Era como se toda a animação que tive nos últimos dias fosse se esvaindo do corpo, eu realmente me senti intimidada pela madame, Clô, e sua fiel escudeira, não menos arrogante, Karina. Não fazia ideia de onde aquele táxi estava me levando, mas só o fato de sair daquele prédio e respirar um pouco, longe daquelas duas, me fez sentir bem melhor.
— O hospital? — Minhas sobrancelhas se elevaram quando o táxi parou na porta do pronto atendimento. É óbvio que eu sabia que ele estava ali, só não compreendi sua intenção ao me levar até lá.
Rodolfo se aproximou quando desci do carro, me deu um beijo breve e cumprimentou o jovem motorista que logo seguiu o seu rumo. Confesso que fiquei surpresa com aquela manifestação pública, era seu local de trabalho, eu realmente não esperava.
— O que você está aprontando?
— Só quero te mostrar uma coisa — ele segurou em minha mão e me conduziu para dentro. Um gesto que causou um rubor inesperado em meu rosto e olhares curiosos na equipe.
— Boa noite — disse o segurança quando passamos pela entrada da recepção.
— Boa noite — respondi tímida.
Seguimos pelo corredor do pronto atendimento, onde havia algumas cadeiras encostadas de um lado da parede com pacientes aguardando. Avistei as salas de medicação com poltronas ocupadas por pessoas tomando soro, e de frente ao posto de enfermagem. Os profissionais dividiam os olhares entre nossas mãos dadas e o meu rosto, que deveria estar muito corado. Eu até tentei disfarçar, mas não sou muito boa em esconder reações, como a timidez, fico vermelha com muita facilidade. Rodolfo os cumprimentou naturalmente e continuou me levando por aquele labirinto de portas, corredores e rampas, completamente despreocupado.
O primeiro setor que visitamos foi a clínica médica, não entramos nos quartos, mas só de passar pelo corredor deu para ter uma noção de como aquele lugar era carregado. Seguimos para a clínica cirúrgica, onde se encontravam alguns pacientes recém operados, acidentados e outras patologias. Na pediatria me deparei com algumas mães no corredor, crianças tão pequenas com aqueles pijaminhas e olhares inocentes, esse seria um lugar que jamais trabalharia, não teria coração para isso. Respirei profundamente quando paramos em frente a uma porta restrita. Era a ala de pacientes críticos, e ali, eu não sabia se ia querer entrar, mas acabei não me manifestando.
A princípio não entendi muito bem aquele passeio diferente, ele apenas me pediu para que observasse tudo com muita atenção, e o que eu vi, foi uma mistura de dor, esperança, fé, sei lá, só quem precisa estar nesses lugares consegue definir o sentimento. Eu parei de tentar decifrar qualquer coisa que fosse quando adentramos aquele espaço, e apesar de toda a estrutura que demonstrava ser uma área particular, do tipo não acessível a reles mortais como eu, ali, de todos os lugares, foi o mais tenso.
— Por que estamos aqui? — Perguntei curiosa.
— Veja — ele apontou para uma parede com uma parte de vidro onde avistei um paciente na cama.
— O que ele tem?
Se tratava de um homem, ali daquela distância não consegui ver seu rosto, mas me senti incomodada com o barulho dos aparelhos, e tantos fios ligados a aquele ser humano imóvel naquela cama.
— Está vendo aquele cano ligado ao seu pescoço?
— Sim.
— É o respirador. Através daquela cânula de traqueostomia, ele recebe o oxigênio — explicou. — Percebe as caixinhas fixadas no suporte de soro? São bombas de infusão contínua.
— E o que seria isso?
— Esse aparelho regula a quantidade certa de medicamentos que vão correr em suas veias, é isso tudo que o mantém vivo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Trinta dias para me vingar do homem que me traiu
HumorCíntia era uma jovem sonhadora e atrapalhada, que estava de casamento marcado quando uma surpresa desagradável acabou mudando o curso de sua vida, o que a levou a experimentar fortes emoções, como a descoberta do verdadeiro amor ao lado de seu novo...