Burning bridges.

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Os bancos de couro da Mercedes são agradáveis e macios, e as rodas correndo no asfalto me fazem ter uma sensação de relaxamento única, que só melhora a cada segundo em que fico mais distante do maldito clube Encino Oaks. Eu e Johnny estamos no banco de trás, enquanto meu pai dirige e Laura está no passageiro, um tanto quanto bêbada após os drinks que suas amigas ofereceram.

Meus olhos dão com a nuca enrugada de meu pai no banco da frente, vejo os olhos dele através do retrovisor, distraídos com o trajeto. De forma muito discreta, lanço uma olhadela para Lawrence, calado e introvertido no banco, encarando a vida passar do lado de fora da janela naquele silêncio ensurdecedor.

Ele estava bonito naquele terno, alguma coisa em como a gola e a gravata adornavam seu pescoço, contrastando com o corte de cabelo ligeiramente infantil, o perfil alinhado e tão nobre. Eu o vejo cutucar a lã da calça entre o indicador e o polegar, repuxando a costura dos fios, e suspiro, sabendo que não podemos conversar agora. Sabendo que devemos usar menos palavras possíveis próximos ao meu pai.

O carro estaciona na entrada da garagem de nosso casarão, e a noite soturna faz a vizinhança parecer mais quieta do que nunca. Apenas os sons das portas abrindo e batendo, dos nossos sapatos na calçada. Johnny caminha devagar, e nós dois acabamos ficando para trás enquanto nossos pais entram em casa primeiro. É ele quem fecha a porta da entrada.

Eu quase retiro a pashmina branca dos ombros, mas antes que eu o faça sozinha, sinto as mãos de Lawrence repousando em meus ombros e escorregando o tecido macio para baixo, vagaroso, desnudando meus ombros num toque tão cheio de cuidado que faz com que eu me pergunte se ele realmente teve a intenção de fazer aquilo parecer uma carícia. Seus dedos longos escorregando em minhas escápulas ao retirar as mangas dos meus braços.

Eu giro nos calcanhares e vejo o garoto pendurar meu casaco no cabide do hall, ele me dá uma averiguada que resvela por toda a minha figura. Mergulhado na penumbra escurecida da entrada, apenas seus olhos claros reluzem.

Ele escorrega a mão até o próprio pescoço e afrouxa a gravata, e desabotoa um botão. Eu suspiro, e Lawrence passa por mim indo para a sala. Uma estranha energia transmissível atravessa meu corpo ao senti-lo passar ao meu lado, nossos ombros perigosamente próximos, mas não se tocando. Uma eletricidade quase imperceptível, mas suficiente para erguer meus pêlos dos braços.

Um perfume amadeirado suave pairando no ar entre nós. Algo que vicia meu olfato no segundo em que o percebo, e que sinto falta no instante em que saio do raio de projeção do aroma.

Eu respiro fundo, sei que preciso segui-lo, e o sigo, em passos coordenados, andando por entre os sofás da sala em passos iguais, subindo a escadaria para os quartos. Eu, acompanhando o ritmo despreocupado com o qual ele mexe os ombros à cada passada, mais alto que eu, rompendo o corredor vazio na noite numa solidão compartilhada. Meus olhos sempre observadores grudados à sua nuca branca.

Johnny para, seus sapatos estacionando em frente ao meu quarto antes de rotacionar em direção à minha porta. Eu paro no último degrau da escada, observando-o. Ele me percebe.

— Venha. Sei que não vai dormir — diz, sua mão se instalando na maçaneta e abrindo-a, indicando o interior com a palma aberta.

Eu olho para Lawrence, sentindo uma estranha proximidade entre nós, algo que faz com que ele sinta a liberdade para fazer isso. Me impor regras. Eu subo o último degrau, e caminho pelo corredor em direção à ele. Passo por sua figura sem coragem de olhar em seus olhos, entrando em meu próprio quarto com que vigiada pela sua responsabilidade.

Johnny entra, fechando a porta silenciosamente atrás de si. Eu me sento na beira da cama, ainda em meu vestido fofo, meio sem jeito e com um sentimento esquisito diante da troca tão sincera que tivemos horas atrás.

- BULLETPROOF.  (young johnny lawrence)Onde histórias criam vida. Descubra agora