Capítulo 32 Cinco minutos

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Eu ainda estava sonolenta, fiquei sozinha no quarto enquanto aguardavam a cirurgia do Otávio terminar. Horas já haviam se passado desde que entraram no centro cirúrgico, e não se tinha notícias de o quanto demoraria. Tentei me ajeitar na cama, estava impaciente, queria estar com eles, eu ainda me torturava com aquele sentimento de culpa. O som daquela máquina ecoava pelo quarto, não sei porque ainda me mantinham ligada a ela, estava bem, estável, ao menos era isso que diziam.

— Você vai ficar bem — murmurei olhando o céu pela fresta da persiana. Não sei que hora era exatamente, mas pelo tom amarelado dos raios solares já era fim de tarde. Me perdi em pensamentos olhando as nuvens em formato de chapéu e uma lágrima brotou em meus olhos ao visualizar o rosto dele, com aquele sorriso que sempre exibia. Otávio era uma das melhores pessoas que conheci, alegre, divertido, carinhoso, o amigo que toda garota deveria ter, já que é tão raro amizades assim entre meninos e meninas.

— Eu consegui.

Ao ouvir aquela voz meu coração disparou, e ao virar o rosto vi Rodolfo parado em pé na porta do quarto.

Ele vestia um pijama verde, confortável, sem mangas e uma touca na cabeça. Seu traje era parecido com os que vi nos outros setores, o que diferenciava era a cor. Seus olhos exibiam um brilho intenso, semblante cansado, ele ficou ali parado me olhando, respirando pesado, estava atônito.

— Vai vir me dar um abraço ou eu vou ter que ir até aí?

Ele retirou a touca e colocou no bolso, caminhou até a cama e me abraçou apertado, um aperto quase dolorido como se não quisesse mais soltar. Eu também não queria.

— Eu pensei que fosse te perder — murmurou com o rosto enterrado em meu pescoço.

— Eu também.

Levei a mão até sua cabeça deixando uma carícia ali, e ao ouvir aquele soluço abafado apenas permiti que chorasse em meu peito. Não preciso dizer que chorei junto.

— Quando falei contigo ao telefone estava desesperado, você se despediu. Cara, aquilo foi muito ruim, eu estava longe, não podia te tirar daquele carro, ele gritando contigo, te agredindo, eu... eu ouvi tudo, o barulho quando o carro capotou, gritos, e quando a ligação caiu pensei que fosse o fim.

Até aquele momento eu tive alguns flashes de lembranças sobre o momento do acidente. Sabia que Raul atirou em Otávio, que fugiu comigo no carro, mas não me lembrava de como aquela fuga terminou, eu sabia que capotamos, mas não tinha ideia de como aconteceu. Só que, ali, nos braços de Rodolfo tudo veio à tona...

— Eu causei aquele acidente, a culpa foi minha. Fui eu, Rodolfo, eu puxei o freio de mão, eu desconectei o cinto dele e ele não me deixou desconectar o meu, eu... fui eu... estava desesperada só queria acabar logo com aquele tormento. Eu tentei nos matar!

— Cíntia — Rodolfo me segurava pelos ombros enquanto me debatia. — Meu amor, se acalme, já passou. Cíntia!

— Eu sou um monstro! — Eu gritava tentando agredir a mim mesma. — Ele baixou as grades da cama e se deitou me abraçando apertado. Seus braços firmes enrolados ao meu corpo me impedia de me machucar, eu chorava enquanto alguns funcionários assistiam aquela cena.

— Vai ficar tudo bem, meu anjo, eu estou aqui para cuidar de você.

— Ele estava deitado no chão, tinha muito sangue, seus olhos... ele me olhava, eu...

— Não fica pensando nisso — ele sussurrava acariciando meu cabelo.

— Eu ouvi a sua voz quando estava no escuro, queria responder, mas não conseguia, mas eu te ouvia, sabia que estava comigo.

Trinta dias para me vingar do homem que me traiuOnde histórias criam vida. Descubra agora