Mikaela não se lembra de como foi para dentro daquela fonte de água, nua e cercada por homens desconhecidos.
Ou melhor... Ela não se lembra de nada. Nem mesmo de seu nome ou aparência.
Como se tivesse acabado de nascer de novo, o mundo a sua volta é...
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O ar gelado estava fazendo meu nariz arder mais que o normal. Meus dedos das mãos estavam tão frios que aquela parte oval e esbranquiçada da minha unha estava levemente azulada. Nem mesmo minhas roupas que — apesar de se parecerem com as que eu sempre uso para os treinos — são de um tecido mais quente estão me aquecendo de maneira decente. Sinceramente, não sei como ainda não congelei.
O Sol estava começando a nascer no horizonte e Rain parecia impaciente enquanto batia freneticamente o pé esquerdo no chão, bem na direção do olho do Lobo.
Tristan está atrasado e eu estou com uma enorme vontade de provocar o Orador mandando ele ir buscá-lo como faz comigo, mas não sei se vai ser legal fazer uma piadinha nesse momento em que ele está quase soltando fogo pelo corpo.
Mas ainda assim, acho que falar talvez me faça esquecer do frio, então...
— Escuta, Rain... — Comecei e ele virou o rosto brevemente em minha direção, e depois o voltou para a porta no fundo da arena. — Posso perguntar uma coisa?
— Não. — Respondeu de imediato.
— Mas... — Olhei incrédula para ele, porém o homem pareceu nem notar. A essa altura do campeonato, não sei se é tão legal Tristan aparecer por aqui. Talvez Rain o mate apenas com os olhos quando pisar nessa arena. — Mas o Rei falou que você precisava tomar conta de mim. Isso inclui responder minhas perguntas, não?
— É claro que não! De onde você tirou isso?
— Ué, respondendo minhas perguntas você contribui para a minha não crise de ansiedade de madrugada. Ou seja, meu bem-estar. — Aproximei-me dele e encostei meu corpo em seu braço. Senti ele dar um leve sobressalto e tive vontade de rir, mas me contive.
Seu corpo, diferente do meu trêmulo, estava quentinho e eu imaginei ser por conta de sua capa que era igual a que eu usava, mas de um tecido diferente. Pode ter sido impressão minha, mas enquanto estava de olhos fechados, aproveitando o calor do corpo daquele brutamontes e esperando ele ficar um pouquinho mais calmo para eu começar meu interrogatório, senti os músculos dele relaxarem e, depois de alguns minutos, seu braço forte puxar-me para mais perto.
Quando abri os olhos, meu corpo se encontrava dentro de sua enorme capa, dividindo o espaço com ele que ainda segurava minha cintura e olhava para a porta fixamente.
A sensação era de estar dentro de um casulo bem macio e quentinho, junto a uma lareira que com um simples toque, esquentava todo meu corpo. Esta lareira era Rain.
— Estamos no início do outono, mas como nosso Reino fica em uma região um pouco alta do Império, as temperaturas aqui tendem a ser baixas o ano todo e piores ainda no inverno. Os dias de outono serão frios, então tente usar roupas mais quentes senão acabaremos em situações como estas mais vezes.
— Não tenho roupas mais quentes e o velhote não quer que façam roupas para mim. — Resmunguei de olhos fechados. Sinceramente, mesmo não gostando de Rain, eu poderia ficar nessa mesma posição com ele por muito tempo. — E situações como esta não são nada mal.
