"Querido Rolf
O Estados Unidos segue sendo uma nação de palhaços, e eu vivo com dois deles. É calor demais, e faz calor até de noite, nesse exato momento a previsão do tempo menciona 28° graus. Como estão as coisas aí em Berlim? Por favor entrem em contato, não sei se aguento esse exílio sem a ajuda de um amigo, ou seja lá o que nós dois tenhamos sido. Um beijo.
Ass: Lilian Weinberg."
A noite chega no Vale, e as luzes da minha casa se acendem parcialmente, criando cantos escuros, sombras e soturnidade pelos cantos. Descobri somente hoje que John é meu vizinho de quarto, porque é impossível que Laura conseguisse passar mais de três horas ouvindo heavy metal no último volume.
Observo minha letra nos papéis que escrevo. Eu sabia que era estúpido, mas eu precisava tentar, não acreditava que comigo fosse acontecer o que aconteceu com todos que fizeram parte do trio Jessy, Rolf e Werner. Mas antes que eu pudesse continuar nisso, o silêncio repentino no quarto vizinho me fez erguer a cabeça, antes completamente mergulhada no enredo das cartas.
John desligou seu som alto de repente, e os segundos de silêncio me permitiram ouvir o barulho de um motor parando na porta de casa. Eu me levanto e engatinho pela cama até alcançar a janela, que agora se encontra fechada. Vejo o relance dos faróis de milha, e sei que meu pai retornou, e John não quer causar brigas.
Solto um suspiro, e algo me diz para sair do quarto. Eu engatinho até a beira da cama e desço no carpete, giro a maçaneta da porta e coloco a cabeça para fora do cômodo. O corredor está escuro e mal iluminado, provavelmente porque o mão de vaca que chamo de pai quer economizar nas contas.
De repente, ouço um assovio e um arrepio de susto me atinge. Olho para o lado, e é Lawrence quem está parado na porta do próprio quarto.
— Não saia, espera ele entrar no banho — ele adverte, também com a cabeça para fora do quarto. Alterno meu olhar entre a escadaria no fim do corredor e Lawrence de novo, e logo o som da voz estridente de meu pai se faz presente no andar de baixo, vociferando ordens roucas demais para que eu entenda o que diz.
— Como eu vou saber? — pergunto num sussurro.
— Cola o ouvido na porta, vai ouvir os passos dele, mas nunca cruze com ele depois do trabalho — ele diz com um aceno de cabeça e recua, desaparecendo de novo dentro do próprio quarto.
Eu decido recuar também, e faço exatamente o que ele manda. Com meu ouvido na porta, leva algum tempinho, mas logo escuto a marcha lenta e pesada passando bem à minha frente por detrás da porta. Ele anda e bufa como um bicho grande, e aos poucos se afasta bem lentamente, quase como num filme de terror.
Ouço no fim de tudo, o bater violento de uma porta.
É a hora. Giro a maçaneta e pulo para fora do quarto. Desço as escadas num pico de pressa e energia, e quando chego até a sala de estar, percebo que Lawrence demorou um pouco mais para descer.
Quando olho para o topo da escadaria, vejo seus all stars vermelhos, os jeans surrados, a camisa branca e a jaqueta preta. Trás na mão a faixa preta que costuma usar na testa, enrolada entre seus dedos.
Ele me vê ali sentada, a televisão desligada. Se aproxima vagaroso, me averiguando com calma.
— O que você vai fazer? — ele pergunta pondo as mãos no bolso do casaco de couro com um pequeno emblema amarelo de cobra no peito. Seus ombros ligeiramente relaxados enquanto ele permanece em pé ao meu lado.
— Assistir TV, talvez um filme — eu digo encarando o controle remoto entre os meus dedos, encolhendo minhas pernas sobre o estofado.
— Bom... A gente tem o vídeocassete e umas fitas de vídeo ali no armário do hack, mas eu vou adiantar que a maioria são minhas e meus filmes são radicais demais pra uma garota — ele diz, e eu ergo uma sobrancelha, lhe encarando de um jeito meio desafiador. John revira os olhos — É brincadeira, tá legal? Você tem cara de fã do Bruce Lee —
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- BULLETPROOF. (young johnny lawrence)
Fanfiction"Estive lá, fiz isso, vadiei por aí Eu estou me divertindo, não me deixe pra baixo Eu nunca vou deixar você Tirar meus pés do chão" Lawrence sempre foi um garotinho medíocre, e meio medroso, dizia bobagens e me perturbava, mas não tinha coragem de c...