Capítulo 35 A lei do retorno

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ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS (BREVES) DE TENSÃO QUE PODEM SE TORNAR UM GATILHO.

A lei do retorno realmente chega. Eu nunca pensei que fosse presenciar o dia em que dona Eugênia me pediria qualquer favor que fosse, tampouco aos prantos e de joelhos, mas aconteceu, e não foi um momento para se comemorar. Ao contrário disso, aquela visita trouxe à tona todos os sentimentos que eu lutei por meses para superar, e mesmo não sendo a sua intenção, o resultado daquela discussão foi desastroso.

— Ela está voltando.

A voz de Rodolfo ecoava lá no fundo, assim como a do meu pai.

— Você está me ouvindo, filha?

— Os olhos dele, eu não quero ver os olhos dele!

Eu gritava e me debatia, o rosto dele desfigurado estava ali me perturbando, me chamando, me assombrando.

— Cíntia, eu estou aqui, vai ficar tudo bem, Cíntia!

A voz de Rodolfo ecoava pela minha cabeça enquanto me imobilizava na tentativa de que não me machucasse ainda mais, mas isso, apesar de necessário, me deixou ainda mais agitada.

Na correria deixaram minha mãe para trás, ela estava na colônia entregando queijos, doces e geleias que havia feito e como era o caminho contrário não era viável ir atrás. Meu pai foi dirigindo e Rodolfo no banco de trás tentando me socorrer como podia, a ambulância estava a caminho e acabou nos encontrando já quase na entrada da cidade. Por fim tiveram que administrar um tranquilizante eu estava em um surto de ansiedade difícil de controlar.

— Ela caiu da escada, a secretária ligou avisando, não conseguimos chegar a tempo — meu pai explicava a alguém que não faço ideia pois minha consciência sumia e voltava assim como as imagens e sons à minha volta.

Os olhos estavam pesados, o corpo ainda formigava, mas agora já não tanto como antes, eu queria acabar com aquela dor, queria esquecer tudo o que vivi, mas parecia que sempre teria alguém para me fazer lembrar e isso me trazia uma enxurrada de sentimentos que não conseguia lidar.

Não sei por quanto tempo dormi, e quando acordei, Rodolfo estava sentado em uma cadeira a beira da cama, me cuidando.

— Rô — falei tentando me levantar, mas não consegui. — Porque não sinto minhas pernas?

— A anestesia ainda não passou — ele respondeu segurando minha mão.

— A perna, eu...

— Foi uma queda feia, mas não aconteceu nada com a perna machucada — disse ele, e não pude deixar de notar seu semblante abatido.

— Cadê meu pai?

— Foi até a capela fazer orações, mas pelo tempo já deve estar voltando. Fabiano está vindo com sua mãe.

— O que foi?

Notei que havia algo diferente em seu olhar, e conhecendo Rodolfo como eu conhecia, já imaginei que não era coisa boa.

— Por que minha mãe está vindo, eu não vou embora hoje?

— Não, você está de repouso, precisou fazer um procedimento e só sai amanhã.

— Que procedimento, o que está acontecendo Rodolfo? — Questionei quando percebi que evitava me olhar nos olhos. Ele quase nunca fazia isso.

— Você sabia que estava grávida?

— Eu, grávida? — Perguntei surpresa. — Não tem possibilidade, tomo anticoncepcional contínuo, e...

— Estava grávida quando tomou a injeção — afirmou, me deixando ainda mais espantada. — Por que não me disse que ia começar a tomar a injeção, eu a teria alertado sobre fazer um exame. Poderíamos ter cuidado, e...

Trinta dias para me vingar do homem que me traiuOnde histórias criam vida. Descubra agora