Às sete horas da manhã de segunda, o despertador decidiu tocar, ou melhor, cacarejar rente aos ouvidos de Marceline. Paxton havia comprado o objeto em formato e som de galo por pura diversão, e como sua única vítima no momento era a irmã, não hesitou em usá-lo.
— O galinheiro inteiro acordou com esse barulho, só falta você, a galinha nanica! — provocou o mais velho, parando ali mesmo com os braços cruzados.
— Seu chato! — resmungou ela, ainda de olhos fechados.
Paxton bateu o pé no chão até a mais nova despertar e perceber que, pela primeira vez, ele estava pronto antes dela para a aula.
Aos nove anos de idade passaram a estudar juntos na mesma turma, devido a sua repetência. A dinâmica da dupla nunca mudou, mas agora estavam no segundo ano do ensino médio e Paxton queria fazer diferente. Começando pela responsabilidade, especialmente com a caçula, a quem ele nunca escondeu o seu instinto protetor típico de um bom homem. Mesmo quando aprontava e fazia de tudo para incomodar a existência dela, era pura demonstração de afeto.
— Tem algo de errado com você ou com o mundo. Eu preciso verificar se realmente o dia amanheceu. — levantou-se indo à janela, totalmente desconfiada.
— Viu? Eu sou um novo homem. Vou ficar lá fora, tenho questões a resolver. — ele estava prestes a sair, mas voltou atrás — Ah, e vê se não demora com essas frescuras de mulherzinha, senão eu meto o pé e você vai sozinha!
— Você está muito esquisito... — franziu o cenho — Sai logo do meu quarto se não quiser me atrasar!
— Eu te dou vinte e dois minutos. — saiu batendo a porta com força.
Após um banho reconfortante de doze minutos, Marceline já uniformizada, pegou a escova com cabo de marfim de sua penteadeira e deslizou-a através dos fios dividindo a franja desfiada com precisão. Hoje era especial, iniciava sua participação como uma líder de torcida, então resolveu dar um toque no visual acrescentando o seu acessório mais precioso.
— Anda, Marceline. — inquieto, Paxton bateu sem parar na janela.
— Sua irmã não muda nunca, é como todas as outras. — ouviu Kobi reclamar do outro lado. Paxton estava acompanhado de seus amigos tão maliciosos e hiperativos quanto ele, mas ela não se importava com o que diziam, de costume, então ignorou os burburinhos.
Sem pressa alguma, pegou a caixinha de madeira antiga em sua penteadeira, onde cuidadosamente guardado, estava o laço de fita vermelha. Com dedos ágeis ela o amarrou em um nó firme, deixando que as duas pontas fluíssem em meio as ondas de seu cabelo.
Marceline observou seu reflexo por um momento, capturando a imagem que refletia sua expectativa. Para completar o visual, ela calçou seus sapatos vermelhos favoritos, que contrastavam com o uniforme cinza da escola. Satisfeita com sua aparência, encaixou a alça única de sua mochila quadrada nos ombros, sentindo o peso familiar e nada confortável dos livros e cadernos.
— Marceline, você vai acabar ficando! — o irmão bateu ainda mais no vidro.
— Ai, seu chato, espere por mim! — correu apressada deixando a zona de seu quarto para trás.
No caminho, Marceline seguia o grupo com passos tranquilos. Ela não tinha muito interesse nos tópicos video-game, farra e futebol, então ficava à margem da conversa, absorvendo as risadas e os comentários entusiasmados dos meninos. Era como se ela estivesse em seu próprio mundo, observando a vila repleta de cores vivas ao redor deles — casas tradicionais com telhados de cerâmica vermelha, os campos verdejantes estendendo-se até as montanhas ao longe, árvores enormes e os raios dourados do sol refletindo no chão. Enquanto Paxton e seus amigos discutiam os detalhes do jogo, sentiu-se um pouco distante daquele universo masculino. Ela entendia que os interesses dos garotos eram diferentes dos seus, e isso não a incomodava, estava acostumada. Na verdade, achava fascinante como podiam se envolver tanto em algo como um time de homens correndo atrás de uma bola.
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𝐔𝐌 𝐋𝐀𝐂̧𝐎 𝐃𝐄 𝐅𝐈𝐓𝐀
Teen FictionDurante sete anos, Maxon Avery enviou bilhetes mensais para Marceline Goth, escondidos em seu armário. Marceline só descobriu a identidade do remetente no último recado, que chegou com um laço de cetim vermelho. Agora, no auge da adolescência, os se...