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O ano era 1995.
Entrei discretamente pela porta da biblioteca do colégio.
Um jovem escrevia em seu caderno à mesa de estudos, meditando, mediando suas palavras com um lápis de ponta roída pelos próprios dentes em mãos. O local era ventilado, balsâmico, asseado e brilhante.
— O que faz sozinho aqui, garoto? Por que não aproveita o carnaval com seus colegas no pátio? — Perguntei às suas costas. O menino se virou abruptamente para mim, assustado, escondendo os papéis debaixo dos braços como se sofresse um assalto.
O jovem ofegou ligeiramente, aliviado, mas ainda defendendo sua moral e seu conteúdo sobre a mesa.
— Olá, professor Michael. Estou... fazendo umas coisas minhas — respondeu o jovem, balbuciando, forçando a língua, quase engasgado.
Sorri para ele. O menino retribuiu, desajeitado. Lentamente caminhei com minha antiga bengala e minha pasta debaixo da axila até o outro lado da mesa, puxando e sentando em uma cadeira de frente para o estudante ali acomodado. O menino não desguarnecia sua escrita, feito preás resguardando seus ovos à beira de um açude.
— Posso ver o que está redigindo aí? — Pedi, ignorando o cumprimento do menino. Mesmo assim, ainda me esforcei para sorrir.
O jovem engoliu em seco, se escondendo entre os ombros, revirando os olhos.
— Me desculpe, mas não posso.
Meu sorriso murchou, mas não o suficiente para desvanecer. Tornou-se um leve levantar de canto dos lábios.
— São seus poemas, não são?
O menino arregalou os olhos. Lentamente virou seu rosto na minha direção, me mirando, vendo minha feição de olhos espremidos pelas bochechas.
— O... que? — Renegou o menino, suando frio pelas mãos já oleosas sobre os papéis de seu caderno.
— Bem, desde o começo do ano, tenho ouvindo rumores acerca de um suposto poeta misterioso que anda vandalizando as carteiras e deixando cair na lixeiras poemas de altíssima qualidade. Suas obras são assinaladas com o pseudônimo de "Sipper". É comum encontrar poesias dele segmentadas por ilustrações de uma coroa esboçada. — Pus a pasta que segurava sob a axila sobre a mesa de madeira.
— E daí? — Questionou o garoto, acanhado, mas ainda disposto empertigado.
Em silêncio, abri minha pasta, apanhando provas de gramática. Folheei uma por uma, até pescar a que queria. Coloquei o papel sobre a madeira, suavemente, como se o acariciasse, ou empoleirasse um pequeno condor, para que o menino o pudesse ler.
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96 Horas
RomanceDois ex amigos são forçados a trabalhar juntos em um trabalho de escola. Terão 96 horas para coletar informações pela cidade acerca de um poeta misterioso, desaparecido sem deixar vestígios claros.