Capítulo 6 - Baile de Inverno

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Duas semanas haviam se passado desde que tomei a decisão de ficar no castelo com Kirian, a vida aqui era uma mistura de fascínio e limitação, onde cada passo era guiado por regras miticulosas e silenciosas do lugar; desde que fiz minha escolha, percebi que minha liberdade era um conceito frágil dentro dessas paredes. Eu não podia circular livremente pelos corredores sombrios ou explorar os salões cheios de mistérios que ecoavam com o peso da história. Minha existência parecia confinada ao jardim verdejante, onde a luz do sol derramava-se sobre a grama macia e as flores perfumadas, e ao meu quarto, um espaço austero e ao mesmo tempo acolhedor que começava a se tornar familiar, embora fosse sombrio como qualquer outra parte do castelo. Talvez eu estivesse me acostumando com essa realidade, ainda assim, mesmo dentro desses limites, havia algo que me mantinha aqui. Talvez fosse a curiosidade insaciável sobre Kirian e suas origens, ou a atração estranha que sentia por ele desde o momento em que o vi pela primeira vez, ou talvez pela ameaça a minha famíla por causa do cultivo do Auréolium. 

Às vezes, durante minhas caminhadas solitárias pelo jardim, podia sentir seus olhos sobre mim, observando cada movimento com uma vigilância opressiva. Nesses momentos, eu me perguntava o que ele escondia por trás daquela fachada impenetrável, em seus pensamentos mais profundos. Havia algo de tristeza nos seus olhos quando ele pensava que eu não estava olhando, como se carregasse um fardo pesado que o tempo não conseguia apagar completamente. Era como se o castelo e suas paredes de pedra guardassem segredos que ele protegia com zelo feroz. Minha mente voltava frequentemente para Dorian, o caçador determinado que havia invadido meu mundo com promessas de liberdade e perigo. Eu me perguntava se ele ainda rondava os arredores do castelo, esperando por uma oportunidade para resgatar-me ou simplesmente para confrontar Kirian mais uma vez. Dorian sabia desde o início que Kirian era um vampiro, não conseguia tirar de minha mente que eles já se conheciam. Como se conheceram? Quando se conheceram? Eram tantas perguntas pairando sobre meus pensamentos.

Enquanto isso, eu passava meus dias observando as mudanças sutis no castelo e em mim mesma. A cada noite, o crepúsculo tingia o céu de cores profundas, um lembrete das escolhas que fiz e das escolhas que ainda enfrentaria. Eu me perguntava se algum dia conseguiria desvendar os mistérios que envolviam Kirian e se ele um dia permitiria que eu explorasse além dos limites estabelecidos. Assim, entre as paredes silenciosas do castelo e os jardins tranquilos, minha vida seguia adiante, imersa em um equilíbrio frágil entre a falsa segurança que Kirian oferecia e a curiosidade que ameaçava consumir-me por completo.

À medida que as semanas se transformavam em um ciclo de dias tranquilos e noites misteriosas no castelo de Kirian, o sol finalmente alcançou seu ponto mais baixo no horizonte, marcando o início do solstício de inverno. Com ele, veio uma agitação incomum no ar, uma energia que parecia contagiar cada canto do castelo. Os preparativos para o Baile de Inverno estavam em pleno andamento, uma antiga tradição celebrada pelo povoado do Vale da Lua Sombria. Era um evento que eu conhecia bem, desde criança, mas nunca havia tido a oportunidade de estar em um, então tudo que eu conhecia sobre o Baile de Inverno eram apenas de histórias vagas contadas por moradores locais que, nas raras ocasiões em que se aventuravam até o castelo, mencionavam danças elegantes, músicas melancólicas e uma atmosfera carregada de mistério. Eu ainda me lembrava das palavras sussurradas pelos aldeões sobre os bailes passados, mencionando figuras enigmáticas que apareciam apenas nas sombras, dançando ao som de melodias que ecoavam através das paredes de pedra. Havia algo de mágico e assustador ao mesmo tempo sobre o Baile de Inverno, uma festa que parecia carregar consigo segredos ancestrais e promessas de revelações imprevistas.

Enquanto o castelo se preparava para receber os convidados, eu me encontrava dividida entre a ansiedade e a curiosidade. Kirian, apesar de sua natureza reservada, parecia ter um interesse particular no evento, supervisionando pessoalmente os detalhes da decoração e da organização. Ele falava pouco sobre o baile em si, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade que eu raramente via. No entanto, eu permanecia confinada ao meu papel de observadora, limitada ao jardim e aos aposentos que agora começavam a se tornar meu refúgio solitário. 

Sombras da Noite: Laços de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora