durante as férias. 'Bem, aqui estamos,' disse Damien, sem jeito. 'Boas férias?'

'Nada mal. E você?'

'Uma maravilha. Fui surfar com o Makka lá em Lorne, paquerar umas garotas.'

Eu achava difícil olhar para ele e comecei a identificar os meninos de Kostka. Os rostos que eu não conhecia, os meninos de Burke Hall, eram diferentes dos nossos. Parecia haver muitos mais italianos e gregos.

'Você está na turma A, com Latim e essas coisas?' Damien perguntou. Eu assenti. 'Pobre coitado. Eu estou na turma D. Deve ser bem fácil. Não sei se vou aguentar, mas...'

Makka chegou. Ele estava sempre bronzeado porque passava os verões em Lorne, os invernos em Falls Creek e as férias de setembro em Surfers Paradise. Seu cabelo comprido era eternamente loiro. Sua voz era rouca, embora talvez fosse só uma pose. Talvez ele quisesse que acreditássemos que ele era o Rod Stewart.

'Estava me perguntando onde você tinha se metido, Dame.' Ele te chama de Dame? Não soa bem. Ele sussurrou algo para Damien, que apertou meu braço enquanto se afastavam juntos.

Grant e Sandilands apareceram. De repente, Quin estava nas minhas costas gritando, 'Jezza,' fingindo pegar uma bola espetacular. Fomos nos empurrando pela multidão até os quadros de avisos. Joe, o gênio, nos viu e gritou por cima das cabeças dos outros.

'Bem-vindos, camaradas.'

Do outro lado da confusão, notei um garoto. Eu vi o corpo de um homem com um rosto aberto e gentil: tanta suavidade dentro daquela masculinidade. Ele era bonito, calmo. Eu estava hipnotizado.

Ele não estava falando, apenas ouvindo seus amigos com as mãos nos bolsos, sorrindo. O que há no rosto dele? Ele percebeu que eu estava olhando para ele e me cumprimentou com um levantar de sobrancelhas. Eu retribuí o gesto e depois olhei para longe, fingindo que algo havia chamado minha atenção. Mas continuei lançando olhares. São os cílios dele. Eles são incríveis.

Um garoto robusto, com cabelo longo e desgrenhado e bochechas rosadas, reconheceu Grant de um jogo de futebol no inverno anterior e apresentou seu grupo. 'Patrick Barrett, Vince Alliotti, Neil Garren, John Caleo.' Seu nome é John, John Caleo. Italiano, isso explica os cílios.

Grant nos apresentou. 'Lex Sandilands, Bernard Quin, Tim Conigrave.' Apertamos as mãos. Eu não consegui me forçar a apertar a mão de John Caleo.

'Você era o ruck rover, não era?' Grant perguntou a John. Ele sorriu e assentiu.

'Capitão, na verdade,' alguém interrompeu, 'mas não conte isso pra ele. A cabeça dele já é grande o suficiente.' Capitão do time de futebol da escola primária. Como? 'Vocês jogam futebol?' Ficamos incertos sobre como responder.

'Primeiro time de basquete,' eu disse com a maior dignidade que consegui reunir.

O sino para a assembleia tocou. Tentei acompanhar nossos novos amigos, queria observá-lo. Mesmo de costas, ele era calmo e bonito.

De repente, estávamos no salão, oitocentos meninos em uniformes cinza com listras vermelhas e pretas ao redor das golas, punhos e topos das meias. No palco, havia seis meninos com blazers esportivos que se revelaram ser os monitores, vários jesuítas e professores leigos, um mestre de esportes de agasalho esportivo e uma mulher de meia-idade – a bibliotecária.

O diretor, Padre Brennan, falou sobre a importância de levar uma vida em Cristo, de lealdade à escola, de trabalho árduo e respeito por aqueles que desejavam nos transmitir seu conhecimento. 'E quando vocês estiverem de uniforme,' ele nos lembrou, 'vocês representam a escola.' Rezamos, agradecendo aos nossos pais, nossos professores, nossos líderes religiosos e ao Pai por esta oportunidade de melhorar a nós mesmos.

Fomos enviados para nossas salas de aula. Será que ele vai estar na minha turma? Ele parou no armário e pegou uma pasta, um estojo xadrez e alguns livros. Passei por ele, como se fosse por acaso. Peguei minha mochila, ainda cheia de livros, do topo dos armários e fui para a aula de matemática. Escolhi uma mesa e fiquei de olho na porta.

Um garoto italiano, com cabelo preto bem cortado e brilhante, cheio de estilo, entrou pela porta. Ele era muito sofisticado e elegante, mas não era o garoto que eu estava esperando. Então ele entrou, o garoto com os cílios incríveis, e se sentou algumas mesas à minha frente. John Caleo estava na turma A.


'Se você tem um problema de população que causa dificuldades, como as doenças que vêm com a superlotação, o que você pode fazer?' O Padre Kelly estava dando uma de suas famosas palestras sobre ajuda à Índia na instrução religiosa de quinta-feira de manhã.

'Não poderia fazer uma exceção quanto à contracepção?' sugeriu Biscuit, assim chamado porque faltava um para completar o pacote.

'Existem outros métodos, métodos reconhecidos pela Igreja.'

'O método do ritmo,' ofereceu Neil, um dos treze filhos.

'Isso também pode ter seus problemas.' Distraído por dois garotos conversando, o Padre Kelly os observou até que percebessem seu olhar. Um deles era John Caleo. 'Talvez você tenha alguma percepção sobre esse dilema?'

A turma explodiu em provocações e aplausos. O Padre Kelly ficou surpreso com a reação. 'É o John Caleo, Padre,' Patrick Barrett, um dos agitadores, estava agitando. 'Ele nunca se mete em encrenca.'

'Mas merece?'

'Não. Ele nunca faz nada de errado.'

'Um Caxias?' Eu podia ver que John estava corando.

'Não, ele é um bom sujeito.'

O Padre Kelly suspirou. 'John, parece que você tem muito respeito entre seus colegas e é por isso que estão te provocando.' Ele levantou as sobrancelhas. 'Nunca vou entender vocês. Voltemos ao nosso dilema.'

Patrick se inclinou e deu a John um soco amigável no braço. John parecia bastante abalado. Eu queria abraçá-lo. Apenas segurá-lo.


Segure-o (Holding The Man) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora