Shore to shore.

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Acordo, sentindo o calor da Califórnia emanando dos meus poros em suor ardido e luminosidade. Resplandecendo em minha pele através dos vidros da janela e esquentando meus lençóis e cabelos de forma tão agoniante que se misturava ao meu sono, fazendo-me me sentir doente, quase febril. Não crio coragem para me mover dali, apesar da sensação calorenta e abafada do meio dia, e tudo o que faço é tentar encher os pulmões de ar para um bocejo.

Mas assim que o faço, sinto um peso, macio e curvo, sobrepondo-se em volta das minhas costelas, encobrindo minha barriga com posse. Ouço a brisa quente soprar em um suspiro profundo contra meu ouvido desprotegido, causando um arrepio violento em todo o meu corpo, como uma descarga elétrica. Meus olhos se arregalam.

Tenho um sobressalto, tento me desvencilhar, mas o aperto aumenta, puxando-me para si e mantendo-me contida. Eu o agarro, e o braço musculoso mantem-se ali, contraído e firme. Eu arfo. É calor demais, fisgadas me fazem querer pular.

— Johnny... — sussurro, remexo minhas pernas e percebo agora que estamos tão entrelaçados que nem mesmo nossos pés deixando de se tocar. Johnny me abraça, esgueirado entre as minhas curvas e com o nariz enfiado atrás de minha orelha. Meu corpo engalfinhado contra o seu num abraço pesado e possessivo, num sono que lhe toma a noção de espaço — Johnny! — eu repito, ofegante e nervosa, minhas unhas cravam-se em seu braço. Meu corpo inteiro aceso.

Ele resmunga, e dessa vez, seu rosto mergulha em meu pescoço, rente à nuca. Sinto seu peito contra minhas costas, subindo e descendo lento e intenso.

— Lawrence... — eu sussurro em choque, sem reação. Me sinto zonza e fraca, e uma força inversa me faz querer permanecer imóvel. Minhas mãos não tem força para afastar seu braço, e a maciez de seu corpo parece de repente confortável. Sirenes gritam em minha mente para sair dali, mas não posso. Simplesmente não posso.

Johnny funga baixinho, ouço seus lábios estalando como quem umedece a boca. Arrepios e mais arrepios desconsertantes. Lentamente ele parece estar recuperando a consciência. Ergue minimamente o rosto ao meu lado, vejo seus cabelos dourados bagunçados, os olhos embotados de sono e cansaço. O cenho franzido em confusão.

— Lilly... — ele balbucia confuso, contemplando seu próprio braço em volta da minha cintura — O que aconteceu? — seus olhos azuis pegos de surpresa, estáticos e sem saber como reagir. Vejo-o morder o lábio inferior com a pontinha dos dentes, seus dedos escorregando por minha barriga acidentalmente.

Uma sensação alucinante irrompe e me atravessa. Eu prendo a respiração, e vejo as pupilas de Johnny dilatarem, sua feição indecifrável, acesa de um jeito tão diferente e que ardia. E como ardia.

— Me solta, Johnny... Isso não é certo — eu murmuro, tentando novamente fazê-lo perceber e afastar seu toque tão íntimo, tomando meu espaço pessoal. Minhas mão tocando seu braço com urgência, arranhando os contornos das veias saltadas.

Ele a afasta num sobressalto, percebendo agora a situação em que estamos. Johnny escorrega para trás, e eu sinto nossos corpos se descolarem por completo. O calor se ameniza enquanto ele afunda na cama ao meu lado. Eu quase quero criar coragem para virar em sua direção, mas a coceira esquisita em minha pele e bochechas me faz questionar o que aconteceria se eu o fizesse.

— Porque fez isso? — pergunto, deitada de costas para ele ainda. Apenas sentindo o farfalhar dele se mexendo em minha cama.

— Eu não abracei você, Lilly. Você puxou o meu braço durante a noite — diz, e aquilo imediatamente me causa um alvoroço. Eu tento resistir, mas olho por cima do ombro, nervosa e cheia de descrédito para o que ele revela.

— Isso é mentira — sussurro com ênfase.

Johnny boceja desanimado.

— Porque eu mentiria? — indaga, e dessa vez nele não há nervosismo, nem mesmo estranhamento diante disto: estávamos dormindo juntos, agarrados um ao outro, seus braços prendendo-me em seu corpo e sua respiração aquecendo a lateral do meu rosto, infiltrada em meu pescoço e nuca, tão rente aos lábios. Nós dois, dormindo sozinhos, num sono tão profundo e confortável que nem mesmo conseguíamos abandonar o toque. Um enlaço tão repentino e, viciante.

— Porque eu nunca faria isso! — explodo, me virando totalmente para ele na cama.

Johnny tem as mãos atadas atrás da cabeça, encara o teto de um jeito contemplativo. Seu olhar é objetivo, e percebo que ele já está bem acordado para quem acabou de abrir os olhos.

— Também não me chamaria de Rolf, não é? — ele questiona erguendo uma sobrancelha, me direciona suas íris azuis.

Eu congelo, e me envergonho simultaneamente.

Johnny não tinha a menor possibilidade de saber quem era Rolf. Eu nunca lhe disse coisa alguma sobre a Alemanha, ou meus relacionamentos lá. Então, talvez não fosse de um todo mentira.

— Quem é esse cara? — ele questiona, com um tom de voz quase irritado, torcendo a boca.

Eu ofego nervosa, rejeitando o fato de que talvez eu tenha realmente puxado Johnny para esse abraço. Talvez eu realmente tenha desejado sua proximidade durante o sono, me confortando no toque dele enquanto sonhava com Rolf. Talvez eu até os tenha confundido. Meus olhos tem uma fina camada de vergonha pura, eu não consigo olhá-lo diretamente.

— Um amigo da Alemanha — sussurro, olhando para baixo.

Um curto silêncio se estabelece entre nós, mas Lawrence e seu tom de voz ressentido retornam, enquanto ele ergue o corpo e se senta na cama, apoiado em seus punhos atrás do corpo.

— Agora entendi porque estava tão desesperada por cartas.

Aquela frase me exaspera, eu fico na defensiva e logo me ponho a responder.

— Isso não é da sua conta.

Ele imediatamente toca meu joelho, num gesto apaziguador, como se dissesse que não teve a intenção de soar como uma afronta ou provocação, mesmo que tenha soado exatamente assim. Eu me calo, e interrompo meus protestos.

O toque me silencia, e sua voz se ameniza. Não sei como reagir.

A mão de Johnny é quente.

— É, eu sei — ele assegura, dando de ombros e desviando os olhos para a janela atrás de nós, demora alguns segundos, mas sua relutante atenção retorna para mim, quase que contrariado — Como foi a noite? —

— Foi... Boa — confesso, com um pouco de receio em confirmar que aquele provavelmente foi um dos sonos mais profundos que tive em anos. Finalmente crio coragem para olhá-lo novamente, tentando me desculpar pela acusação, ou pelo tom ridículo que usei.

— Sem pesadelos? — ele pergunta, gentil. Genuinamente curioso.

Eu assinto, meus dedos agarrados ao lençol ao lado do meu rosto.

— Sem pesadelos.

Johnny morde os lábios e assente, como se estivesse satisfeito. Sua mão, casualmente ainda instalada sobre meu joelho, sobre para a minha coxa, bem próxima a barra do meu vestido, deixa um leve aperto em minha pele e então se retira educadamente. Lawrence começa a se levantar.

— Que bom, porque não vou mais conseguir dormir nesse quarto.

- BULLETPROOF.  (young johnny lawrence)Onde histórias criam vida. Descubra agora