Ele não é um fardo, ele é meu irmão.

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Marceline estava em sua carteira encostada na janela, mais observando a movimentação na vista do terceiro andar do que prestando atenção na aula entediante de filosofia — nem mesmo os alunos mais estudiosos estavam interessados em participar. Foi quando Beverly, a co-capitã da equipe de torcida, cutucou-lhe para conversar.

— Ansiosa para as boas-vindas, darling? — a ruiva enrolava seus cachos com um sorriso sacana.

— Confesso que estou com medo dessas boas-vindas, mas estou preparada sim. Mal posso esperar para me ver animando torcida! — respondeu inicialmente tensa.

— Acho melhor você não esperar tanto. Se não se encaixar na equipe, vai acabar ficando de canto. — Julietta foi áspera.

— Não se preocupe, apesar de ser pequenina você tem uma boa articulação. Se duvidar, melhor que a própria capitã! — alfinetou Vanilla, entrando na conversa.

— Eu não quis dizer que ela não é boa, tá? Só que não precisa se achar tanto assim quando mal começou. E você, minha querida amiga, deveria se olhar mais no espelho até perceber que dança como um robô! — a loira contra-atacou.

— Dave, me defende! — Vanilla gritou para o namorado, que fingia dormir na carteira, causando risos por toda a sala.

Marceline sentiu-se melhor com a defesa da amiga, pois quando pequenas brigavam feito cão e gato. A menina Foster estava sempre a incomodando com piadas bobas sobre sua altura. Nem o seu irmão a defendia, algumas vezes costumava ser ele mesmo o mandante. Isso são águas passadas, hoje estão maduras o suficiente para mexer com as inseguranças uma da outra. Não era o caso de Julietta, que costumava ser ácida em todos os momentos, na maioria deles sem perceber.

A enorme escadaria da escola estava repleta de movimento, um verdadeiro enxame de estudantes indo e vindo quando o intervalo foi sinalizado. Ela seguia o fluxo, guiando-se por entre o bando de seu irmão que se dispersava pelo prédio com moral onde passavam. Ao dobrarem o corredor em direção ao refeitório, pegaram suas bandejas e reuniram-se em um canto estratégico, na mesa central. E dessa vez, ela poderia participar da conversa, estavam a julgar a vida alheia como um verdadeiro grupo de mulheres.

— Não sei como o Dave aguenta a Vanilla. Eles terminaram e voltaram umas cinqüenta vezes. — Kobi riu, mordendo uma cenoura.

Observaram o casal na mesa das animadoras ao lado. Eles combinavam esteticamente, mas apesar da aparência, a atmosfera ao seu redor era tensa. Ambos discutiam alto sobre coisas triviais: quem chegou atrasado, quem esqueceu de comprar algo, quem não respondeu às mensagens a tempo...

Essazinha não passa de uma insuportável. — Paxton murmurou.

— Eu teria chutado a bunda dessa maluca há tempos. — James comentou, com a boca cheia de sanduíche.

— Que nojo! Dá para falar só quando terminar de comer? — Marceline reclamou, enojada — Eu ainda acho que eles são lindos juntos, e não vou criticar a Vanilla porque ela sempre foi assim.

— Você tem sorte de ser a menina mais legal, e de ser respeitada por nós também. — rebateu, limpando a boca.

— É. E ela tem sorte de ser minha irmã também, porque se algum de vocês falarem o mínimo sobre ela... Já sabem. — Paxton mostrou o punho fechado como ameaça. — Só eu posso falar desse palito de dente de anão.

— Calma, sensei. A sua irmã é uma princesa... — o japonês deu três batidinhas leves na cabeça da menina com falsidade — do Shrek — completou em um sussurro.

Todos riram fazendo o mais velho voltar rapidamente com a sua expressão mais intimidante. Era, de fato, super-protetor.

Foi então que Maxon chegou, sua bandeja equilibrada habilmente em uma das mãos. Algo inesperado aconteceu. Ele segurou o olhar nela por mais tempo que o habitual, um sorriso espontâneo surgindo nos lábios. E ela não conseguiu evitar que seu coração acelerasse em resposta.

𝐔𝐌 𝐋𝐀𝐂̧𝐎 𝐃𝐄 𝐅𝐈𝐓𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora