7- Corrida entre o passado

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Hei, olá! Boa leitura amores ♥️

Dois dias depois do ocorrido no estacionamento dos estúdios de Daniel, Elídio ainda não tinha conseguido parar de remoer aquela conversa breve que teve com Bizzocchi. Ele tinha sido sincero, mas algo no olhar entristecido daquele homem mexeu consigo.

O jeito com que sugeriu que fossem ao menos amigos não soou realmente simpático. Eles nem tinham qualquer método de contato, afinal. A única coisa que tinham em comum era a amizade de Daniel.

Elídio não desejava ser uma pessoa amarga, por isso esse acontecimento ainda rondava sua mente negativamente. Era difícil conciliar, em sua mente confusa, o que ele era, como quer ser e como acaba agindo às vezes.

Precisava pôr os pensamentos no lugar. Ainda era cedo, e o clima daquela manhã de sábado estava ameno. Bom o suficiente para sair um pouco e organizar a mente.

- Eleonor? - chamou ele, estando na sala de estar. Não demorou para que a menina aparecesse na porta do próprio quarto, pondo a cabeça para fora para ouvir o que o pai tinha a dizer - Vou sair para correr. Espairecer um pouquinho. Quer ir junto?

- Acho que não - a garota respondeu. Hesitou, mordendo os lábios levemente. Conhecia os hábitos do pai, e sabia que ele geralmente saia para correr porque algo o incomodava e ele estava buscando um tempo para melhorar emocionalmente. Eles dois corriam juntos aos fins de tarde algumas vezes por semana, mas quando Elídio decidia espontaneamente, a adolescente já sabia o motivo. Lembrando do que o padrinho tinha dito a ela na quinta-feira, sobre Anderson estar interessado no seu pai, ela inevitavelmente acabou se preocupando - Você tá bem, pai?

- Sim, não precisa se preocupar - ele disse, fazendo um carinho leve nos cabelos da filha ao passar por ela quando seguia para seu próprio quarto, onde colocaria uma roupa adequada para praticar o esporte - Gosto de correr para espairecer um pouquinho, você sabe.

- Sei, sim... - assistiu o pai se afastar, antes dela mesma se recolher para o próprio quarto. No fim das contas, era só eles dois juntos, e sempre se preocupava muito com o pai. Sabia dos problemas emocionais que ele já havia passado, e seu maior medo era que ele passasse por algo parecido mais uma vez. E pior, que ela própria não soubesse como ajudá-lo.

Elídio trocou o pijama de calça xadrez e regata branca por suas roupas de corrida, a pantufa pelo tênis esportivo. Pegou os fones de ouvido.

- Volto em tempo de preparar o almoço - avisou para a filha, já pronto para sair.

O caminho para fora do apartamento o fez pensar. O tempo no elevador realmente era filosófico, e estar com a própria mente geralmente perigoso.

Era inevitável, às vezes, relembrar do porquê tinha começado com aquele hábito.

Foi na época em que Eleonor já tinha pouco mais que um aninho, mas Elídio ainda se via preso naquele limbo emocional. Aquele véu depressivo ainda tomava conta de sua vida, e ele não tinha foco para cuidar de si próprio.

Com Priscila tendo o abandonado sem nunca mais aparecer, nem mesmo para ter notícias da filha, tudo que Elídio conseguia fazer era viver por Eleonor. Estava obcecado, pois sua mente o dizia que se não dedicasse cem por cento do seu tempo à garotinha, ela sumiria de sua vida também. Assim como Mateus e assim como Priscila.

Elídio não se cuidava mais, e chegara ao ponto de não conseguir se olhar no espelho sem odiar a si mesmo. Tinha olheiras profundas e escuras, e o cabelo longo estava descuidado, sempre preso por estar oleoso e sem corte há muito tempo. Tinha ganhado peso, pois até mesmo seu amor pela culinária parecia ter sido arrancado de sua vida, e ele sobrevivia de comida completamente industrializada e nada saudável para si mesmo.

 A física do amor ♪ (anidio • barbixas!)Onde histórias criam vida. Descubra agora