II

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Uma Úlcera, uma Dor de Cabeça

Eu estava sentado na varanda, aproveitando um cigarro. John apareceu na porta e parou imediatamente. "O que você está fazendo? Você acabou de ter pneumonia. Não quer melhorar?"

"Claro que quero."

"Então, por que está comendo McDonald's, Tim Tams e fumando?" Ele entrou irritado, e eu o segui. "Isso está me estressando demais. Acho que estou ficando com uma úlcera."

Naquela noite, durante o jantar, John teve dificuldade em comer. Cada garfada fazia com que ele fizesse uma careta, enquanto a comida descia para o estômago. O antiácido não parecia trazer alívio. John decidiu procurar o médico. Será que eu causei isso? A médica achava que provavelmente era uma úlcera e queria fazer uma endoscopia para garantir que não fosse algo mais sério. Tipo o quê?

"Citomegalovírus ou linfoma. Mas provavelmente é só uma úlcera causada pelo refluxo gástrico." Ela deu um encaminhamento a John. "Ligue para o assistente dele e marque um horário."

A sala de espera da clínica era o corredor lateral de uma casa térrea coberta com um telhado de plástico ondulado e transparente. Sentamos junto à parede. John recostou a cabeça e lamentou: "Estou morrendo de fome." Ele estava em jejum desde a meia-noite do dia anterior. "Meu estômago está doendo."

Naquele momento, o médico apareceu e nos chamou para o consultório. "Vamos dar uma olhada, e se houver algo suspeito, faremos uma biópsia. Depois disso, você vai para a sala de recuperação por uns trinta minutos."

Uma hora depois, John saiu com uma expressão de contentamento. Estava claramente aproveitando os efeitos da anestesia. A recepcionista apareceu com um copo de água. "Quero que tome um gole para ver se consegue engolir direito."

John fez isso e disse: "Tranquilo."

O médico voltou. "Vocês gostariam de entrar?"

Vai ficar tudo bem. Vai ser só uma úlcera comum. Eu estava com medo de pensar o contrário, de que pudesse ser linfoma.

"É definitivamente uma úlcera, e eu arriscaria dizer que é linfoma." Ele fez uma pausa para nos dar tempo de assimilar a informação. "Não vamos nos preocupar ainda. Quero que o Sam Milliken, o hematologista de St. V, analise as biópsias."

"Espero que dê tudo certo," ele disse gentilmente, apertando nossas mãos. Fiquei impressionado com o calor da mão dele.

Dias depois, John e eu estávamos no consultório de Sam, no novo Centro Médico de St. Vincent. "Lamento dizer, mas não há boas notícias. É um linfoma não Hodgkin." Ele esperou nossa reação. "É um câncer agressivo e, provavelmente, já está disseminado. Também devo dizer que as chances de sobrevivência além de seis meses são mínimas, talvez 10%. E, com a quimioterapia, as chances não melhoram muito."

Sam examinou John na maca, olhando a boca, verificando os reflexos e apalpando as glândulas. "A glândula deste lado do seu pescoço está inchada. Pode ser uma metástase. Você tem tido suores ou febres?"

Nas últimas noites, John levantava duas ou três vezes para trocar a camiseta, que ficava grudada no corpo, como se tivesse levado um balde de água. "A gente devia te inscrever num concurso de camiseta molhada," eu disse a ele certa noite. Ele até começou a deixar uma pilha de camisetas limpas e uma toalha na mesa de cabeceira.

"A radioterapia só é útil para tumores isolados. Não atinge células que estão migrando. Mas temos a opção de fazer quimioterapia uma vez por mês durante três meses. Temos um novo protocolo que parece estar funcionando bem e deve trazer algum alívio." Não acredito no que estou ouvindo. John. Câncer. Seis meses. Por que não estou sentindo nada?

Segure-o (Holding The Man) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora