Capítulo 18

0 0 0
                                    

Segunda-feira, 29 de setembro

Hélio Sá

 
Vender produtos diversos na Ernesto Sabali tinha algumas vantagens para ele: além de facilitá-lo a vigiar a rua, o trabalho extra lhe rendia mais um pouco de dinheiro, que ele usava para manter seu carro pessoal, um Opala herdado de seu pai, o qual mantinha em uma garagem particular, já que usava um carro cedido por Aluísio nos favores que lhe fazia e não poderia chamar a atenção dos vizinhos, que acreditavam que a venda era seu única fonte de renda.

Três e meia da tarde. A hora da novela favorita de Hélio. O homem fez uma vasilha de pipocas, abriu uma lata de chá gelado e se sentou à frente da televisão que tinha na barraca. Assim que a novela começou, o interfone tocou. Era uma compradora. Hélio autorizou a entrada e, em alguns instantes, uma jovem mulher apareceu.

- Boa tarde. Eu gostaria de um refrigerante de dois litros e um pacote de salgadinhos sabor churrasco.

- Um momento.

O homem buscou os produtos, os pôs em uma sacola e os entregou a mulher, que lhe deu algumas notas enroladas em um papel e foi embora. Com receio de ter sido enganado, Hélio abriu o pacote e encontrou um bilhete de Abelardo, indicando para encontrá-lo no clube.

Mais tarde, naquele mesmo dia, Hélio foi ao lugar marcado pelo tio e o encontrou sentado na câmara, separando alguns papéis enquanto fumava charuto.

- Seus convites têm que ser por escrito sempre?

- Não estou aqui para discutir meus métodos.

- Então...?

- Sente-se. – Abelardo pigarreou – Vamos começar pelo óbvio, que são os Carvalho desobedientes e você sem fazer o que mandei. A questão é: preciso saber de que lado você está. Do meu ou do deles.

- Mas é claro que estou do seu lado, tio!

- Preciso de provas.

- O que quer que eu faça?

- Você já deve saber que os caprichos daquela família estão dando o que falar, já que vive assistindo a televisão.

- Bom, é meu único jeito de passar o tempo com o trabalho que me foi incumbido...

- Em vez de reclamar, deveria me agradecer por eu ter te tirado daquela vida sem futuro! – Abelardo disse, irritado. – E pelo que estou fazendo por você.

- Que seria...?

- A partir de agora, você não trabalha mais para eles. Pode pegar suas muambas e dar o fora daquela rua o quanto antes.

- E o que eu vou fazer quando vierem atrás de mim?

- Ok, ok... Vá à minha quitinete em Água Velha.

- Depois de viver por anos numa casa confortável, quer que eu vá morar num cubículo?

- Cavalo dado não se olha os dentes, mal-agradecido! Escolha: ou o cubículo ou se vira com eles.

Hélio ficou em silêncio.

- Acho bom. Fique alguns dias na minha quitinete e, depois, tenho alguns serviços para você.
 

Terça-feira, 30 de setembro

Cláudia Carvalho

 
A resistência de Arthur em desistir de Yasmin deixou a mulher encolerizada. Toda a família estava na corda bamba e um namoro seria uma distração arriscada, pois ela acreditava que o filho poderia revelar alguma informação que deveria permanecer em segredo, além da aproximação das famílias intrínseca a um namoro.

O Mistério da Rua Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora