Faltavam exatamente trinta dias para o evento que marcaria o dia que, até então, teoricamente seria o mais importante da minha vida, vulgo, meu casamento. Estava tudo pronto, apartamento mobiliado, vestido alugado, e a equipe contratada para organizar a cerimônia, quase endoidando com as exigências da minha futura sogra, que fez questão de acompanhar tudo de perto, já que ela decidiu que o casamento do alecrim dourado caçula dela, tinha que ser o evento do século.
A verdade é que, se pudesse escolher, teria optado por algo mais simples, que era a minha cara, mas ofenderia a megera de nariz empinado. Perdão, a doce senhora fina, e como o casamento não era só meu, larguei mão. No fundo eu sabia que bater de frente, era uma causa perdida, e como Raul mesmo disse, alguém teria que ceder, e com certeza não seria dona Eugênia Almeida, o anjo de candura que eu chamava de sogra, e ele de mãe. Até na escolha do vestido a mulher resolveu se meter, disse que nada poderia sair errado.
Eu o Raul sempre nos entendemos bem, as poucas vezes que tivemos algum atrito foi por interferência de sua mãe, que aliás, desde que fomos apresentadas, me olhava de cima e nunca fez questão de me tratar por igual. Meu sogro era tranquilo, estava sempre ocupado com os compromissos da política, os cunhados já casados, moravam no exterior e com eles nunca tive problemas, mas a sogra não me aceitava de jeito nenhum.
Eu era completamente diferente das garotas com quem o filho dela já havia se envolvido e isso era o que mais a incomodava, estava acostumada a lidar com garotas da alta sociedade e cheias de etiquetas, mas eu era humilde, rústica, espontânea e muito atrapalhada, o que a fazia "ter pesadelos" como ela dizia, quando tinha que topar comigo pelos eventos da sociedade, já que como filho de um político influente, meu noivo participava de muitos.
O caso é que desde que me viu pela primeira vez ela decidiu que deveria me dar aulas de etiqueta, pois teria que aprender como uma mulher fina se comportava naquele meio. A princípio ignorei, não queria que aquilo causasse uma briga entre mim e Raul, que dizia que sua mãe era assim mesmo. Mas com o passar do tempo, aquela implicância com tudo o que eu fazia começou a me deixar pensativa se o casamento seria uma boa ideia.
"Tenha só mais um pouco de paciência, quando estivermos casados, as coisas serão diferentes."
Essa era a frase que eu ouvia de Raul toda vez que ficava depressiva, e como já estava impregnado em meus pensamentos, que casamento exigia sacrifícios, eu acabava aceitando tudo de cabeça baixa. Grande erro o meu, porque aceitando tudo calada, era como se meu relacionamento fosse um mar de rosas aos olhos da minha família, dos amigos, de todos. Eu só queria viver o sonho do casamento, queria construir minha própria família como meus pais fizeram. Eu realmente acreditei que seria feliz.
Minhas raízes nunca foram motivo de vergonha, eu nasci e me criei no campo, meu pai era capataz de uma fazenda de gado de corte, minha mãe a cozinheira, e eu, a moça da limpeza como os peões me chamavam. Cresci naquela colônia, convivia com pessoas humildes e vivia para servir aos patrões, era tanto trabalho que mal saída daquele canfudó esquecido no meio do nada. A fazenda ficava a cem quilômetros da civilização, então quando iniciei a faculdade, tive que ir morar na cidade, e só conseguia ver meus pais uma vez por mês, e olhe lá. Meu pai me ajudava com as despesas, e o que faltava, eu complementava com as faxinas que fazia diariamente. Pois é, vida de estudante financeiramente prejudicado não é fácil.
Logo no primeiro ano de faculdade, conheci o Raul e acabamos nos aproximando. Ele cursava o terceiro ano de agronomia, e eu o primeiro de zootecnia que era o incentivo do patrão. Raul era muito inteligente e se destacava em tudo, diferente de mim, que só era esforçada e vivia batendo cabeça para tirar boas notas. Sinceramente, não sei o que viu em mim, nunca fui o tipo que chamaria a atenção de um cara popular; não em meio a tanta garota linda e descolada que desfilava naquele complexo, que mais parecia uma cidade.
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Trinta dias para me vingar do homem que me traiu
HumorCíntia era uma jovem sonhadora e atrapalhada, que estava de casamento marcado quando uma surpresa desagradável acabou mudando o curso de sua vida, o que a levou a experimentar fortes emoções, como a descoberta do verdadeiro amor ao lado de seu novo...