JUSSARA
O sol brilhava intensamente sobre o quintal da casa de Arthur e Amélia, onde um churrasco animado estava em pleno andamento. A churrasqueira estava acesa, e o cheiro de carne grelhando se misturava com as risadas.
Eu observava todos, tentando me sentir parte daquele momento, mas a verdade era que me sentia deslocada. Minha filha estava à vontade, conversando com os amigos e rindo com Arthur.
Eles pareciam tão felizes.
Olhei ao redor e vi dois homens e uma mulher. Amélia tinha dito que aquela era Liliana, mas os outros dois eu não lembrava o nome.
Era como se todos ali tivessem um lugar, menos eu. A única que conversava comigo era minha filha.
— Mãe, você tá bem? — Amélia perguntou, percebendo meu desconforto.
— Tô sim, filha. — respondi, forçando um sorriso. — Só um pouco cansada. Acho que daqui a pouquinho vou embora.
Eu olhava ao redor, vendo os outros se divertirem, e me sentia ainda mais diferente, fora do lugar.
— Acho que o carvão tá acabando. Vou buscar mais lá dentro. — disse Amélia, se levantando.
— Eu posso ir. — interrompi, querendo fazer algo útil.
— Obrigada. — Amélia sorriu, agradecida.
Fui até a cozinha e comecei a procurar o carvão. Estava abaixada, mexendo nos armários, quando ouvi passos atrás de mim. Ao me virar, dei de cara com um dos homens. Eu me assustei com a presença dele, não esperando encontrar ninguém ali.
— Se assustou por quê? Tá devendo? — disse ele, com um sorriso de canto de boca.
— Nã—ão. Só não esperava encontrar alguém aqui... — respondi, ainda um pouco nervosa. — Me desculpa, mas eu esqueci o seu nome.
— PH.
— Esse é seu nome? — franzi o cenho.
— Óbvio que não. É Pedro Henrique. — disse ele, debochado.
Tentei me concentrar na tarefa, mas sentia o olhar dele sobre mim, e isso me deixava ainda mais desconfortável.
— Tá tudo bem aí? — perguntou ele.
— Sim, só... procurando o carvão. — respondi, evitando olhar diretamente para ele.
A sensação de estar deslocada e indesejada estava ficando insuportável. Respirei fundo e decidi ser honesta.
— Eu... acho que vou embora logo. Não quero incomodar os outros com a minha presença. Sei que não sou bem-vinda aqui. — disse, abaixando o olhar.
Ele me olhou.
— Você tá fazendo drama, sabia? Sua filha já te desculpou, então foda-se se os outros não gostam. — disse ele, com franqueza.
Balancei a cabeça, sentindo um nó na garganta.
— Eu sei quando é a hora de me retirar. — respondi, a voz baixa.
Ele me observava atentamente.
— Por que você fechou os olhos para o que seu marido fazia com ela? — perguntou ele, direto.
— Conheci o Agenor muito jovem. Na época, eu não percebia que ele me manipulava. Agora, depois de certa idade, eu entendo isso. Não que isso tire minha culpa. — respondi, honestamente.
Pedro assentiu, ainda me observando.
— Quantos anos você tem? — perguntou ele, curioso.
— Quarenta. — respondi, sem hesitar.
— Você pode refazer sua vida. Acertar dessa vez. Procura um homem de verdade e não um traste como aquele teu ex. — disse ele, debochado, mas com um toque de sinceridade.
Neguei com a cabeça, um sorriso triste nos lábios.
— A única coisa que quero é continuar trabalhando, viver em paz e pedir perdão à minha filha pelo resto da vida. — disse, com sinceridade.
Ele parecia ponderar sobre minhas palavras antes de perguntar:
— Você não pensa em arrumar um namorado?
Ri levemente, balançando a cabeça.
— Já não tenho mais idade pra isso. Perdi muito tempo ao lado de Agenor. — respondi, com uma leve tristeza.
Baixei minha cabeça, incapaz de levantar o olhar e encarar a realidade. Eu me sentia envergonhada e culpada, com um peso enorme no peito.
Senti os dedos dele tocando meu queixo, levantando meu rosto. Nossos olhos se encontraram, e ele disse com um sorriso brincalhão:
— Você não tem setenta anos, sabia?
Dei um passo para trás, tentando criar alguma distância, mas ele se aproximou ainda mais, me encurralando entre ele e a bancada da cozinha.
— O que você está fazendo? — perguntei, a voz tremendo.
— Vou te mostrar. — respondeu ele, com firmeza.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me beijou. Foi um beijo firme e intenso, e me assustei quando senti a língua dele na minha boca. Nunca, nem mesmo meu falecido marido ou Agenor, haviam me beijado daquele jeito. Era uma sensação completamente nova, e meu corpo reagiu de forma inesperada.
Minha mente estava um turbilhão de pensamentos, mas não consegui me afastar. O beijo dele era diferente.
Quando ele finalmente se afastou, fiquei ofegante e confusa, incapaz de formular qualquer pensamento coerente.
Dei um passo rápido para trás, tentando me recompor.
— Eu não posso... — murmurei, a voz trêmula. — Você não devia ter feito isso.
— Foi só um beijo.
Sacudi a cabeça, tentando afastar a confusão que dominava meus pensamentos.
— Você é mais novo que eu. Isso é inaceitável. — disse, a voz falhando um pouco.
Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós novamente.
— Você tem quarenta e eu vinte e oito... Acho que ninguém aqui precisa se preocupar com isso, né?! — disse ele, com um sorriso malicioso.
Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar ainda mais.
— Não... isso não está certo. — respondi.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele me puxou com certa brutalidade, segurando meus cabelos da minha nuca e voltando a me beijar. Tentei me afastar, mas ele me segurava firme. Minhas mãos tremiam enquanto tentava empurrá—lo.
— A gente não pode fazer isso... — murmurei contra os lábios dele, mas ele não parou.
— Claro que pode. — respondeu ele, a voz baixa e provocadora.
Ouvi passos se aproximando e empurrei ele para longe, me separando do beijo dele. Amélia entrou na cozinha, a expressão curiosa.
— Mãe, por que tá demorando tanto? — perguntou ela, olhando de mim para PH.
PH passou os dedos pelos lábios provocativamente enquanto me olhava. Senti meu rosto ficar quente, o nervosismo tomando conta de mim.
— Tá tudo bem, mãe? — perguntou Amélia, desconfiada.
— Tá... tá tudo bem. — respondi, nervosa, tentando me recompor.
PH riu, um riso debochado que fez meu coração acelerar ainda mais.
Eu não queria que ninguém soubesse o que tinha acontecido aqui.
— A gente só estava procurando o carvão, né? — disse ele, abrindo a geladeira e pegando algumas cervejas.
Antes de sair, ele me lançou um olhar, que me fez desviar o olhar imediatamente.
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Seduzida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #1]
RomanceAmélia, uma jovem de 21 anos, devota e dedicada a sua fé, participa de uma ação social em uma comunidade, onde conhece Arthur, conhecido como Pesadelo, o dono do morro. Pesadelo, obcecado pela beleza de Amélia, decide que ela seria dele, ela queren...