Sonho adolescente.

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Algumas semanas se passaram, e os novos pombinhos permaneceram com os dates de lanche da tarde e estudos — eles comiam mais do que estudavam. Cada vez mais deixavam nítido o romance indefinido que havia entre eles, e mesmo assim, se davam bem como nunca antes. Talvez ainda não estivessem pretendendo rotular as coisas, pular estágios de um relacionamento quase nunca acaba bem, é como tentar avançar seis degraus de escada em uma só passada de perna. 

A senhorita Goth ainda estranhava, comentava uma coisa ou outra com o marido e o filho, mas não chegava a desconfiar do que estava debaixo de seus olhos e teto. O pai era especialista em se abster de comentários, e por mais que já desconfiasse daquela vibração esquisita que poluia o ar quando Maxon estava perto da sua filha, não esperava que fosse resultar em um quase algo acontecendo. Ficou incomodado. "O homem certo para a minha filha é aquele que daria todos os seus bens se isso significasse poder ter a sua mão.” certa vez ele disse. O tom era brincalhão, mas tinha um fundo de verdade. Maxon não possuía bens, porém venderia tudo que tinha se isso significasse poder ter a honra da mão dela. Por outro lado, “A vida é sua, Cece” era a mais sincera opinião daquele que foi o mais temido quanto à essa situação; Paxton. 

Os últimos instantes da estação do ano mais vibrante no vilarejo trouxe uma queda de cores para as paisagens. Faltavam seis dias para o Festival de Primavera e Marceline finalmente conseguira dar um jeito para conciliar os seus hobbies com as obrigações. Honestamente, nem tanto assim. Seu desempenho no treinamento com as garotas estava da mesma forma como quando ela chegou: fraco. Constantemente era cobrada pelas amigas, só não apresentava mudanças. Em um dia, haveria um jogo de futebol com o time da escola contra outro e uma prova para definir a nota final de Marceline. Ela estava nervosa, mas tentou distrair a mente com o que tanto gostava.

— Filha, me passa a cola? — Elizabeth, avó de Marceline, pediu. Elas e mais doze mulheres enfeitavam faixas e cartazes para a ornamentação. 

— Cola.. cola.. cola.. — a menina procurou no meio de uma grande bagunça de materiais — Aqui! Achei! Tudo está ficando tão lindo e colorido… eu amei esses arranjos. Ah, e o fato de você ter feito questão de colher tulipas fresquinhas me deixou tão feliz! Eu amo as vermelhas, sabia? Gostaria de plantá-las no quintal da minha casa. Cansei de só ver margaridas. — ela tagarelou, provocando risos suaves na velhinha.

— Meu campo é bem colorido, querida. Já pensou em morar com a vovó? — ela tocou no ombro da neta.

— No caso de a senhora colocar o meu nome no seu testamento para ser a maior herdeira, eu considero essa opção. 

— Falando assim parece que estou perto de bater as botas. — a anciã fechou a cara. Marceline riu para suavizar o mal-entendido — Se você casar antes do seu irmão eu te dou essa honra!

— Eu só quis dizer que seria uma honra cuidar do seu jardim um dia, vovó. E com uma proposta dessas, já pode me considerar sua sucessora. — ela riu convicta.

A mulher apenas balançou a cabeça e continuou a colocar os adereços nas faixas. Elizabeth Goth era uma senhora caseira, gastava todo o seu tempo em cuidar da sua casa no campo, seus animais e praticar alguns hobbies. Sair de casa para visitar o filho e os netos quase nunca acontecia, ela preferia que fossem até ela ou que qualquer encontro acontecesse por acaso — como encontrou a neta na reunião do comitê. De todos os membros mais novos da família, Marceline foi a única que herdou pelo menos um de seus neurônios e trejeitos.

Quando a tarde estava prestes a terminar, Marceline voltou para casa e foi se arrumar às pressas. Seus colegas marcaram um encontro numa lanchonete local, para se divertirem antes do dia que estava por vir. Algumas garotas confirmaram presença, mas Alycia foi a garantia da ida de Marceline, por serem mais amigas. Dessa vez, ela e o irmão não precisaram omitir nada dos pais, nem escapar por janelas ou inventar desculpas esfarrapadas. 

𝐔𝐌 𝐋𝐀𝐂̧𝐎 𝐃𝐄 𝐅𝐈𝐓𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora