Capítulo 13 - O fantasma do natal passado

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ADAM LEGRAND

A primeira neve chegou em New York, assim que desembarquei na França, tive sorte de ser rápido o bastante, mas não fui esperto, prometi a Eva que estaria lá no dia da apresentação, porém, nunca me passou pela cabeça que fosse o mesmo dia que eu precisaria estar aqui.

Arrasto minha mala colocando-a no primeiro táxi que consigo, o motorista estranha meu destino, mas apenas segue viagem me deixando no cemitério.

Não demora muito para que eu encontre o que procuro, então me abaixo e  coloco as flores que comprei.

– Oi Chloe, eu estou aqui pra te ver de novo como prometi. – Limpo a lágrima que insiste em cair e tiro da mochila uma garrafa de chocolate quente. – Comprei no aeroporto, eu sei que você gosta muito de chocolate, mas não tive como fazer, vim direto pra cá. 

Me abaixo, servindo o chocolate na tampa da garrafa e o coloco em cima do túmulo. 

– Eu ainda lembro daquele dia, mas seu rosto está se apagando aos poucos da minha mente, nosso pai disse que eu não merecia ter uma foto sua, porque a culpa de você não estar mais entre nós era minha.

Uma dor forte preenche meu peito, misturado a tristeza e raiva, raiva de mim por ter insistido tanto em sair com ela aquele dia.

A cena passa na minha mente como se estivesse revivendo o momento.

Estávamos em uma das estações de esqui da França, meus pais queriam relaxar no Spa e tudo que eu queria era praticar snowboard, eu insisti que me deixassem ir, minha irmã mais nova Chloe tinha 6 anos na época e eu tinha 16. Levava ela pra cima e pra baixo sempre que podia, e nesse dia não foi diferente.

Comecei a praticar e ela estava apenas me olhando no início, pediu para tentar e eu disse que ela não tinha idade o suficiente, ela ficou chateada no início, mas eu disse que brincaria com ela mais tarde, Chloe fez uma bola de neve e jogou em mim, fiz uma bola também e sai correndo atrás dela, ela gargalhava com a brincadeira, mas sua risada foi se tornando distante e eu não conseguia achá-la.

Vi uma comoção se formar em volta de um grande destacamento de neve que parecia ter acabado de cair, eu fiquei parado por um momento, acho que entrei em estado de choque, comecei a chorar e a cavar em meio a toda aquela neve, minhas mãos tremiam ,não conseguia ver nada devido as lágrimas.

Uma mulher tocou meu ombro e eu me virei pra ela implorando por ajuda, de todas as pessoas que estavam ali ela foi a única que me ajudou, ela ligou pro grupo de resgate. Chloe passou 6 horas debaixo de toda aquela neve, meus pais ficaram uma fera comigo, ela foi levada ao hospital, e no dia seguinte recebemos a notícia de que ela havia falecido.

A repetição da cena acaba no momento em que ouço meu nome.

– Adam? – A voz do meu pai soa ácida quando pronuncia meu nome.

Me viro para ele reparando em seus cabelos grisalhos, sua aparência é jovem, seus 56 anos parecem diminuir pelo bom condicionamento físico.

– Eu

– O que está fazendo aqui?

– Estou visitando minha irmã, não deu pra perceber?

– Você foi um desperdício de vida mesmo, não tem nada pra fazer? Seu trabalho é tão insignificante que pode tirar todos os dias de folga?

– Não Loui, a vida me ensinou que pessoas importantes valem tirar cada dia de folga do meu trabalho, mas você não saberia disso, já que não folgou nem no dia do enterro da sua filha.

Ele me olha de baixo pra cima e me afasta colocando um buquê de flores no túmulo.

– Eu tinha vidas pra salvar, minha filha está aqui para que eu a visite todos os dias.

Everything For A SongOnde histórias criam vida. Descubra agora