— Você é maluca ou idiota? — Pergunta o mascarado de braços cruzados à minha frente. Seu tom de voz parecia realmente curioso, e talvez estivesse mesmo, afinal, quem é o doido que morde a própria boca até sangrar do nada?
Respirei fundo quando o sangramento diminuiu a ponto de quase parar e encostei-me na parede branca daquele corredor. Ele não devia estar tão surpreso com maluquices... Esse lugar realmente parece um hospício.
— Só estava testando. — Disse eu, simplesmente.
— Testando se conseguia se machucar? — Mais uma vez, o tom de curiosidade estava presente em sua voz. Ele parecia realmente querer entender o que se passava na minha cabeça, e quando assenti à pergunta dele, Rain bufou, como se tivesse falhado. — Por quê?
— Queria ver se era um sonho. — Dei de ombros. — Isso aqui... Nada é real. Eu só preciso me convencer disso e voltar para onde eu vim. Seja lá onde for. — Abaixei meu olhar para os meus pés. Eles eram levemente gordinhos e pequenos, bem... nem tão pequenos. Parece o pé de alguém que calça 37.
— Olha, sei que isso é difícil de acreditar, mas é real. Você não vai voltar para a sua casa mordendo a boca ou enfiando uma faca na barriga. — Respirou fundo e se encostou na parede oposta do corredor, de frente para mim. — É assustador e confuso, mas você precisa confiar em mim. Esse lugar é perigoso para qualquer pessoa que estiver nele, principalmente mulheres. — Levantei os olhos e o vi cruzar os braços novamente. — Vou te explicar um pouco sobre o que você veio fazer aqui e como vai embora.
— Então, realmente tem um jeito de ir embora?
— Sim, mas vai demorar. — Disse de forma impaciente. Pelo visto, ele quer mesmo fazer isso rápido. — Estamos no Império Marsala, que foi erguido a partir de uma traição do Conde Dian do Império Firjano. Ele se revoltou com as práticas egoístas e abusivas do Imperador de lá na época e resolveu tomar uma terra dele que era esquecida pelo governo e começar seu próprio Império. Então, junto ao povo carente daquele lugar, eles iniciaram uma revolução. É claro que os soldados Firjanos atacaram de volta e eram muito mais fortes que os poucos soldados e voluntários de Dian, então, junto a um grupo de Oradores, eles recitaram uma reza antiga que pretendia trazer os mortos a vida, mas por algum erro, eles acabaram invocando alguém de outro mundo para cá. Obviamente, o desespero se instalou, afinal, queriam mais do que uma só pessoa, mas resolveram contornar a situação treinando aquele ser humano que era incrivelmente forte, inteligente e resistente, e foi ai, que o primeiro General de Combate ganhou vida.
Ele disse tudo de uma vez e eu quase perdi o fôlego. Se ele continuar assim, não sei se conseguirei acompanhar até o final!
É uma história louca que, se eu não tivesse passado alguns minutos nua na frente de um monte de homens falando loucura, eu não acreditaria. Na verdade, ainda posso dizer que é loucura, mas Rain está tão relaxado e convicto que parece verdade, além de ele recitar isso como se estivesse encurtando a história, isso quer dizer que ele sabe ela completa e de cor, certo? Ou isso é só minha mente buscando uma desculpa?
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Generais de Combate
FantasíaMikaela não se lembra de como foi para dentro daquela fonte de água, nua e cercada por homens desconhecidos. Ou melhor... Ela não se lembra de nada. Nem mesmo de seu nome ou aparência. Como se tivesse acabado de nascer de novo, o mundo a sua volta é...