Capítulo 1

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Já se passava das nove quando escutei o barulho de rodinhas se aproximando, durante os trinta minutos que fiquei esperando na pracinha próxima ao orfanato eu me mantive encolhida pelo frio, fumando um cigarro e ouvindo musica no meu antigo MP3, põe antigo nisso. Atualmente quase não vendem mais, é tão antigo quanto um toca fitas eu diria. A maioria dos órfãos adolescentes tinham um ou dois toca fitas, meio que sempre ganhávamos vários e vários de presente de natal. O Prefeito adorava juntar souvenires antigos e doar de presente para os órfãos, não que eu desgoste disso, atualmente além de um toca fitas e fone, havia ganhado esse MP3 de natal no ano passado. Felizmente consegui arranjar um cartão de memória com um dos meus amigos, cheio de musicas dos anos 80, 90 e 2000. Os rocks mais antigos são os meus preferidos.

E novamente eu me peguei sorrindo enquanto lembrava de todos os últimos natais que passei com todas as crianças e adolescentes e os jovens mais velhos que aos poucos iam sendo chutados do orfanato. Estava tão absorta pelas memórias que não senti o tempo passar. Foram dois, três, quatro cigarros ate finalmente ouvir o famoso barulho das rodinhas de skate se aproximando pela calçada.

Sorrir instintivamente já sabendo que era o Jack com mais um de seus famosos skates, eu sempre digo que ele deveria entrar no ramo, ele sabe de cabeça como montar, desmontar, ajustar, concertar ou ate mesmo substituir peças. De qualquer tipo de skate, skate de rua, skate de pista, skate de manobra, skate simulador de surf. Todos os tipos, ele era meio que o gênio da coisa toda, e sempre conseguia arranjar um skate velho ou novo para si mesmo. Obvio, ele sempre fazia parte de todos os eventos, concursos ou campeonatos amadores de skate. Seja na cidade ou fora dela. O Jack é desapegado demais, você pisca e ele já foi para o outro lado do estado, de ônibus com apenas uns trocados no bolso e uma mochila de pano carregando apenas documentos água e sua bolsinha com cigarro, maconha e isqueiro. O skate sempre debaixo do braço ou sobre os pés. Ele é um cara livre. E as vezes essa liberdade toda dele me deixa levemente assustada e preocupada.

Levanto do banco de cimento da pracinha me aproximando dele enquanto ajeitava a mochila em minhas costas e a pequena bolsa no braço. Logo estávamos lado a lado.

- você demorou sabia ? fiquei realmente achando que iria dormir no banco da praça hoje – murmurei cheia de graça e sou abraçada por ele, sorri de ladinho e sinto ele tirar a bolsa do meu braço, ajeitando a mesma em seus próprios braços logo depois de deixar o meu skate aos meus pés. Ele poderia ser meio ignorante e grosso emocionalmente e psicologicamente, mas sempre foi muito cuidadoso e carinhoso com os amigos. O fato dele se importar em vir me buscar e ainda carregar as minhas coisas comigo, me deixou bastante aliviada. Querendo ou não, ainda sentia que estava sendo um estorvo. Um maldito estorvo. Eu odeio isso.. odeio essa sensação incomoda no fundo do peito.

- Desculpa a demora Lica. A Mari queria ajuda para arrumar o trailer, quando eu sai já era um tanto tarde e os garotos que me deram carona, deram a volta pelo outro lado da cidade. Tive que voltar a maior parte do caminho. – encolho os meus ombros me sentindo totalmente culpada e incomodada. Ele deu um soquinho no meu ombro enquanto eu ajeitava as duas alças da mochila nas costas, empurrando o skate com o pé antes de dar um pulinho sobre o mesmo e me equilibrar enquanto meu corpo dava ainda mais impulso ao objeto. – não faz essa cara maninha. Você sabe que eu atravessaria esse Estado todinho só pra te buscar.

- Não é como se eu me sentisse verdadeiramente confortável em saber que você esta batendo perna a um tempão só pra vir me buscar – reclamo enquanto andamos juntos. Ele abanou as mãos como se o que eu tivesse dito não fosse nada.

- Você sabe que eu gosto de andar. Não me importo de rodar a cidade inteira com você. E bom.. vamos ter uma boa andada pela frente. São uns 17 quilômetros ate a estrada que leva pro acampamento e mais dois quilômetros de terra ate a reserva. Vamos ter muito tempo para conversar enquanto isso.

My Darling Sister - Romance SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora