Capítulo|07

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ERA EVIDENTE que Leona ainda não estava acostumada com a sua nova família. Por mais que Hazel tentasse integrá-la nas conversas, a garota ainda se sentia como uma peça fora do lugar.

— Depois a Emilly e eu descobrimos que era mentira, papai. — Scarlet, sempre animada, contava mais uma de suas aventuras com as amigas enquanto a família estava reunida na mesa de jantar.

— E como foi sua primeira semana na escola? — perguntou Hazel, tentando puxar um assunto que pudesse ajudar Leona a se soltar.

A garota, com os olhos fixos nos vegetais no prato, respondeu com um murmúrio:

— Foi boa.

— Fez algum amigo? — Hazel parecia curiosa pra saber mais.

— Não. — A resposta veio baixa.

— Mamãe, eu não quero esses brócolis no meu prato! — Scarlet interrompeu, fazendo um bico e empurrou os vegetais para o lado.

— São brócolis meu bem e você precisa deles para ser saudável. — A mãe explicou, enquanto a pequena já os separava do resto da comida. Depois voltou sua atenção para a enteada, com um sorriso acolhedor.

— Tenho certeza que você vai se dar bem, Leona. Seus colegas de classe devem estar interessados em conhecê-la. — Declarou.

O problema de Leona nem era em fazer amigos, ela apenas desejava ter continuado a morar em Virgínia, onde ela não precisaria se sentir um peixe fora d'água.

— Duvido que alguém se interesse por uma pessoa tão reservada. — Danilo, com seu habitual sarcasmo, interrompeu com o comentário mordaz.

— Danilo! — Hazel lançou um olhar  repreensivo.

— O quê? Só estou sendo realista — ele retrucou, cruzando os braços.

Leona não deixava de concordar com aquilo. Ela era muito introvertida e precisava de um tempo para se acostumar.

Mas o que a incomodava era mudança do Pai. Lembrava-se vividamente dos dias em que moravam juntos na Virgínia, quando Danilo era uma presença calorosa em sua vida. Ele era o pai amoroso que a ajudava nos deveres de casa, que a levava para passeios no parque e que a fazia sentir-se segura. Porém, tudo mudara abruptamente após a separação dos pais.

O afeto que antes transbordava em gestos de carinho e palavras de encorajamento agora se tornara escasso, substituído por um distanciamento emocional que Leona não conseguia compreender. Cada olhar distante, cada comentário ácido eram como facadas em seu coração já fragilizado pela ausência da mãe.

Ela se questionava repetidamente o porquê dessa mudança. O que havia acontecido para que o pai se tornasse tão indiferente à sua presença? Será que era culpa dela, de sua timidez, de sua dificuldade em se encaixar no mundo que ele parecia tão à vontade? Essas perguntas ecoavam em sua mente durante as noites solitárias em seu quarto.

Leona desejava desesperadamente uma explicação, uma razão que justificasse o distanciamento de seu pai. Queria entender por que agora se sentia como uma estranha em sua própria casa, como se as memórias felizes que compartilharam juntos tivessem se perdido em algum lugar ao longo do caminho.

Enquanto ela se debruçava sobre esses pensamentos, uma parte dela ainda guardava a esperança frágil de que um dia as coisas voltassem a ser como antes.

— Mamãe, você também demorou para fazer amigos na escola? — Scarlet perguntou, mudando o foco.

— Sim, um pouco — Hazel respondeu, com um tom mais suave. — Mas com o tempo, a gente acaba encontrando pessoas com quem se dá bem. — Ela voltou seu olhar pra Leona. — Eu tenho certeza que você vai criar laços na escola ou lá no clube. — declarou.

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