De volta à Londrina
Em Londrina, no início, eu oficialmente tinha mais tempo para Jude, levava ela para todos os lugares, fomos conhecer o Parque José de Azevedo que ficava de frente ao Ribeirão Do Cambé, um lado consideravelmente grande no coração da cidade. Ela aprendia a andar de patins comigo e apesar das quedas, ela era capaz de me acompanhar na maioria das vezes, eu imaginava o quanto poderia investir em seu promissor potencial no esporte.
Jhonatan passava cada vez menos tempo em casa, parecia que trabalhava o dobro do que fazia em São Paulo. Jude sentia sua volta, me perguntava a todo momento que horas ele chegaria e eu, inocente como era, não sabia responder e desconversava para distrai-la com qualquer outra coisa.
Nós aproveitamos muito bem esses pequenos momentos, dançávamos juntas na sala nossas músicas favoritas, assistíamos jogos de futebol (assim como o pai, Jude se tornou uma Corinthiana nata), também sempre estávamos vendo algum filme ou animação interessante. Eu me impressionava com a inteligência que minha filha tinha já tão nova, nós sempre incentivamos seu desenvolvimento, mas, ainda sim, ela parecia estar superando nossas expectativas.
Entretanto, nem só dessa diversão poderia vivermos, eu procurava trabalho mesmo que não agradasse meu marido, enquanto Jude se preparava para ir à escola nova. Nessas mudanças, me preocupava sua reação ao se deparar com grupos de crianças completamente novas. As crianças costumam ser cruéis umas com as outras, principalmente com aquelas que são diferentes delas. Jude era diferente em tudo, seu sotaque, suas roupas, suas percepções, suas vivências, entre outras coisas que me tiravam o sono ao pensar no que ela poderia sofrer nesse reinicio.
Acabou que meu pensamento sofreu um forte efeito dialético, Jude chegava todos os dias da escola falando sobre suas novas amizades, o que me alegrou, me acalmava ver a capacidade da minha filha em se adaptar à uma situação diferente, situação essa da qual eu mesmo não me adaptei.
A mãe de Jhonatan, dona Helena, se tornou uma gigante pedra em meu sapato. Por sermos vizinhas, ela vinha me visitar em todos os momentos do dia, era tão idosa quanto minha mãe, então eu não poderia destratar ou evita-la mesmo que estivesse cansada de ter minha privacidade sugada por alguém que nem deveria fazer parte da minha vida. Ela era extremamente religiosa, sabia que anos atrás, na minha primeira gravidez, eu já teria adquirido a vontade de abortar, então se preocupava que nos aposentos da minha solidão, eu adotasse novamente esse pensamento.
Aquilo era diferente, eu encarava como uma benção ter a oportunidade de ser mãe pela segunda vez, sem contar que, Jude estava crescendo rápido, isso também seria fundamental para ela tendo mais companhia em casa. A presença de uma segunda criança em casa poderia influenciar uma melhora nos cuidados que minha filha poderia admitir, dividindo comigo as responsabilidades vigentes, despertando nela um extinto materno que eu não tive em seu nascimento, as lembranças que teríamos nessa nova família me confortavam e, me fazia perceber que todos os esforços até aquele momento, valiam a pena mais do que eu era capaz de imaginar.
Eu já estava próxima dos meus quatro meses de gestação, nos últimos ultrassons não tinha sido ainda possível ao certo saber o sexo da criança, na verdade, pouco se podia ver, a barriga mal havia crescido. Aquilo me preocupava muito, passavam mil pensamentos pelos meus olhares, como a possibilidade de uma má formação de feto ou até mesmo a perca deste.
Jhonatan me acompanhou ao hospital naquele dia, o médico teria nos dado certeza, anteriormente, que finalmente nos daria a notícia que tanto esperávamos. Gita e outras pessoas próximas a nós insistiram para que eu fizesse um chá revelação (assim como fiz na época de Jude), mas como eu disse a pouco tempo, eu odiava festas, odiava ter que expor minha vida a tantas pessoas daquela maneira, então, fui firme para que a notícia fosse dada, de começo, somente para nós, os pais da criança.
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Pais e Filhos
Storie d'amoreOs problemas sempre estiveram presentes na conturbada vida de Fernanda. Entretanto, um acontecimento específico afetou sua memória e sanidade mental, tendo de que ao lado de uma profissional, contar a história de sua trajetória ao lado de sua jovem...