Capítulo 3 Lucas

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Foi uma daquelas noites em que o bar parecia um portal para um mundo diferente. Eu estava vestido como o Chapeleiro Maluco, cercado por uma atmosfera de fantasia e irreverência. A festa fantasia estava em pleno andamento, e eu circulava entre os convidados, me divertindo com a chance de ser outra pessoa por algumas horas.

Em um canto do bar, notei Bernardo. Ele parecia distante, seus olhos fixos no nada, como se estivesse em seu próprio mundo. Ao contrário da maioria, que estava imersa na diversão da festa, ele emanava uma aura de melancolia e contemplação.

Eu me aproximei dele, curioso para saber mais sobre aquele que parecia estar à parte da festividade. "Geralmente conseguimos admirar mais as estrelas a céu aberto e não no teto de um bar", comentei, tentando trazer um pouco de leveza à sua postura séria.

Bernardo baixou a cabeça por um momento, como se ponderasse minhas palavras. Quando ele ergueu os olhos para mim, pude ver um misto de surpresa e algo mais profundo em seu olhar. Havia uma conexão instantânea entre nós, como se já nos conhecêssemos de alguma forma.

Ele segurou meu braço com suavidade antes que eu pudesse me afastar. "Você parece olhar para as estrelas tanto quanto eu. É por isso que sabe o melhor lugar para olhar?", perguntou, um sorriso tímido surgindo em seus lábios.

Eu ri, surpreso com a profundidade repentina da nossa conversa. "Eu tenho meus momentos e sei sim ótimos lugares para olhar", respondi, sentindo-me intrigado com aquele encontro improvável.

Naquela noite, não trocamos nomes ou contatos. Foi como se o universo tivesse nos colocado naquele lugar e momento específicos, e não precisávamos de formalidades para entender a ligação entre nós. Compartilhamos histórias, risos e um entendimento mútuo que transcendia as palavras.

À medida que a noite avançava, percebi que estava relutante em deixar Bernardo e aquele instante especial para trás. Havia algo sobre ele que mexia comigo, algo que eu não conseguia explicar totalmente naquele momento, mas que sentia profundamente.

E assim, enquanto a festa começava a diminuir e cada um seguia seu caminho, eu carregava comigo a sensação de ter encontrado algo único e especial naquele breve encontro com Bernardo.

A partir daquele dia, passei a ter expectativas sempre que Bernardo vinha ao bar. Observava seu comportamento com atenção especial. Diferente da maioria, ele não costumava beber muito. Sempre pedia o mesmo drink: maracujá com canela e laranja, muito gelo. Era um pedido peculiar que o destacava na multidão dos que buscavam apenas a embriaguez.

Nas vezes em que ele eventualmente pedia uma bebida alcoólica, meu instinto protetor se acendia. Eu não conseguia evitar me preocupar. Observava seu comportamento de perto, e até mesmo instruía discretamente os bartenders para que colocassem doses mais baixas de álcool, mesmo quando ele pedia para caprichar.

Eu não queria vê-lo perder o controle, queria que ele se divertisse, mas de uma maneira que eu considerava segura para ele. A cada vez que ele entrava no bar, meu coração batia um pouco mais forte. Era como se estivesse esperando ansiosamente por algo que não sabia definir completamente, mas que me deixava alerta e atento à sua presença.

Estava finalizando os últimos ajustes na decoração para a festa temática de comemoração do aniversário do bar, cujo tema seria San Francisco Pride. Estávamos trazendo atrações especiais de fora para se apresentarem, incluindo shows de drag queens e stand-up comedy. Estava totalmente imerso no projeto quando finalmente parei por um momento e percebi que o bar já estava lotado de pessoas animadas e coloridas.

Corri para os fundos, precisando urgentemente de um banho e uma troca de roupa. Ao passar pelo corredor, foi então que o vi: Bernardo, radiante e lindo como nunca antes.

O Desconhecido ao Meu LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora