Capítulo 5

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Malu.


Um avestruz, era isso que eu queria ser naquele momento, para poder enfiar minha cabeça diretamente no chão e nunca mais tirar. Eu não tinha uma bola de cristal para saber quem era aquele homem inicialmente, mas isso não significa que eu tinha permissão ou direito de trata-lo do modo como tratei com tão pouco caso. Aquela roupa cara e bem passada servia afinal para sabermos que ele era superior a qualquer um que habitava esse país.

- De pressa! Não tenho tempo a perder com uma criada!

- Perdão Alteza - disse já me inclinando – Sinto muito, não sabia que o senhor já havia chegado, algumas coisas me impediram de...

- Abaixe-se mais, isso não é o suficiente. Que reverência medíocre! – sentindo um gosto mais amargo na boca dobrei ainda mais meus joelhos, estaria beijando o chão em poucos segundos se ele continuasse me obrigando aquilo.

- Sinto muito alteza. – dei graças a Deus por estar com a cabeça bem baixa, não mostrando meus "olhos falantes".

- Não quero saber de desculpas, todos devem saber quem eu sou, se você não sabe quem é seu futuro soberano deveria ser enforcada.

Aquilo realmente me assustou e imediatamente levantei minha cabeça, aposto que com meus olhos enormes de tanto medo, e o que vi foi um belo riso de escárnio crescer no rosto do príncipe. Não que ele estivesse brincando sobre o que disse anteriormente, na verdade aquilo apenas demonstrava que ele estava muito satisfeito do efeito que o poder dele tinha sobre mim, uma simples criada. Uau, mundo do mal. Uma pena que os anos trabalhando no palácio e convivendo com os esnobes tenham me preparado para sorrir também.

- Garanto que isso não voltará a acontecer alteza. – sorri o meu mais doce e sereno sorriso e isso pareceu choca-lo, talvez esperasse por um pedido de misericórdia. – Se me permite agora senhor, devo servir a princesa Alice.

Depois de uma breve reverência girei meus calcanhares e continuei meu caminho até o quarto de Alice, com menos pressa dessa vez para mostrar ao menos um pouco de classe e ao mesmo tempo afronta-lo, mostrando-lhe que poderia ordenar que eu permanecesse ali e até mesmo que poderia me punir. Mas o desprezível príncipe deixou que eu seguisse meu caminho e não olhei para trás com medo de encontrar sua expressão raivosa.

Podia sentir a adrenalina correndo junto com meu sangue através de minhas veias, ascendendo cada milímetro de meu corpo, sendo bombeada por meu coração que batia em ritmo frenético levando a pulsação até minhas têmporas. Assim que abri a porta do quarto de Ali me coloquei para dentro, fechando-a com as costas sem me importar com o estrondo, poucas vezes entrei sem bater em algum cômodo fechado, mas não me lembrei da privacidade da minha amiga naquele momento. E ela gritou com o susto.

- CALMA! SOU EU! – tive que gritar também para que ela me ouvisse. Eu estava tremendo e não sabia se o motivo era o grito ou a adrenalina que começava a se normalizar.

- EU TO VENDO!

- POR QUE AINDA ESTA GRITANDO ALICE?

- NÃO SEI! POR QUE VOCÊ AINDA ESTÁ GRITANDO?

- EU NÃO... – respirei fundo – Não estou gritando – Então ambas começamos a rir descontroladamente. Rimos tanto que logo estávamos jogadas na cama com as mãos na barriga. Aquele momento com ela era a melhor parte de meu dia. Respirando fundo diversas vezes conseguimos nos recompor e, claro, Ali começou a falar:

- Onde passou o dia? Meu irmão estava lhe procurando, contou alguma coisa sobre cair na escada e então vocês brigaram e você sumiu. Nossa o que aconteceu com seu rosto? Esta ainda mais branca que o normal.

- Achei que depois dessa sessão de gargalhadas eu fosse ficar rosa... – de repente perdi toda a vontade de contar a ela o que havia ocorrido a poucos minutos e até mesmo o que aconteceu depois do meu tombo.

- Não faça isso, sabe que eu não gosto. Não fuja do assunto Maria Luiza. – bufei propositalmente para que ela percebesse que eu não queria falar nada, apenas me desligar das coisas que me irritavam naquele momento, mas ela continuou olhando para minha cara esperando por uma resposta.

- Fiquei no jardim sul o dia todo, não consegui sair porque a porta estava trancada e nenhuma alma passou por lá, aliás, seria bom que você como princesa comentasse com seu pai que aquele canto anda tento poucas patrulhas...

- Tudo bem, está perdoada por me abandonar... foi Ian quem me contou que você estava desaparecida, ele veio aqui alguns minutos depois do remédio fazer efeito...

- Ele esteve aqui? Isso é interessante, você mesma abriu a porta? Ainda se lembra como fazer isso princesinha?

- Você é hilária... sim, eu mesma abri e proporcionei a ele uma maravilhosa vista de meu corpo apenas com uma camisola de verão. Deveria ter visto, ele ficou todo vermelho, não olhou em meus olhos por mais que alguns segundos e gaguejou muito.

- Nunca vi Ian gaguejar, uma cena impagável! E de onde tirou toda essa audácia?

- Acho que consegui aprender alguma coisa com você afinal...

Me levantei em um pulo e comecei a separar algumas roupas que ela usaria no jantar da noite, ainda na cama a loirinha me observava andar de um lado ao outro, entrei no banheiro e preparei suas coisas para o banho. Durante todo o processo Alice não parava de falar sobre Ian e o quanto ele era isso ou aquilo. Deixei que terminasse de se arrumar e fui para meu quarto, que era em uma porta conjugada com o quarto da princesa, afinal eu sou uma dama de companhia e melhor amiga. Tentei ser rápida em meu banho, coloquei um vestido para o jantar e pouca maquiagem, com os cabelos presos em uma trança frouxa. Toquei duas vezes na porta e entrei, deparando-me com uma Ali vestida como a princesa que era tentando prender os cabelos. A parte mais chata do jantar era o fato de ser deselegante usar um coque ou um rabo de cavalo e ser desconfortável ficar com os cabelos soltos caindo na comida. Fora isso tudo era maravilhoso, com entrada, prato principal e sobremesa. Ajudei-a com o cabelo enquanto ela voltava a falar:

- esqueci-me de lhe contar que o Príncipe Christopher está aqui! Falei apenas em Ian...

- eu soube Ali.

- teve tempo de conversar com alguma trabalhadora?

- sim. – menti pois não queria ter que contar justo agora o que havia acontecido lá em baixo.

Ouvi uma batida na porta principal do cômodo e fui abrir. Normalmente o príncipe ou o rei vinham buscar Alice nas refeições e eu os acompanhava independente de quem fosse, mas algo me dizia que aquela noite isso não seria possível. Logo que a porta foi aberta vi a carranca de Christopher Megero Walker, uma expressão muito marcante para alguém tão jovem e bonito.

- Era o que me faltava! – foi a primeira coisa que o cidadão falou antes que eu fechasse a porta em sua cara sem a menor preocupação ou culpa.

22/09/2015


O Futuro da NaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora