Capítulo XIV

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Desbloqueio o telemóvel para ver o que me esperava. Era apenas uma mensagem do meu pai a perguntar como estava e onde estava. Depois de lhe responder voltei a apreciar o meu café que, agora sabia melhor.
Observava o movimento externo. As pessoas andavam de um lado para o outro. Mulheres com sacos de compras e crianças com birras, homens e os seus carros impacientes devido ao trânsito urbano.
Havia muito barulho na cafetaria, era um barulho acolhedor até os meus ouvidos serem atacados por passos rápidos e barulhentos. À minha frente, sentada na mesma mesa que eu e com um ar parecido com o meu, parou uma rapariga de cabelos loiros acobreados, olhos esverdealhos e um ar muito doce. Parecia agitada com alguma coisa, notava-se pela sua respiração ofegante e pelo vento gelado que trouxe consigo do exterior.

-E tu és...? -levantei uma sobrancelha, mostrando-:-) me incomodada com a sua presença. Ela olhou-me meio triste e retirou as suas mãos de cima da mesa colocando-as nos seus bolsos do casaco fininho que trazia pelas costas.-
-Ah, desculpa... Eu saio, não queria incomodar. -ergueu-se e virou-me as costas procurando uma mesa vazia.-
-Não... Quer dizer, podes ficar aqui... Desculpa. -falei para as suas costas.-
Era uma rapariga bastante bonita, parecia uma modelo que por várias razões tinha fugido da casa dos pais porque eles não a autorizaram a ser uma modelo internacionalmente conhecida. Ela voltou-se novamente para mim e sorriu-me, ficando parada à minha frente. Tirou uma das mãos dos bolsos do casaco e esticou-a.
-Abigail. -apertou-me a mão e eu fiz o mesmo. Sentou-se novamente à minha frente.- Desculpa sentar-me aqui mas...
-Pois, com tanta mesa vazia foi logo aqui! -interrompi-a, mas depois de o ter feito arrependi-me logo a seguir.-
-Eu vou-me embora, é na boa.
-Não Abigail, desculpa... A minha vida não tem andado a correr bem.
-E o que tenho eu a ver com isso? -disse-o ao mesmo tempo que fazia um pedido gestual por um café.-
Fiquei indignada pela sua resposta, mas também estava a merecê-las. Não havia nada mais para além do barulho da sucção que fazíamos enquanto bebiamos o café e do barulho ambiente da cafetaria.
-Não, a sério, quem és tu e o que estás a fazer sentada na minha mesa com tantas outras vazias?
-Filipa Gonçalves? Ou @willowg? -fitou-me.-
Senti-me logo assustada. Porque é que o raio daquela miúda sabia o meu nome e o meu utilizador do twitter?
-S..Sim, sou eu. Porquê?
-Conheces ou conheces-te o Ashton Irwin?
-Sim, digamos que conheci...
-Então és mesmo tu... -murmurou.-
-Sou mesmo eu? Mas olha lá miúda, quem és tu e porque me andas a seguir? -ela deu um leve sorriso, fazendo com que ficasse mais assustada e com vontade de lhe bater.-
-É assim Filipa... -juntou as nossas mãos, começando a fazer-me carícias. Deixei-me ficar.- Não sei se já ouviste falar de mim, não faço a mínima, mas eu já conheci o Ashton...
-Já o conheces-te? -olhei-a desconfiada.- Tens provas disso?
-Tenho, mas isso agora não interessa! Filipa, por favor, não te metas com o Ashton, confia em mim, não te metas com ele... -pareceu-me persistente naquilo que dizia mas desconfiei.-
-E como é que eu sei que isso é verdade?
-Eu perdi o meu irmão. -murmurou- Chamava-se Mateus e tinha 12 anos quando lhe tiraram a vida. -agarrou as minhas mãos ainda com mais força.-
-Eu... Eu lamento Abigail... -a voz falhou-me.-
-Não lamentes. Sabes quem o matou? -fez-me uma pergunta retórica sem tempo para resposta.- O Ashton.
-O quê!? -o meu coração congelou. Ela fez-me sinal para não me exaltar.-
Por um lado não conseguia acreditar no que a Abigail dizia, mas por outro lado e com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara abaixo, notava-se então o poder do ódio pelo Ashton.
-Filipa, só te quero proteger. Ele fez com que me apaixonasse por ele, fez com que tivéssemos uma relação. -murmurou.- Mas o que tínhamos tornou-se obsessivo e, ele ameaçou-me. Se eu o deixa-se ela matava o Mateus, e eu deixei-o. Dez dias depois estava a levar o corpo do meu irmão para o cemitério. -engoliu em seco e eu fiz o mesmo. Levantei-me e fui-me sentar a seu lado.-
Só queria abraça-la. Queria dizer-lhe o quanto lamentava, o quanto temia por ela, mas não consegui dizer nada. -Foi difícil.
-Mas se sabes que foi ele e tens provas disso, porque é que não o foste denunciar à polícia?
-Eu tenho medo Filipa... Tanto medo...
-Mas ele matou o teu irmão!
-Eu sei que matou, mas ele tem muito dinheiro, dava cabo da minha família e da minha vida em dois tempos.
-Qual foi a justificação para a morte do Mateus?
-Por hipotermia. O quarto dele naquela manhã estava gelado, como se a janela ou a porta do quarto estivesse aberta durante toda a noite.
O meu coração pareceu acelarar. Respirei fundo.
-Abigail, eu vou-te apoiar. Promete-me que me vais ajudar se o Ashton me fizer mal...
-Prometo. Mas a partir de agora, Filipa, don't go.

Filipa, don't go. - ashton irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora