Terça-feira (I)

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Vasculho pelas estantes empoeiradas da biblioteca da escola.

     O lugar é grande. O silêncio, naquela hora, 14:20, me agrada. Tô na sessão minúscula de escritores locais.

     Dormi pouco. Minha cabeça ainda lateja. Tomei uns comprimidos, melhorei, mas já já vai voltar. Ao menos aguentei vir até aqui de bike.

     Meus cabelos tão emaranhados e mais oleosos que fritura de pastel. Hoje tá um clima bom, 20°. Fui com meu moletom desgastado — um dos bolsos rasgou, tá só o tecido pendurado, mas sei que ainda aguenta uns meses.

     Olho ao redor. As única pessoas presentes eram eu, uns professores e uns funcionários, trabalhando silenciosamente.

     Coloco meus fones de fio conectados no meu celular. Começa a tocar Pepperoni Playboy do Mac DeMarco. Pura trilha sonora.

     Respiro fundo, apreciando calmamente o instrumental, esperando pelo pior que virá.

     14:25. O combinado era 14:30 aqui na biblioteca. Ainda tenho 5 minutos — provavelmente bem mais — pra me preparar.

     — Marcos? —  Diz alguém às costas.

     Me viro subitamente, desconectando os fones rapidamente e os pondo no bolso, desastradamente. Por sorte, pude desviar o olhar a tempo.

     Moleque pontual.

     Sequer reparo no que Aluísio usava, como estava, o que fazia. Só sabia que estava ali.

     Sinto meu coração perder o controle. Está chegando na minha garganta, doendo, querendo sair pela boca. Engulo em seco, discretamente, olhando pros meus pés.

     — Opa — digo, forçando a saída das palavras.

     — Você já...

     — Não — respondo.

     — Certo...

     Aluísio vai até outra estante da sessão, em silêncio. Ficamos assim por um tempo, sem saber o que dizer, sem querer falar.

     — Você sabe qual o nome do livro que o Hermes usa pra ver a lista de poetas? — pergunto, quebrando com o silêncio, rouco.

     — Ah, é verdade. Bem pensado — comenta Aluísio, menos pomposo, mais retraído. — Eu tirei uma foto, da capa.

     Passa um tempo, continuo procurando, fugindo, alisando os mesmos conteúdos, as mesmas capas, cabisbaixo.

     Aluísio leva um artigo até meu lado. Olho pro livro, de soslaio, com as mãos nos bolsos rasgados do moletom.

96 HorasOnde histórias criam vida. Descubra agora