5

6.8K 384 6
                                    

AMÉLIA

Eu estava deitada na cama, soluçando baixinho enquanto tentava entender tudo o que havia acontecido. Cada lágrima que escapava dos meus olhos era como um peso a mais sobre meus ombros já cansados. A dor da discussão com a minha mãe ainda ressoava na minha mente.

Eu não conseguia acreditar que ela não acreditava em mim, que ela estava disposta a me expulsar de casa em vez de ouvir o que eu tinha a dizer. Eu me sentia traída, magoada e incrivelmente sozinha.

Eu não tinha ninguém em quem me apoiar. Todos os que eu conhecia faziam parte da igreja que minha mãe, Agenor e eu frequentávamos. Aos olhos de todos, erámos a família ideal, sem defeitos, sem problemas... Era tudo mentira.

Pedir ajuda a algum deles não ia adiantar.

A discussão com minha mãe foi um golpe profundo. Sua recusa em acreditar em mim, sua escolha em apoiar Agenor ao invés de me proteger, me deixava em um estado de desespero.

Eu sempre pensei que minha mãe estaria ao meu lado, não importava o que acontecesse, mas sua cegueira em relação à verdadeira natureza de Agenor parecia inquebrável.

Cada palavra dela, cada acusação de que eu estava inventando coisas, reverberava na minha mente como um eco doloroso. Era como se uma parte de mim tivesse se quebrado, uma confiança que eu nunca pensei que seria abalada.

O medo de Agenor era algo que eu carregava há anos, um fardo silencioso que crescia cada vez mais. Seus olhares lascivos, os toques indesejados, e aquele sorriso debochado que nunca deixava o seu rosto me faziam sentir enojada e vulnerável. A sensação de estar sempre observada, sempre à mercê das suas vontades, era sufocante.

Saber que ele tinha o apoio da minha mãe apenas intensificava meu medo. Eu sabia que, enquanto ele estivesse por perto, eu nunca estaria realmente segura.

Enquanto olhava para o teto, pensamentos de meu pai invadiram minha mente. Ele sempre fora meu porto seguro, alguém em quem eu podia confiar. Se ele estivesse aqui, tudo seria diferente. Ele teria acreditado em mim, teria me protegido. A saudade apertava o meu peito, e eu desejava mais do que nunca poder abraçá-lo novamente, sentir a sua presença reconfortante e ouvir as suas palavras de sabedoria.

Ah, que saudade, papai...

Foi então que o meu telefone tocou, quebrando o silêncio sufocante do quarto. Vi o nome de Liliana na tela e, com um suspiro, atendi.

— Alô? — minha voz saiu trêmula e fraca.

— Amélia? Sou eu Liliana. Liguei para confirmar a reunião sobre a reforma da escola amanhã. — a voz de Liliana soou do outro lado da linha. — Você está bem? Tô achando a sua voz estranha.

Eu respirei fundo, lutando para encontrar as palavras certas para descrever o que estava sentindo.

— Eu... não estou bem, Liliana. — admiti, sentindo as emoções transbordarem novamente.

— Eu sabia que algo estava errado. O que aconteceu?

Fechei os olhos por um momento, tentando reunir coragem para falar sobre aquilo.

— Eles... minha mãe e meu padrasto... vieram até o meu quarto. Disseram que eu não posso ir embora, que estou inventando coisas sobre Agenor e... — minha voz falhou, revivendo a dor da rejeição e da incompreensão.

Houve um breve silêncio do outro lado da linha enquanto Liliana processava minhas palavras.

Enquanto eu tentava explicar, comecei a sentir o aperto familiar no peito. Minha respiração ficou rápida e superficial, como se o ar estivesse sendo sugado para fora do quarto. As paredes pareciam se fechar ao meu redor, e minha visão começou a embaçar com lágrimas.

Seduzida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #1]Onde histórias criam vida. Descubra agora