Capítulo 5 - Como Tudo Nasce

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Falar da figura de Rafael, me lembrar do contato visual com aquele ser perturbador, me atormenta de uma maneira inexplicável, o monstro de meus pesadelos.

Para te explicar melhor, me permita voltar alguns anos na história, mais precisamente retornar à época em que eu conheci Jhonatan, aos meus 18 anos de idade.

Eu tinha acabado de iniciar a faculdade de direito, curiosamente, havia terminado um relacionamento conturbado um mês antes da notícia de que tinha passado no vestibular. Eu estava em uma festa no campus da faculdade, especialmente feita para os receber os calouros daquele ano, estava com minha amiga Gita sentada de frente a um balcão improvisado onde estavam servindo as bebidas, estava tão desanimada que nem mesmo o álcool poderia me atrair naquele momento.

- Meu namorado logo vai chegar. – dizia Gita para mim.

- Que namorado? – perguntei.

- Aquele que eu te falei...que estuda Educação Física e é atleta aqui da universidade.

- Ah sim, o jogador de basquete?

- Ele mesmo amiga!

Enquanto Gita de uma forma emocionada, igual uma adolescente inocente, falava de seu novo amor, eu prestava mais atenção no programa de futebol que passava na TV do bar, acho que era uma notícia com algo relacionado às seleções europeias. É possível que você imagine e pense em uma pessoa que fala desesperadamente de uma forma dramática de um assunto pouco interessante, era assim que Gita descrevia o garoto, e eu, como uma boa amiga, apenas ouvia.

Após alguns minutos, resolvi tomar duas garrafas de cerveja com uma porção de batata-frita e bacon. Já não estava no clima daquela festa e bebia com pressa para sumir, sumir e ir embora, como o costume que sempre tive de fazer em lugares que já não me agradavam.

Mas então, chegou o namorado de Gita, abraçando-a de surpresa por trás e beijando sua bochecha, era um rapaz alto, branco e com o cabelo ralo, tinha os dois braços fechados de tatuagem, símbolos que não sou capaz de explicar o que eram, estava com uma blusa preta de alguma banda de rock que não me lembro qual, usava uma calça larga e rasgada na altura do joelho, além de algumas correntes no pescoço e no pulso. Em uma fala cheia de gírias, se apresentou a mim com um beijo em minha mão enquanto um de seus braços davam a volta no pescoço de Gita.

- Satisfação bebê, me chamo Rafael Cavalieri, e você? – disse ele.

- Meu nome é Fernanda Medeiros.

- É nova por aqui?

- Sim, sou caloura!

- Ah, e qual curso vai fazer?

- Direito.

- Boa, juíza. – deu uma pausa e puxou o garoto que acompanhava ele. – Esse bonitão aqui é meu irmão, Jhonatan Cavalieri, te adianto meritíssima, que o Estado Civil dele no momento é de solteiro, além de futuro médico.

O garoto, bom, Jhonatan, empurrou o irmão e fechou o rosto, não olhou para mim direito e estava com uma expressão séria e reclusa, para dizer a verdade, assim como eu, parecia que ele não queria estar naquela festa também, já que se afastava a cada tentativa em que fazíamos questão de o incluir em nossa roda de conversa.

Era nítido a diferença entre os irmãos, Jhonatan falava pouco, mas falava com uma voz firme e sem desvios no português, era tão alto quanto o irmão, porém, tinha o cabelo liso, pouco maior em relação ao de Rafael, usava óculos e uma camiseta social branca com as mangas arregaçadas, olhava constantemente para o relógio em seu pulso.

Já cansada de assistir a cena nem um pouco romântica das trocas de beijo entre Rafael e Gita, resolvi ir embora devagar para que ninguém percebesse, entretanto, Jhonatan percebeu e me ofereceu sua companhia por algumas estações no metrô que faziam parte também do caminho dele.

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