22

3.9K 195 14
                                    

AMÉLIA

— Você tá bem? — perguntou, segurando meu braço e me puxando para longe de Pesadelo e Maicon.

— Tô. — respondi, tentando sorrir para tranquilizar ela, mas minha voz tremia. — Vamos logo antes que ele mude de ideia.

Caminhamos em silêncio por alguns minutos, até que Liliana finalmente quebrou o silêncio.

— Amiga, você não devia ter falado com ele desse jeito. — disse, a voz baixa e preocupada. — Ele é perigoso, não dá pra brincar com isso, Amélia. É sério!

— Eu sei. — suspirei, sentindo um peso no peito. — Mas eu não posso deixar ele pensar que manda em mim. Não posso voltar a ser controlada por ninguém, nem por ele.

— Eu entendo você, mas olha o que aconteceu com o Deco… — lembrou.

— Por isso mesmo, Lili. Imagina o que ele é capaz de fazer só porque decidiu sozinho que eu sou dele, que eu devo explicações, que a gente tem algum tipo de relação.

Que você é mulher dele. — adicionou e eu senti um arrepio.

— Eu pensei que ele era diferente, Lili. Que poderia… melhorar, sabe? E quem sabe a gente pudesse se conhecer, ter algo a mais. — desabafei com ela.

— Mas viu que ele não iria mudar?

— Ele é esse monstro que as pessoas têm medo e não vai mudar. O Arthur sempre vai ser assim, não adianta.

Liliana assentiu, compreendendo meu dilema, mas não disse mais nada. 

Eu e Liliana seguimos em direção à loja de Lia, onde trabalhávamos. O caminho parecia mais longo do que o normal, talvez por causa do encontro tenso com Pesadelo. Minha mente ainda estava a mil, tentando processar tudo o que tinha acontecido.

Quando chegamos à loja, Lia já estava lá, organizando as prateleiras. Ela nos cumprimentou com um sorriso caloroso.

— Bom dia, meninas! — disse ela, sem perceber nossa tensão. — Prontas pra mais um dia?

— Bom dia, Lia! — respondi, tentando soar animada. — Prontas, sim.

Começamos a arrumar a loja, colocando as novas mercadorias nas prateleiras e atendendo os primeiros clientes do dia.

Tentei me concentrar no trabalho, mas a imagem de Arthur e sua advertência ainda pairavam na minha mente.

Durante o dia, tentei me concentrar no trabalho e esquecer a tensão com Arthur. Mas a verdade é que suas palavras ainda ecoavam na minha mente, e eu sabia que ele estava certo em um ponto: o perigo na comunidade era real, e talvez ele fosse mesmo a única pessoa capaz de me proteger.

Enquanto organizava algumas camisetas, notei a entrada de um homem que eu nunca tinha visto antes. Ele era alto, com uma barba rala e olhos atentos que varriam a loja com curiosidade. Liliana também percebeu e me lançou um olhar.

— Olá, bom dia! — cumprimentei, tentando soar amigável. — Posso ajudar em algo?

— Bom dia. — ele respondeu, com um sorriso que não chegava aos olhos. — Tô procurando umas camisetas. Pode me mostrar algumas?

Conduzi o homem até a seção de camisetas, tentando afastar a sensação de desconforto que sua presença me causava. O olhar dele parecia me analisar intensamente, ele parecia interessado em mim mais do que nas roupas, e isso me deixava inquieta.

— Você trabalha aqui há muito tempo? — perguntou ele, pegando uma camiseta.

— Não muito. — respondi, tentando ser vaga.

— E mora por aqui? — insistiu, seus olhos fixos nos meus.

— Moro. — respondi, meu desconforto aumentando.

Liliana, que estava por perto, se aproximou, percebendo minha inquietação.

— Algum problema? — perguntou ela, olhando diretamente para o homem.

— Não, só tô fazendo algumas perguntas. — ele respondeu, sem se intimidar. — É sempre bom saber um pouco mais sobre quem nos atende, ainda mais quando a mulher é tão bonita.

— Não é comum os clientes fazerem perguntas tão pessoais as funcionárias. — disse Liliana, firme. — Se precisar de ajuda com as camisetas ou outra coisa relacionada a sua compra, estamos aqui.

O homem deu um sorriso forçado e voltou a examinar as roupas, mas eu podia sentir seus olhos me observando de soslaio. Meu coração estava acelerado, e eu queria que ele fosse embora logo.

Nesse momento, através do vidro da loja, avistei um carro estacionado do outro lado da rua. Reconheci o homem que Arthur disse que ficaria aqui enquanto eu estivesse fora da comunidade. Ele estava sentado no banco do motorista, observando tudo atentamente e parecia estar de olho em mim, como Arthur havia prometido.

Liliana tinha dito que ele se chama Kaique. A presença constante dele me deixava desconfortável.

O homem estranho finalmente escolheu algumas camisetas e se dirigiu ao caixa. Enquanto eu embalava suas compras, ele continuou fazendo perguntas, desta vez mais diretas.

— Você tem namorado, marido ou algum ficante? — perguntou, casualmente.

— Isso não é da sua conta. — respondi, tentando manter a calma.

Ele riu, um som baixo e desagradável.

— Só tô curioso. Uma garota bonita como você deve ter alguém, não é?

Liliana se aproximou ainda mais, a tensão visível em seu rosto.

— Se não precisa de mais nada, pode pagar e ir embora. — disse ela, a voz firme.

O homem pagou suas compras, ainda com aquele sorriso irritante nos lábios. Quando finalmente saiu da loja, soltei um suspiro de alívio.

— Quem será que era esse cara? — perguntou Liliana, olhando para a porta por onde ele tinha saído.

— Não sei, mas não gostei nada dele, amiga. — respondi, sentindo um calafrio.

Nesse momento, meu celular vibrou. Era uma mensagem de um número desconhecido. Abri a mensagem e vi uma foto minha com o homem estranho, tirada do lado de fora da loja. Embaixo da foto, uma mensagem curta: 

"Cuidado com quem você conversa. Tô de olho em cada passo teu."

Olhei para Liliana, que estava ao meu lado, e mostrei a mensagem. Ela ficou pálida.

— Isso só pode ser coisa do Pesadelo. — disse ela, com a voz trêmula.

Assenti, sentindo um nó no estômago. A presença de Arthur em minha vida era mais intensa do que eu imaginava, e agora eu tinha que lidar com essa nova ameaça.

Tentei me concentrar no trabalho pelo resto do dia, mas a imagem do homem estranho e a mensagem ameaçadora não saíam da minha mente. Eu sabia que minha vida estava se tornando cada vez mais complicada, e que o perigo estava mais perto do que nunca.

Quando o dia finalmente terminou, Liliana e eu saímos da loja. O caminho de volta para casa parecia mais longo e escuro.

— Você vai ficar bem? — perguntou Liliana, a preocupação evidente em seus olhos.

— Vou. — respondi, tentando soar confiante. — Acho que só tive uma impressão errada daquele homem. Minha cabeça tá cheia de coisa, eu tô muito estressada e devo tá imaginando coisas, só isso.

Ela assentiu, mas eu sabia que ela também estava preocupada.

Chegamos em casa e fui direito para o quarto, me jogando na cama, exausta.

Minha mente estava um turbilhão de pensamentos e preocupações. Arthur, o homem estranho, a mensagem ameaçadora... Tudo parecia se misturar em um só pesadelo.

Seduzida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #1]Onde histórias criam vida. Descubra agora