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"Querido diário
O azar do mundo inteiro recaiu sobre os meus ombros, e estou num maldito avião voltando para os Estados Unidos de primeira classe. Uma entrada triunfal no inferno.
Voltarei para aquela casa mesquinha, com meu pai miserável e rico e uma madrasta inadequada e meio desesperada. Sem mais pesquisas, sem mais vinho à tarde com Rolf, nem mais deutsches gespräch, apenas o retrocesso.
Lá, sou incapaz de me sentir adulta ou livre, sou incapaz de ser mundana, mentirosa, corajosa, forte ou confiante. Lá, sou apenas a menina que perdeu a mãe e agora chora por moedas pro papai.
Espero que ela não volte. Mas eu a sinto puxar meus calcanhares nesse exato momento.
Uma recaída extremamente ocidental."
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— Como é lá na Alemanha? — John questiona, enquanto deixa a minha última mala no carpete macio de meu novo quarto. Ele para em pé e coloca as mãos na cintura, me encarando diretamente.
Laura dispensou o mordomo do dever de me ajudar com a bagagem e obrigou o seu filho a fazer isso. John escondeu o próprio aborrecimento, e preferiu jogar minhas malas por cima dos ombros, carregando tudo de uma vez. Estavam pesadas, mas ele não parecia fazer um grande esforço para carregá-las por dois lances de escada. Agora estava aqui, plantado no meu quarto de paredes e decoração brancas, matando suas curiosidades geográficas.
Eu suspiro, e umedeço os lábios. Esse cômodo parece um quarto de hospital.
— Frio — dou de ombros, tentando manter a distância, ou no mínimo não deixá-lo se acostumar a conversar comigo.
— Só isso? — ele pega a toalha em seu o ombro e passa no rosto, bagunçando seus cabelos — Tipo, como são as gatas de lá? Ou os caras? Como é que é a parada, todo mundo fala alemão? —
Eu olho para Lawrence com desleixo e sarcasmo.
— Não sei, é a Alemanha, será? — ergo uma das sobrancelhas, pondo as mãos no bolso do casaco.
Ele faz um bico e mexe ligeiramente os ombros.
— Só porque é a Alemanha não significa que todos falam alemão. Outro dia eu fui num mercadinho, e o maluco no balcão não falava uma palavra de inglês, era um mexicano safado. E no Canadá eles falam duas línguas, e na Bélgica se falam três — ele diz, explicando com uma pontada de prepotência, e então se senta sobre a minha mala e continua me encarando — Olha, não pensa que pode me tratar como se eu fosse burro só porque você é filha do seu pai —
Eu frazo o cenho, pega meio de surpresa.
— Tratar você igual burro? — solto. Fico chocada que talvez Lawrence tenha se tornado o tipo de pessoa que leva qualquer coisa pro lado pessoal, mas então me recordo de nós dois nunca tivemos razão para sermos casualmente sarcásticos um com outro, a não ser que fosse realmente para ofender — Eu não... E-eu só achei a pergunta engraçada — digo tentando parecer amigável, ou no mínimo verdadeira.
Mas ele balança a cabeça em negação, e aquele ar perverso da infância retorna para o seu jeito de falar.
— Sabe o que eu acho engraçado? O seu cabelo parecendo um ninho de gavião. Nunca vi uma garota com coragem de sair na rua desse jeito, não uma que fosse americana.
Reviro os olhos e mordo os lábios, olho ao redor, tentando reunir toda a paciência do mundo. A crueldade dele não me afetava, muito menos seus comentários infantis, mas me irrita saber que eu nunca ouviria um comentário desse tipo em qualquer lugar que não fosse este, vindo da boca de John Lawrence.
— Você ainda é a mesma pessoa horrível que eu me lembro — falho na missão de ser paciente. Reviro os olhos, tratando-o com desprezo e desinteresse.
Mas eu não esperava pelo que viria.
Lawrence sempre foi um garotinho medíocre e meio medroso, dizia bobagens e me perturbava, mas não tinha coragem de chegar perto. Nunca teve. E jamais me tocou, nem quando éramos crianças bem pequenas.
Ele se levanta da mala, e caminha na minha direção. Tento não me intimidar com isso e ficar firme, mas noto que John não vai mesmo parar de andar. Eu dou um passo para trás, recuando, acabo esbarrando na cômoda e não consigo fazer mais nada. Ele só para quando coloca seus pés quase entre os meus, se elevando sobre mim. Seus olhos azuis engolindo os meus olhos castanhos, cheios de ressentimentos e acusações.
Congelo ali, com o nariz quase colidindo com o meu, o ar de suas respirações pesadas queimando minhas bochechas em lufadas quentes, o calor do corpo dele erradiando. Só então percebo a diferença de tamanho gritante entre nós, ele é mais alto, e sua compleição é mais robusta do que se pode notar de longe.
Eu me encolho diante dele, me sentindo encurralada em meu próprio quarto, sufocada com toda essa agressividade repentina.
— Definitivamente não, Lilian. E logo vai perceber isso — diz, num sussurro entre os dentes trincados, as pupilas esquadrinhando meu rosto sem sequer piscar — Devia ter ficado na Europa, seu pai ficaria mais feliz, mas você não foi aprovada na universidade, não é? —
Que inferno de dia. Que inferno de lugar, e este é só o primeiro dia. Meus olhos ardem, mas eu tento segurar, prendo minha respiração e meu coração retumba no peito, tão acelerado que ouço o som martelar em meus ouvidos. Começo à suar.
— Para, Lawrence — eu peço num resmungo, quase choramingando, lutando para manter a voz uniforme.
Ele põe suas mãos sobre a cômoda, uma de cada lado do meu corpo, me mantendo ainda mais presa ali.
— Lembra quando você me acusou de pegar a sua boneca e me fez apanhar feito um cachorro por isso? E magicamente, minutos depois, você conseguiu encontrar a porcaria da boneca embaixo da sua própria cama? — ele questiona, e agora a voz do próprio Lawrence parece tremular, mas é de puro rancor, e eu vejo o ódio ardendo em suas íris— Pode apostar, Weinberg, você nunca mais vai me fazer passar por nada parecido. Pode apostar mesmo! —
Eu estou prestes à chorar e implorar para que me deixe em paz. Para que me deixe sair dali. Minha pressão ameaça cair e eu sinto minhas pálpebras pesarem. Eu odeio esse lugar. Odeio estar aqui e ter que ouvir essas coisas, odeio a minha vida. Eu não fiz aquilo por mal, nunca imaginei que meu pai faria isso com John.
Eu suspiro, e meu nariz já começa a constipar e ficar vermelho.
Só então Lawrence se desvencilha, se afastando de mim num solavanco e indo em direção a porta do quarto, no percurso, ele chuta minha mala e a derruba com força. Ele sai como um vendaval, e deixa a porta bater com um barulho estrondoso atrás de si. Abandonando-me sozinha.
Imediatamente explodo num choro desesperado. Corro até a porta e viro a chave na maçaneta, trancando-me, e a esmurro logo em seguida com minhas mãos frágeis. Choro desesperada encostada contra a porta, pois sei que tudo isso é verdade.
Meu pai não me queria ali, e ninguém me queria nesta casa. Não consegui ser aprovada na universidade que sonhava, e acabei com todo o dinheiro que tinha tentando curar a dor em mim com bebidas, arte, pessoas idiotas e passeios inúteis em Berlim. Não me esforcei um único dia para alcançar meu objetivo. Não tenho o direito de estar chorando, e nem mesmo de exigir um bom tratamento. Sou uma piada completa, e tudo o que desejava agora era um abraço de minha mãe.
A única pessoa que tive.
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- BULLETPROOF. (young johnny lawrence)
Fanfiction"Estive lá, fiz isso, vadiei por aí Eu estou me divertindo, não me deixe pra baixo Eu nunca vou deixar você Tirar meus pés do chão" Lawrence sempre foi um garotinho medíocre, e meio medroso, dizia bobagens e me perturbava, mas não tinha coragem de c...