don't put me down.

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Eu acordo assustada pela manhã, sentindo-me ligeiramente zonza pela falta de nutrientes e energia. Estou suada, e há resquícios de lágrimas em meus olhos.

Pela milésima vez, tive pesadelos. Uma perseguição de carros, eu, presa na cadeirinha no banco de trás, chorando enquanto os faróis brilhantes invadiam o veículo onde eu estava. São flashes, terrores noturnos. Nenhuma lembrança é clara e tudo parece um rascunho. O único frame que me perturba ao ponto de querer gritar são os olhos de minha mãe, sentada no banco do motorista, olhando para trás. Não para mim, mas para o carro que nos perseguia na estrada molhada.

Os relâmpagos da tempestade de verão ecoam em minha cabeça, e eu fecho os olhos firmemente e tapo os ouvidos, tentando me livrar daquilo. Não consigo. Estão presos dentro da minha cabeça para sempre.

Talvez seja melhor passar por cima disto tudo e seguir em frente, pelo menos até o próximo pesadelo.

Saio do quarto, ainda vestida em meu pijama, e desço as escadas mas indo em direção a cozinha ao invés da mesa. Chego até lá, e vejo no relógio da parede que já passam das oito horas da manhã. É sábado, e eu estou genuinamente faminta.

Abro nossa enorme geladeira de duas portas pelas alças gélidas de aço, pegando um galão de leite e um único ovo. Deixo o galão na mesa e vou até o fogão, acendendo o fogo e pegando a frigideira e a espátula no suporte de teto da ilha da cozinha. Ponho a frigideira no fogo, despejo um pouco de óleo, quebro o ovo e começo a preparar meus ovos mexidos.

Enquanto esquenta, vou até o leite e me sirvo um copo grande, tomando tudo num único gole. De repente, ouço novamente os mesmos passos vívidos e apressados demais. John entra na cozinha, e parece se surpreender ao me ver ali. Eu não me admiro que ele frequente muito a cozinha, tendo em vista que tomar café na mesa significava ouvir humilhações logo depois de acordar.

Ele está do jeito que parece estar sempre: sem camisa, suado, a faixa preta em sua testa e uma toalhas no ombro musculoso.

— Bom dia — eu digo com desinteresse, desviando o olhar cansado para o ovo que remexo com a espátula.

Lawrence me encara ocupada no fogão, e então olha ao redor. Seja lá o que ele pretenda fazer aqui, vai ter que me esperar terminar meu ovo frito. Eu continuo sonolenta e concentrada no cheiro bom que exala do vapor da frigideira, parece mais gostoso do que realmente é.

De repente, aquela voz retorna, num tom estranho de humildade.

— Você pode fazer dois desses pra mim?

Viro-me imediatamente na direção dele, franzindo o cenho horrorizada. Aquilo já era demais, eu não suportaria os absurdos de Lawrence nem mais um segundo.

— Você não acha que já é demais? Qual o seu problema? Faz você o seu próprio café, idiota! — vocifero irritada, me sentindo um pouco mais capaz de responder às imbecilidades desse garoto.

Ele revira os olhos e bufa estressado.

— Quer saber? Sai daí — ele se aproxima de mim, parando bem ao meu lado com as mãos abertas e me fitando de um jeito estranho — Vamos logo, eu vou fazer o meu e o seu café da manhã — balança as mãos com os olhos arregalados, pedindo a espátula.

Franzo o cenho.

— Até parece que você...

Ele interrompe.

— Você acha que só um ovo frito vai sustentar o seu corpo durante o dia? Vai desmaiar antes de chegar no alto da escada de novo — John fala rígido e com muita seriedade, e é talvez a primeira vez que o ouço falar assim — Você não jantou por minha causa ontem, não vou deixar que coma só isso como se fosse uma refeição decente —

- BULLETPROOF.  (young johnny lawrence)Onde histórias criam vida. Descubra agora