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Acordo gelado, cadavérico, zonzo como uma barata tonta.
Sinto meu travesseiro vibrar. Meto a mão na fronha: Aluísio tá me ligando.
Antes de atender, passo o olho pela barra de notificações: são 9 da manhã. 20 ligações no celular.
O toque é a intro da música "pra você e pra mim" do FBC. Atendo.
— Fala — esbravejo ao telefone, com a voz sonolenta.
—Finalmente.
— Eu tava dormindo, porra — digo, revirando os olhos.
— Tô ligado... — responde Aluísio, estalando a língua.
— O que era?
— Bem, depois que você saiu, meu tio me contou sobre uma antiga amiga do Sipper.
Meus olhos saltam para fora. Minhas orelhas se erguem. Meu nariz se contrai, um sorriso de canto se forma na lateral de meus lábios. Fico em silêncio, entalado na garganta, sem saber o que falar.
— Conte mais — arrisco, atropelando as letras com a língua eufórica.
— Ela mora em um dos apartamentos do centro da cidade. Se chama Vênus Miranda. Tem em torno de 45 anos, por aí. Meu tio falou com ela por ligação; aceitou ser entrevistada em troca de ração para gato. Vamos ter que ir até lá, querendo ou não. Talvez ela possa nos dizer o nome real do Sipper. Dizer por que dos desenhos de coroa. Esclarecer tudo!
— Fez tudo isso sozinho enquanto eu dormia?
— Eh... tecnicamente não. Meu tio me ajudou.
Arregalo os olhos brevemente. Me levanto da cama, correndo até o guarda-roupa para pegar meu blusão, apoiando o celular entre o ombro e a têmpora.
— Se arruma. Chego aí em 20 minutos.
Desligo o celular, jogando-o sobre a cama. Enfio o meu braço dentro da manga do blusão.
Já arrumado, passo na cozinha para comer algo antes de partir para o trabalho. Abro a geladeira, pego um suco de laranja encaixotado. Bebo da boca mesmo, que se dane, meu pai não tava lá pra me dar sermão. Deveria tá trabalhando.
Sinto um aperto no peito ao lembrar daquele sujeito. Olho para o lado, reparo na foto minha e dos meus pais emoldurada sobre a ilha da cozinha. Eu tinha uns 10 anos de idade, na época em que meu cabelo escuro chegava até as orelhas, usando um moletom de gorro cinza.
Capitu parecia incomodada em estar ali. Seu cabelo era comprido, ainda loiro, antes do dia em que decidiu pintar de preto. Sua roupa era clara e cobria o corpo todo, quase uma noiva. Não encaixava no seu estilo. Um peixe fora d'água.
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96 Horas
RomanceDois ex amigos são forçados a trabalhar juntos em um trabalho de escola. Terão 96 horas para coletar informações pela cidade acerca de um poeta misterioso, desaparecido sem deixar vestígios claros.