Capítulo 15

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Três anos antes

Isis Lopes

Já passava de meia-noite. Um vento frio soprava no silêncio da madrugada. Isis desceu do ônibus e se pôs a andar de volta para casa. Certamente, seus filhos estariam dormindo debaixo de seus cobertores quentes enquanto seu marido a aguardava ansiosamente.

A mulher tinha acabado de virar a esquina da rua de sua casa e passar pelo portão quando se deparou com a casa 10 com o portão entreaberto e uma luz fraca vindo de dentro. Embora fosse uma situação incomum, Isis continuou seguindo de volta para casa. Foi quando ela começou a ouvir uma conversa.

- Adriano, essa já é a terceira vez que eu venho te cobrar o aluguel atrasado. Pague logo ou você será expulso!

- Cláudia, eu preciso de mais tempo. Eu... eu...

- Você o quê? Emprestou o dinheiro do aluguel para pagar remédios para seu avô? Poupe a mim e a você mesmo de suas mentiras!

- Mas é verdade...

Isis percebeu uma sombra se formando próximo ao portão e apressou o passo para voltar para casa.

- Não serei eu quem virá cobrar da próxima vez. Considere-se avisado. - Cláudia disse, em tom intimidador antes de sair.

Henrique abriu a porta de casa e encontrou Isis respirando rápido, com a mão no peito. Imediatamente, o homem correu ao encontro da esposa.

- Isis! Querida...

- Shhhh! - A mulher cobriu a boca do marido enquanto ouvia os passos de Cláudia pela rua. Então, ela o guiou para dentro da casa.

- Você pode explicar o que está acontecendo?

- Eu vi... eu vi... Foi uma ameaça...

- Do que você está falando?

- Ele... está...

- Quem, Isis? Quem?

- O cérbero...

- Hã?

A mulher correu para o quarto de Telêmaco e Penélope e encontrou os filhos dormindo.

- Eles estão bem... estão bem...

- Venha, querida. Você está cansada. Vou te dar um copo d'água. Precisa se acalmar. - Henrique disse, conduzindo a esposa até a cozinha.

A rotina seguiu como de costume. Isis notava os Carvalho cobrando Adriano de forma cada vez mais agressiva. A mulher ouvia sons de socos, chutes, objetos quebrando e voltava para casa cada vez mais assustada, sem conseguir contar a ninguém com clareza o que via e ouvia na casa 10. Henrique fora compreensivo a princípio, mas ele se mostrou cada vez mais impaciente com o passar do tempo. Adriano tinha um São Bernardo bastante ativo chamado Bob, e era tido por ser um vizinho barulhento, o que dificultava perceber a situação.

Passava da uma da manhã. Naquela noite, o ônibus havia demorado e Isis havia chegado mais tarde. Ela repetiu seu trajeto como de costume e percebeu o portão da casa 10 entreaberto, da mesma forma que ficava durante a cobrança do aluguel.

- JÁ DISSE QUE EU NÃO TENHO! - Adriano gritou.

O cachorro latia incessantemente do pequeno portão de onde havia sido preso.

- Se você quiser, pode denunciar, despejar, mas eu não tenho esse dinheiro!

- Acha mesmo que eu vou acreditar nas suas mentiras, cretino? - Aluísio empurrou Adriano, que caiu no chão.

- CHEGA! - Adriano gritou - Não fico mais aqui. Amanhã, vou embora. - O homem empurrou Aluísio enquanto seguia para a lateral da casa.

- Você não vai a lugar algum até pagar o que deve! - Aluísio segurou Adriano com força pelo pescoço, deixando o homem sem ar.

O Mistério da Rua Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora