Me chamaram por volta de seis horas da manhã para tomar banho que o médico ia passar visita. Era comum essa rotina, mas dessa vez havia algo diferente, uma ressonância magnética de última hora, que curiosamente, minha mãe não poderia acompanhar. Ela sempre descia comigo quando tinha algum exame fora do setor, e quando não podia entrar na sala de exame em alguns, ela ficava na sala de espera. Só que dessa vez, a enfermeira pediu que aguardasse no quarto.
— Está acontecendo alguma coisa? — Ela perguntou preocupada.
— Eu sou estagiária, só me entregaram o pedido e pediram que a levasse, mas a enfermeira está pegando o plantão e já vai passar nos quartos, aí a senhora pode se informar certinho — explicou a jovem ruiva de coque e jaleco branco para minha mãe.
Eu estava em uma cadeira de rodas, o cabelo ainda estava molhado, minha mãe havia acabado de pentear, ela gostava de passar cremes para reduzir o volume, escolhia meus pijamas para ficar confortável, fazia massagem nos pés, ombros, costas, o Otávio me provocava dizendo que estava sendo muito mimada naquele lugar. A parte que virou o queridinho das enfermeiras ele nunca contava, o Rafael ficava incomodado com tanta dedicação por parte das estagiárias e o Ferrugem todo tímido, desconversava.
— Oi, Rebeca, seu nome? — Disse um médico jovem, alto de cabelos loiros se aproximando quando íamos pelo corredor.
— Sim doutor — respondeu a estagiária.
— Eu preciso que façam a admissão do paciente que está subindo, e não se esqueçam de agendar o banco de sangue.
— O outro doutor pediu que levasse essa paciente para a ressonância, eu...
— Eu levo, estou indo para lá.
— Mas doutor, eu...
— Diga à supervisora do estágio que eu pedi urgência na preparação do paciente para cirurgia.
— Mas doutor, ela vai me chamar a atenção — disse a moça quando ele tomou o seu lugar empurrando minha cadeira.
— Relaxa, aprender a admitir pacientes também faz parte do estágio — disse o jovem médico empurrando rapidamente minha cadeira rumo ao elevador. — Não esqueça de agendar o banco de sangue.
A moça ainda tentou questionar, mas ele não deu ouvidos, e eu que já não estava entendendo nada, agora sendo levada pelas mãos do próprio médico, que, aliás, nunca vi, pior ainda.
— Disseram que estava tudo bem comigo — comentei quando entramos no elevador, e ao invés de descer, ele apertou para subir.
— Está, sim, acredito que tenha alta em breve — disse ele, digitando algo em seu celular.
Eu o observava pelo espelho do elevador, ele não tinha cara de quem fosse me jogar da cobertura, nem roubar o meu corpo para estudos, mas sabe se lá se não tinha uma banheira cheia de gelo por ali e um cliente em algum lugar esperando meu rim. E se o paciente que estava subindo fosse o beneficiário? Ali já estava surtando, eu não podia correr com aquela perna quebrada, se ele fosse um maluco querendo me desmembrar seria o meu fim.
— Moço, eu acho que você pegou o caminho errado, o centro de imagens é lá embaixo — arrisquei a dizer quando vi pelo painel que paramos no sexto andar.
Logo que a porta se abriu tinha uma placa de aviso que dizia:
"Área restrita, permitido somente a entrada de pessoal autorizado".
O cheiro de tinta fresca e a mobília impecavelmente nova, me fez concluir que era um setor em reformas, ou algo do tipo, só não sabia o que estava fazendo ali, e a julgar pelos últimos acontecimentos de minha nada mole vida, tive medo de descobrir.
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Trinta dias para me vingar do homem que me traiu
HumorCíntia era uma jovem sonhadora e atrapalhada, que estava de casamento marcado quando uma surpresa desagradável acabou mudando o curso de sua vida, o que a levou a experimentar fortes emoções, como a descoberta do verdadeiro amor ao lado de seu novo...