good luck, babe

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Acordei cansada após ter dificuldade para dormir na noite anterior. Faço minha higiene pessoal, arrumo meus cabelos, passo um lip oil avermelhado e também passo um pouco de rímel, o que fazia sempre, independente de sairmos ou não. Queria parecer mais arrumada aqui, perto de Cath. Aos poucos, eu começava a buscar cada vez mais sua aprovação, mesmo que inconscientemente.

Entro na cozinha e a encontro sentada na mesa, terminando de pintar suas unhas. Cath sorri quando me vê, me dando bom dia. Sento ao seu lado e ela observa minhas unhas vermelhas, que já estavam começando a descascar. Ela pede pra as arrumar, o que concordo já que parecia ser do seu agrado. Retiro o resto de esmalte e ela segura minhas mãos, começando a pintar. Começamos a conversar aos poucos, ela mais puxando assunto do que eu, já que sentia certa cautela pela noite passada.

- Você já namorou com alguém? - ela pergunta, me olhando com curiosidade.

- Não, sou meio complicada nesse aspecto... - fico sem graça, em duvida do que dizer.

- E seus pais sabem que você gosta de meninas?

A olhei com espanto, sentindo meu coração palpitar mais rápido. Não sabia o que me surpreendia mais, ela falar isso com tanta naturalidade ou ela ter descoberto.

- Você tem aquele símbolo no seu instagram - ela se refere ao duplo vênus - e também não é muito difícil perceber.

Me senti um pouco insultada, sem saber exatamente o que a levava a concluir isso. Desvio o olhar, constrangida. Ela costumava parecer saber o que e quando falar, mas isso tinha sido um pouco intrusivo. Respirei fundo.

- Eles não tem nenhum problema, devo me sentir pior com isso do que eles. - confesso.

- Não vejo nada de errado, não é algo sobre o que se tenha controle. - ela me encara e sorri, segurando as pontas dos meus dedos, continuando a passar o vermelho. - meu irmão era gay, sempre entendi esse lado.

Peter apareceu na cozinha no momento certo, me salvando do assunto. Ele pega suco na geladeira e pergunta o que vamos almoçar. Meus pensamentos vagueiam enquanto os dois conversavam, sentindo vontade de sair dali e me esconder no quarto.

Após almoçarmos ela nos chamou para irmos até a clínica com ela levar comida para Thomas. Eu e Peter conversamos pouco com ela durante o trajeto, ele perdido nos próprios pensamentos e eu ainda constrangida pelo assunto que ela havia abordado. A clinica ficava em um prédio grande e moderno, com uma recepção ampla e as salas todas brilhando, com moveis sob medida e janelas largas que iluminavam os cômodos.

Enquanto o casal conversava, eu e Peter fomos até a área dos funcionários, que consistia em uma cozinha/sala de estar com um banheiro. Verificando que nenhum deles estava vindo, cada um pega um dos chocolates que estava sob a mesa, comendo discretamente. Trocamos olhares cúmplices e rimos, começando a jogar conversa fora.

Cath e Thomas chegaram em meio a uma conversa com algum outro funcionário, parando e o apresentando brevemente. Ela se aproxima e me chama pra ver sua sala, enquanto meu irmão conversa com Thomas. Entramos no escritório que era compacto mas organizado, dentro do mesmo padrão das outras salas. Ela fecha a porta e pede pra me falar algo. Fico parada enquanto ela se apoia na escrivaninha atrás dela.

- Você ficou chateada? - não precisei pensar duas vezes pra entender do que ela falava. Ela me olhou com ternura, dando vontade de eu mesma pedir perdão por ter me chateado.

- Não tem problema. - digo, não conseguindo simplesmente negar sua pergunta.

- Eu deveria ter sido mais delicada ao falar. - ela parecia realmente se sentir culpada. Não sabia como, mas ela conseguia me parecer extremamente expressiva.

Family Affair - sáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora