Capítulo 2

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A informação demora alguns segundos para ser processada por meu cérebro. Os alarmes soam apenas em ocasiões de extrema importância, e cada um deles significa uma coisa. 
Rapidamente vejo alguns guardas descendo escadas da ala leste do palácio, e minha intuição diz que isso não deve ser bom, é onde as armas são guardadas. Vejo Ali a poucos metros de distância chamando meu nome, um guarda ao meu lado com uma mão nas minhas costas incentivando delicadamente que eu siga os passos da princesa.  Tento relembrar as simulações que foram feitas e o protocolo que deve ser seguido em situações assim, mas não consigo então apenas ando. Um pé seguido do outro. Direita. Esquerda. Direita. Esquerda.

Quando me dou conta chegamos a uma das paredes de leva aos abrigos. Alice esmaga minhas mãos e diz palavras que não consigo entender, o alarme quase soa mais alto que meus pensamentos. Seguimos pelo extenso corredor iluminado por uma fraca lâmpada azul, até que chegamos a outra barreira onde mais dois guardas permanecem a postos, prontos para atacar qualquer que seja a ameaça. O barulho é abafado aqui no subterrâneo. Assim que passamos da grande porta de titânio me sinto mais calma e desabo no chão mesmo. A realidade me toca quando percebo meu rosto molhado por alguns resquícios de lágrimas.  A princesa está ajoelhada no chão, repreendendo-me por escolher um lugar tão grosseiro para me acomodar com tantos estofados espalhados pelo "cômodo", como se aquilo fosse algo corriqueiro. Digo que estou bem e me levando, tremendo e perdendo um pouco o equilíbrio. Alice está aqui, bem como Rony, o Rei e cinco guardas. Não acho que eles me defenderiam se houvesse necessidade. Chego mais próxima de um dos soldados, vestido com o uniforme todo preto, uma espécie de colete protetor, nunca o tinha visto.  Seus olhos logo detectam minha aproximação e a viseira de seu capacete é aberta, belos olhos.

-Tenho permissão para saber o motivo dos alarmes e de, consequentemente, estarmos aqui em baixo soldado?- pergunto tentando parecer mais calma, mas falho miseravelmente.

-Ainda não tenho certeza senhorita, mas três pacotes foram deixados no portão principal. Um deles explodiu à vinte minutos, deixando feridos e talvez algum cadáver. Os outros dois precisam ser localizados.- ele parece ser tão jovem para uma responsabilidade enorme de proteger a família Real, no entanto tão sereno em uma situação atípica como esta.

-Certo, muito obrigada...- aquilo me chocou mais do que o esperado. Pacotes enviados direto ao palácio. Por que fariam isso? Com a intenção de machucar, claro. Mas todos sabem que a segurança é extremamente reforçada. Nunca antes um ataque a residência real foi efetuado, por que logo agora? Os rebeldes revoltados, sempre que atacam, procuram fazê-lo bem longe dos muros. Justamente por esse motivo Alice, Ronald e eu não saímos mais juntos. Não há restrições para a criadagem, por este motivo o número de empregados diminuiu e os desaparecidos aumentaram. Apenas os de alma aventureira, ou loucos, saem à deriva.

Algumas horas se passaram e permanecemos aqui, cada um com seus pensamentos, em seus devidos estofados confortáveis. Rony e o Rei trocam algumas palavras vez ou outra. Alice cochila serenamente, depois de muitas tentativas de diálogo, que acabavam virando monólogos. Encontro-me numa posição nada adequada a uma dama, coisa que nunca me importou, com os joelhos junto ao peito e uma confusão de tecidos do meu vestido espalhados e embolados. Me assusto assim que sinto o toque de Ronald no meu ombro descoberto.

-Está tudo bem? Precisa de alguma coisa Malu?- posso sentir a preocupação em sua voz, mas não seguro uma risada estranha.

-Eu é quem deveria perguntar-lhe não acha alteza? Onde é que foi parar a relação entre patrão e empregado? Mais profissionalismo, por favor futuro Rei.

-É,  você está bem. Vamos, mova este traseiro avantajado mais para lá, ambos cabemos aqui tranquilamente.

-Primeiro chama meu traseiro de gordo e depois diz que somos magros o bastante para cabermos no sofá. Posso então engordar que continuarei confortável, certo alteza?- disse me sentindo mais leve e descontraída, o príncipe Ronald tinha esse efeito sob a maioria das pessoas, exceto em suas extensas reuniões com os demais membros do parlamento.

-Eu diria que seu traseiro é perfeito, assim como todo seu corpo, ponto final. Ressaltando, obviamente, meu pleno interesse em seu conforto e segurança. Está tudo bem mesmo?

-Se vossa alteza não parar de me cantar assim, na frente do Rei, não me sentirei mais confortável. Quer que eu fale de seus atributos físicos perante o principal membro do parlamento presente nesse cubículo?- apesar do tom amistoso, o que dizia era sério. Nossa relação não precisava ser divulgada assim. Apenas nós nos fazíamos necessários.
Rony desculpou-se e achei que poderia lhe fazer uma das muitas perguntas que explodiam em minha mente, pedindo para serem libertadas:

-Ainda vai demorar muito para sairmos?

-Tudo depende das buscas pelos pacotes, eles podem estar espalhados e bem escondidos. As áreas de principal circulação já foram revistadas diversas vezes, mas nada foi encontrado. O palácio é grande, todo cuidado é pouco. Está preocupada com o que?

-Com os motivos, oras. Um ataque assim, tão atípico... - Algo de muito estranho estava acontecendo e olhando nos olhos do jovem príncipe tive minha confirmação. Ele, que até poucos instantes atrás estava tranquilo, agora parecia inquieto. Segurando os polegares em um gesto nervoso, vi seu pomo de Adão subir e descer quando engoliu em seco, suas pupilas dilataram e seus olhos passaram a piscar mais do que o normal por minuto.

-Isso já aconteceu antes? Algo parecido pelo menos? Tem relação com a visita de Londres? Fale alguma coisa Ronald.- as informações rodavam e não chegavam a lugar nenhum em minha mente. Nada tinha ligação. Ou tinha?

-Esses são assuntos confidenciais Malu, sinto muito.

Como uma providência divina, um dos cinco guardas se aproximou de nós com a notícia de que tudo estava resolvido. Mas não para mim, não na minha cabeça, tudo permanecia nublado e confuso. Como um grande quebra-cabeças a ser montado. A única maneira de esquecer o assunto seria quando descobrisse a verdade que Ronald ocultava. E eu descobriria, juntaria todas as peças, custe o que custar.

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09/07/2015

O Futuro da NaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora