Capítulo VII

73 5 0
                                    

Passaram se três dias desde que estou em Sidney, tornou-se muito aborrecido. Estava farta da mesma rotina diária, de visitar os mesmos sítios, de tudo. Tinha saudades do meu quarto e do cheiro a cocó do Ruby debaixo do tapete.

As férias da minha tia tinham terminado, logo, estar metade do dia sem ela tornava-se constrangedor pois eram três homens em casa e uma mulher.

Fui uma vez à praia com eles, até achei engraçado porque apanhei o Guilherme a bater-me o coro enquanto mexia na pila. Foi ligeiramente constrangedor.

Encontrava-me deitada no sofá a ler um livro angustiante de Agatha Christie quando tocam à campainha. Quase precisei de uma grua para me erguer, mas lá consegui por-me de pé e levar a minha estrutura óssea até à porta.

Uma mulher, muito parecida com a Leonor, mostrou-me um sorriso antes de começar a falar. Mas infelizmente era péssima a inglês e só percebi que ela estava a falar acerca do seu neto e blá blá blá, só que depois as lágrimas começaram a surgir na sua cara rugosa e reparei logo que o assunto era mais sério.

Ganhei uma raiva de mim naquele preciso momento, aquela mulher andava quase decerteza à procura do neto e eu porque sou uma burra de merda a inglês não a podia nem sequer dar umas palavras de encorajamento.

Até que me lembrei que o Guilherme estava em casa. Fiz um gesto para a velhota esperar e ela percebeu que tinha que ficar ali até eu voltar.

Filipa- Guilherme! -disse abrindo a porta do quarto dele um pouco já sem fôlego devido à casa dos meus tios ser enorme e com uns vinte quarto- Exagero.

Guilherme- Filipa.. -eu percebi o tom de voz dele, significava que eu tinha entrado no quarto sem bater à porta, mas não havia tempo para essas coisas-

Filipa- Como é que se diz: 'Eu posso ajudar a encontrar o seu neto', em inglês?

Guilherme- I can help you to find your grandson. -murmurou- Mas porquê? -ele pareceu curioso-

Filipa- Eu depois conto-te. -saí do quarto a correr, o Guilherme teria que esperar que eu voltasse, eu não tinha tempo-

Vim ao encontro da tal senhora que mal me viu pareceu ganhar mais esperança e agarrada às fotografias do suposto neto e a deixar o suor escorrer-lhe pelo rosto ouviu o meu inglês.

Filipa- I can help you to find your grandson. -balbuciei estas oito palavras com intervalos enormes entre cada palavra-

Ela pareceu perceber que eu não falava inglês por isso, tal com eu, tentou pôr-se confortável. Contudo agradeceu o meu gesto assentindo a cabeça afirmamente.

Precisava de saber o seu nome, como não era burra nenhuma e ainda sabia racicionar como um ser humano normal, percebi que 'your' é teu ou seu e 'name' correspondia ao nome.

Filipa- Your name?

A sua expressão facial mudou como se eu estivesse a dizer alguma ofensa, se calhar estava, mas mudou logo assim que percebeu que eu precisava do seu nome.

Lauren- Lauren Jameson. -o seu sotaque era autêntico e precioso, era musica para os meus ouvidos-

Percebi que devia ser o primeiro e o ultimo nome dela. Apontei para a rua dizendo-lhe para irmos, mas ela ficou estática, devia estar a pensar que estava a manda-la embora ou assim.

Se isto acontecesse com uma amiga minha eu ria-me na cara dela até me vomitar de dores de barriga mas como me estava a acontecer a mim e o pânico era tanto que só me apetecia chorar. Pela primeira vez senti a falta da minha mãe.

Filipa- I can help you to find your grandson. -repeti a frase que o Guilherme me tinha dito há pouco mais de cinco minutos e saí de casa-

Ela deve ter percebido pois saiu logo atras de mim e até me fechou a porta de casa.

Enquanto caminhava-mos pelas ruas dos bairros de Sidney a Lauren olhava-me como se estivesse orgulhosa da minha decisão, como se me conhecesse e soubesse que eu sou uma adolescente que não quer saber dos sentimentos dos outros mas apenas e exclusivamente dos meus. Soube-me tão bem aquele olhar que o pânico todo com que eu estava foi-se dispercando aos poucos.

Filipa- Name of your grandson.* -eu precisava de saber o nome do neto dela, para o chamar ou assim-

* nome do seu neto.

Lauren- Thomas. -disse um pouco em baixo com esta situaçao toda e mostrou-me a pequena foto que tinha nas mãos-

Nunca me senti tão mal em 16 anos da minha vida. Um miúdo com pouco mais de 6 anos andava perdido por Sidney e com todos estes perigos da atualidade, sabe-se lá o que pode acontecer ao pequeno Thomas.

Procuramos por toda a parte. Cafés, centros-comerciais, super-mercados, farmácias, parques, por toda a parte mesmo, mas nenhum sinal do pequeno Thomas. Até que me lembrei que ainda não tínhamos procurado nos hotéis ou casas de acolhimento.Mas como é que eu ia dizer à Lauren que faltavam os hoteis?

 Tive que esperar até encontrar um hotel e quando o fiz agarrei os ombros da senhora e apontei para o grande edifício à nossa frente. Ela percebeu porque encaminhou-se logo para as portas enormes do Hilton, um dos hoteis mais próximos do centro da cidade. Mal lá entramos fomos deslumbradas com uma enorme sala de recepção repleta de luz e cor que foi simplesmente lindo, mas não havia tempo para lavar a vista. Enquanto a Lauren foi perguntar pelo seu neto à recepção e aos segurancas, eu fui perguntar aos clientes daquele hotel. Foi difícil, muito difícil para mim.

Ia tocando no ombro de cada cliente dizendo: 'kid is lost, name is Thomas'*, eles apenas davam de ombros ou respondiam que não tinham visto nenhum miúdo por aqui.

Tinha acabado de falar com um homem que por acaso também ficou sensibilizado com toda esta situaçao, mas não fez nada a nao ser tocar-me no ombro e dizer-me para ter muita esperança.

Fui passando por mais uns clientes até tocar no braço de um rapaz que se virou de imediato para mim. EU NAO ACREDITO NISTO. O rapaz que estava à minha frente era o mesmo que me tinha andado a atormentar durante quase dois meses, era aquele rapaz lindo por quem eu tinha uma crush, era o Ashton Irwin, membro da banda 5 seconds of summer.

*criança está perdida. O nome é Thomas.

Filipa, don't go. - ashton irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora