Capítulo ONZE - I

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Checando a realidade

De volta a Sydney, eu estava na sala lendo sobre Neneh Cherry na The Face. John me chamou do quarto. Corri até ele.

"Precisamos pegar as roupas de críquete! O outro time vai chegar a qualquer minuto."

"John, de que time você está falando?"

"O time de críquete da Austrália. Eles vêm no navio de abastecimento."

"Onde estamos?"

"Na Ilha Christmas." Devo entrar na onda dele ou tentar trazê-lo de volta à realidade?

"John, estamos em Rose Bay, em Sydney."

"E o time?" Ele franziu o rosto, preocupado.

"Não existe nenhum time." Ele tentou compreender o que estava acontecendo e começou a gemer baixinho.

"Está tudo bem, Johnny. Acho que devíamos ver um médico."

"Eu não estou doente."

"Eu preciso ir ao médico, e gostaria que você fosse comigo."

Liguei para Carole, tentando falar baixo para que John não ouvisse. "Estou levando o John para o hospital. Ele está completamente fora de si, alucinando. Temo que o linfoma possa ter atingido o cérebro dele."

"Chego aí o mais rápido que puder."

Levei John para a emergência. "Você não pode estacionar aqui, amigo."

"Estou só deixando meu amigo. Ele está muito doente."

"É estacionamento para ambulâncias, amigo. Torça para que eles não prendam seu carro."

Carole estava esperando na recepção. John teve que ser admitido: nome, endereço, quais medicamentos tomava? Depois, a enfermeira nos levou até um cubículo.

Tony, o residente, apareceu. "Oi, John, o que está acontecendo com você?" John parecia confuso.

"Ele tem agido de forma estranha, dormindo com os olhos meio abertos, falando dormindo, e hoje de manhã estava alucinando." Tony disse que fariam alguns exames e saiu apressado. Falei para Carole que precisava mover o carro e percebi que teria que ir até em casa buscar as coisas de John.

O apartamento parecia estranho, como se ninguém estivesse morando lá há algum tempo. Peguei alguns shorts para dormir, camisetas e os chinelos de John. Ele sempre colocava seus chinelos de veludo cotelê marrom quando chegava do trabalho, para diversão de seus colegas de apartamento ao longo dos anos. Coloquei tudo em uma bolsa de ginástica e estava prestes a sair quando o telefone tocou. Era Carole.

"Você não vai acreditar. Ele está com diabetes. Fizeram um teste de glicose e o nível estava em 42. Parece que ele já devia estar em coma."

Eu ri. "Não acredito. Desculpe por rir."

No hospital, John estava sentado na cama, sorrindo.

"Johnny, você voltou." Ele não entendeu. "Você estava longe, na Ilha Christmas."

"Eu meio que lembro."

Tony apareceu de novo. Perguntei como aquilo poderia ter acontecido.

"Provavelmente foi o Pentamadina que usaram para o PCP dele. Estamos preocupados com a perda de peso. Achamos que ele deveria fazer uma alimentação por sonda naso-gástrica, mas terá que ficar aqui para monitorarmos o açúcar no sangue. Conseguimos uma cama no quarto."

John reclamava de dor ao comer, assim como quando teve linfoma. Sam sugeriu uma nova endoscopia, que mostrou uma úlcera no mesmo lugar de antes. Quimioterapia já não era viável, mas poderiam tentar radioterapia. O radiologista conversou conosco depois de ver os resultados da biópsia e disse que poderia começar o tratamento no início de janeiro. "Enquanto isso, precisamos fazer mais exames para determinar o quanto se espalhou."

"Nós vamos para Melbourne no Natal."

"Começaremos quando vocês voltarem."

Naquela noite, sonhei que o diabo em pessoa tinha mordido o estômago de John.

Segure-o (Holding The Man) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora