Use aqueles sapatos e eu usarei aquele vestido.

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Marceline estava de pé diante do espelho de corpo inteiro, observando atentamente cada detalhe do seu vestido decotado. Era uma escolha ousada para quem estava acostumada a usar roupas mais discretas, mas nessa ocasião, queria ser confiante e madura. Paxton observava com uma expressão indecifrável, ele não conseguia esconder o leve desagrado por ver sua irmã mais nova usando algo tão diferente do habitual. Com um suspiro, caminhou até o armário e pegou seu moletom cinza do time de futebol.

— Vista isso por cima. — sugeriu ele, entregando a peça com um sorriso condescendente.

Ela aceitou o gesto. Era reconfortante ter o irmão cuidando dela, mesmo que fosse de uma maneira paternalista e estragando o seu look. Enquanto os dois terminavam de se arrumar, James apertou a buzina por dez vezes seguidas, rompendo o silêncio do bairro.

De fininho, eles saíram sem dar aviso prévio aos pais. Paxton não tinha o costume de dar as devidas satisfações quando saia — às vezes escondido — no meio da noite. Ela, por outro lado, nunca havia feito e também preferia não quebrar a confiança do irmão ou perder a oportunidade de ser popular por conta própria.

No banco traseiro do carro, Marceline sentou perto de Alycia, que aguardava em seu estilo anos 2000 — meia-calça azul, minissaia, camisa larga e tênis. Ela era a capitã do time de futebol feminino da escola e sempre foi muito descolada.

— Parece que tem alguém super enfeitado para a namoradinha! — caçoou James, dando partida. O motor do carro antigo rugindo como uma lata velha.

— Cala essa boca e acelera aí, tenho muita sede. — ordenou Paxton.

— Mas você bebeu tanta água antes de sair... — franziu o cenho, confusa.

— Não é esse tipo de sede, Marceline. — Alycia suspirou.

A dupla da frente se encarou por dois segundos.

— Eu não vou ficar de babá! — afirmaram ao mesmo tempo.

— Ela é sua irmã, você cuida. — James jogou a responsabilidade no colo do outro.

— Aly... — ele amansou a voz para a namorada, que assobiou fingindo não estar ouvindo a conversa.

— Eu não preciso da supervisão de ninguém! — a mais nova mostrou a língua.

— Ótimo! — Alycia sorriu orgulhosa — Eu vou estar bem ocupada trocando muita saliva.

— Eu posso saber com quem? — Paxton se fez de bobo.

— Com o primeiro que passar, é óbvio — debochou.

— Irmãzinha, pode me apresentar aquela... — foi interrompido antes de concluir a frase.

— Acho melhor se calar, meu bem. — a morena cerrou os olhos, possessa.

Marceline passou o caminho calada, James incentivando a implicância do casal com provocações bobas. Enquanto ao redor, carros e motos diversas se alinhavam atrás deles — estranhamente — em silêncio, até Kobi surgir como um relâmpago em sua enorme moto amarela, numa rajada de velocidade que parecia arranhar toda a pista; contagiando a todos com gritos e buzinas. Ela observou um pouco atônita como ele desapareceu rapidamente na frente deles.

Quando os faróis apagaram, se deu conta de que finalmente estavam na casa da festa. O local se erguia com uma porta estreita de aparência velha, a estrutura abandonada e extremamente familiar. O ambiente rústico contrastava com os esforços do comitê de boas-vindas, que decorara o local com fitas coloridas e discos antigos. Thriller ecoava das paredes e todos pareciam à vontade, misturando-se sem distinção de nível social.

𝐔𝐌 𝐋𝐀𝐂̧𝐎 𝐃𝐄 𝐅𝐈𝐓𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora