i won't let you in again.

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São três da manhã, e eu estou sentada no chão, bem em frente à minha cama e à janela ligeiramente aberta. Uma brisa fria entra por ali e corre pelo quarto, trazendo um cheiro típico de cidade praiana, as cortinas balançam suavemente.

Eu desenho no caderno sobre minhas coxas enquanto a insônia me consome. Desenho uma caricatura distante de meus pesadelos, tentando de alguma forma deixá-los presos no papel e arrancar de mim os fantasmas que caminhavam ao meu redor. Desenho dois olhos, cílios arqueados, a linha d'água úmida, as pupilas expandidas como dois buracos negros, as íris iluminadas por uma luz forte.

Medo. O medo nos olhos da minha mãe. Até hoje não sei exatamente o que aconteceu naquela noite, e nunca saberei. Quando percebo, estou parada, imóvel com os olhos abertos fixos no desenho e com um vazio completo dentro da cabeça. A caneta a muito já caiu no chão, e eu nem mesmo respirava.

Pestanejo, saindo do transe. E quando dou por mim, tem um garoto abrindo completamente e atravessando minha janela. Ele atinge minha cama, mas não consegue rolar do jeito que fez a última vez, apenas solta um arfar dolorido.

Eu me levanto e encaro John deitado em meus lençóis, os pés sujos ainda para fora da janela, ele repousa a mão nas costelas. Me aproximo, subindo na cama perto o suficiente para vê-lo melhor, e noto que seu nariz tem resquícios de sangue.

Ele abre os olhos fervorosamente fechados, e me fita por alguns segundos em silêncio.

— Você andou brigando ou algo assim? — pergunto baixo, alisando meu próprio braço nu.

— Algo assim — ele responde, ainda deitado em minha cama — Mas eu vou ficar bem, são só algumas costelas, bati num otário na praia — Lawrence se remexe, virando de lado e então de bruços, flexiona seus braços e se levanta, se sentando em minha cama.

— Por que bateu nele? — pergunto e tento evitar o pior — Ei, não suje os travessei...

Os tênis surrados dele afundam nos meus travesseiros brancos, e ele se senta no parapeito da minha janela de um jeito bem desconfortável pois o vidro móvel impede suas costas de relaxarem direito. Ele apoia os cotovelos nos joelhos, me analisando de cima à baixo com muita atenção.

— Não vem ao caso, mas ele mereceu. E... Ainda acordada, Lily? — ele pergunta num sussurro, me confrontando de um jeito muito sério para John Lawrence — Eu disse pra dormir — algo me diz que ele não vai me deixar sozinha tão fácil desta vez.

— Não quero dormir. Não tenho sono — dou de ombros.

— Todo mundo tem sono — ele zomba.

— Eu sou adulta e não quero dormir — argumento de volta, ouvindo ele estalar a língua e fazer uma careta de descrença.

— Você só é um ano mais velha do que eu, para de falar como se fosse superior.

Eu abro a boca surpresa com as bobagens que ele é capaz de deduzir. John me encara com as sobrancelhas erguidas e os olhos arregalados, de um jeito meio engraçado.

— Você já reparou que tem síndrome de inferioridade? Qualquer coisinha pra você é um ataque pessoal — eu digo ácida e estreitando os olhos, aproveitando a deixa para falar disso — Eu acho uma pergunta engraçada e é como chamar você de burro, eu menciono a minha idade, e você pensa que eu estou te chamando de criança. Qual o seu problema? —

— E qual é o seu, hein? Você passou a infância inteira sendo tratada igual uma princesa enquanto eu era um só lixo indesejado, e agora você volta e acha que eu vou engolir as suas piadinhas disfarçadas de comentário? — cruza os braços em frente ao peito.

- BULLETPROOF.  (young johnny lawrence)Onde histórias criam vida. Descubra agora