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AMÉLIA

Eu estava sentada no sofá, tentando reunir coragem para falar com Arthur sobre algo que estava adiando há semanas. Finalmente, respirei fundo e decidi que não podia esperar mais.

— Eu preciso ir até a casa da minha mãe pegar o resto das minhas coisas. — disse, tentando manter a voz firme.

Arthur, que estava mexendo no celular, olhou para mim por um instante com uma expressão impassível.

— Você não vai. — respondeu, sua voz fria.

Pisquei, surpresa com a resposta dele.

— O que? — retruquei, com indignação. — Eu esperei todo esse tempo pra voltar. Eu tenho coisas importantes lá que preciso pegar, Arthur.

Ele desviou os olhos do celular outra vez, fixando seus olhos nos meus.

— Se o problema é esse, você pode comprar coisas novas. — disse com um tom inflexível.

Balancei a cabeça, frustrada.

— Eu não quero coisas novas, Arthur. Eu quero as minhas coisas, aquelas que têm valor sentimental para mim.

Ele estreitou os olhos com sua expressão endurecendo.

— Você vai ficar sem nada então, porque não vou deixar você sair daqui.

Senti um nó na garganta, a frustração e a raiva aumentando dentro de mim.

— Por que você tá agindo assim? — perguntei. — Faz semanas que você tá desse jeito, me proibindo de ir até na esquina, pedindo pra eu largar o emprego. Por que? O que tá acontecendo?

Arthur soltou um suspiro irritado, desviando o olhar.

— Nada, porra! — falou, a voz aumentando. — Eu simplesmente não quero que você vá e ponto, entendeu? Que caralho!

Eu não conseguia entender de onde vinha toda essa agressividade. Arthur sempre fora um pouco controlador, mas recentemente, ele estava se tornando insuportável.

— Eu não vou ficar aqui hoje. Vou dormir na casa da Liliana. — disse, levantando do sofá.

Antes que pudesse dar outro passo, ele se levantou rapidamente e segurou meu braço com força, seus dedos apertando minha pele.

Você não vai pra lugar nenhum. — disse, seu tom ameaçador.

Tentei puxar o braço, mas a força dele era maior.

— Me solta, Arthur! — disse, minha voz tremendo de raiva e medo. — Tá ficando louco?

Arthur me puxou para mais perto, seu rosto a poucos centímetros do meu.

— Já tô cheio desse seu querer. Você vai fazer o que eu mandar. — disse, sua voz baixa e perigosa.

Senti as lágrimas queimarem meus olhos.

— E eu tô cansada dessa sua mudança brusca de humor! Um dia você tá bem e no outro parece um louco. — disse. — Se você acha que pode me tratar assim, tá muito enganado.

Ele me soltou abruptamente, me empurrando ligeiramente para trás.

— Se me desobedecer, você vai se arrepender. — disse, antes de virar e sair da sala.

Fiquei ali, respirando com dificuldade, tentando processar o que tinha acabado de acontecer.

Com um suspiro pesado, peguei o telefone e liguei para Liliana.

— Lili, eu posso passar a noite na sua casa? — perguntei, minha voz ainda tremendo.

— Claro, Amélia. O que aconteceu? — Liliana respondeu, preocupada.

— Eu te explico quando chegar aí. — disse, desligando o telefone e começando a arrumar uma pequena mala.

Enquanto arrumava minhas coisas, senti medo e alívio. Medo do que Arthur poderia fazer.

Durante uns quatro meses depois da nossa conversa, ele tinha sido incrível. A gente estava se dando super bem. Mas de uns tempos pra cá ele sempre está com raiva, nervoso, como se quisesse matar alguém a todo instante. Eu não aguentava mais isso.

Tudo começou a mudar quando Arthur começou a receber aquelas ligações estranhas. Ele sempre atendia em um tom baixo, quase sussurrando, e depois ficava diferente, mais agressivo, mais controlador. Era como se ele estivesse tentando me isolar de todo mundo e de tudo.

Ele entrou no quarto quando eu estava terminando de colocar algumas roupas na bolsa.

— Eu já disse que você não vai, Amélia!

— Eu tô cansada disso, Arthur! — gritei.  — Não tô indo mais pro trabalho e nem participando das ações da igreja. Você tá me transformando numa prisioneira!

Eu sabia que minhas palavras o haviam atingido, mas ele simplesmente se recusava a ouvir. A cada dia, parecia que ele estava se tornando mais parecido com o Agenor e a minha mãe, controlador e manipulador.

— Você tá pior que o Agenor e a minha mãe! — continuei, minha voz cheia de frustração. — Qualquer dia desses eu vou simplesmente sumir e você nunca mais vai me encontrar!

Arthur levantou a mão, como se fosse me dar um tapa, mas parou no meio do caminho.

Olhei para ele, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Só o que falta agora é você começar a me espancar. — sussurrei, minha voz cheia de amargura e desafio. Aproximei meu rosto da mão dele, desafiando-o, sentindo a tensão no ar aumentar. — Me bate! — exigi, encarando-o com uma intensidade que eu mesma não sabia possuir. — Vamos, me bate!

Arthur tremeu de raiva, seu rosto contorcido em uma expressão de fúria contida. Por um momento, pensei que ele realmente fosse me bater, mas então ele desviou o olhar, seu braço caindo ao lado do corpo.

Ele deu um soco na parede ao lado da minha cabeça, o impacto fazendo um barulho surdo e assustador. Fechei os olhos instintivamente, meu coração batendo descontrolado.

— Você só complica as coisas, Amélia! — continuou ele, respirando pesadamente, seu corpo inteiro tremendo de raiva. — Você não entende porra nenhuma! — gritou, sua voz ecoando pelo corredor.

Eu estava tremendo de medo.

Abri os olhos devagar, encontrando o olhar dele

Não podia deixar que ele me tratasse assim. Respirei fundo e me aproximei dele, encarando seus olhos furiosos.

— Não, Arthur. É você quem não entende. — disse, minha voz firme. — Eu sou uma pessoa, não sua propriedade. E se você não consegue respeitar isso, então não tem mais nada pra gente conversar.

Ele ficou ali, respirando pesadamente, enquanto eu pegava minha bolsa e saía pela porta rapidamente.

Na casa de Liliana, sentei no sofá e finalmente deixei as lágrimas caírem. Contei a ela tudo o que tinha acontecido.

Eu me perguntava o que mais poderia ter levado Arthur a agir dessa maneira. As ligações estranhas, as mudanças bruscas de humor. Talvez ele estivesse envolvido em algo que eu desconhecia, algo que o estava pressionando e fazendo ele agir de forma tão irracional.

Mas eu não tinha certeza de nada, porque ele nunca me dizia nada. Sempre me escondendo coisas, nunca me deixando entrar no seu coração.

Eu sabia que não podia continuar vivendo daquele jeito. Merecia mais, merecia ser tratada com respeito e dignidade. E, acima de tudo, merecia ser feliz.

Eu tinha cansado. Estava claro que ele não mudaria. Ele não tinha mentido, esse era ele e nada faria ele mudar.

Seduzida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #1]Onde histórias criam vida. Descubra agora