Capítulo 17

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Sexta-feira, 19 de setembro

Aluísio Carvalho

 
Um chá da tarde. Algo incomum entre os Carvalho. Mas Aluísio não convocara a família e Hélio apenas para conversar trivialidades. Havia muita coisa em jogo.

- Aluísio, espero que você tenha algo sério para falar. Tinha que conversar com a Lô.

- Deixa de show, Margarida! Até parece que se importa com a Olga!

- Tem como adiantar o assunto, Aluísio? Tenho mais o que fazer!

- Ok. A grande questão é que temos que parar de dar jeito nos inquilinos.

- Quer que eles descubram a verdade, pai?

- A questão não é essa. Estamos chamando atenção desnecessária para a rua. Abelardo está no nosso pé. Está cada vez mais difícil apagar nossos rastros.

- Eu não tenho nada a ver com isso.

- Tem certeza, Cláudia? Seu filho trouxe um casal endividado para morar em uma das casas, jogou o cara na calçada por conta da porcaria de uma moto. Felipe só traz dor de cabeça!

- Quer jogar culpa, vovô? Arthur jogou a mulher da sacada porque foi rejeitado.

- Cala essa boca! Eu tive que fingir que estava desesperado com o nosso pai para ele atropelar a Vânia!

- CHEGA! Esse jogo de empurra não vai resolver nada. – Pedro pôs fim à discussão.

- Temos serviço em João Wildas.

- Quê?!

- Isso não é tudo. Temos um mês para sumir da Ernesto Sabali. Ordens de Abelardo.

- Como eu fico?

- Isso é com você e ele. De qualquer forma, você vai continuar trabalhando com a gente. Aqui ou lá.

- Pedro está com a vida ganha. O resto de nós temos que inventar uma desculpa para sumir. – Margarida disse. – Fora que temos que conseguir dinheiro para essa viagem repentina.

- Acho que eu tive uma ideia para vocês. – Pedro falou.
 

Trinta anos antes

Pedro Carvalho

 
Era seu aniversário de dezoito anos. O rapaz estava muito feliz por ter alcançado a maioridade, já que poderia aprender a dirigir. O jovem queria seguir os passos do pai e decidiu cursar Direito. Aluísio era, para Pedro, um pai exímio e um exemplo a ser seguido.

O rapaz acordou cedo naquela manhã, tomou banho e se arrumou. Ele pretendia comemorar a data fazendo trilha pela manhã, indo ao cinema à tarde e, à noite, ir a um bar pela primeira vez e experimentar diversos coquetéis.

- Bom dia, mãe! Bom dia, pai! – Pedro disse, se sentando à mesa.

- Bom dia, meu filho. Feliz aniversário. Fiz café-da-manhã americano. Ovos, bacon, panquecas... Você vai precisar de muita energia hoje. – Margarida falou com um sorriso indecifrável.

- Dezoito anos! É quase um homem! – Aluísio exclamou, dando tapas nas costas do enteado.

- Quase? – Pedro questionou, intrigado.

- Você precisa provar seu valor para se tornar um homem de verdade.

- Como?

- Você sempre fala que quer seguir os meus passos. Bom, eu vou mostrar o que isso realmente significa.

- Vai me levar ao seu escritório?

- Acha mesmo que nós ganhamos a vida como advogados, parvo?

Pedro ficou boquiaberto, confuso com as palavras de Aluísio.

O Mistério da Rua Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora