Capítulo 1

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Minha mãe sempre dizia para termos cuidado com o que postamos nas redes sociais, ela dizia que essas coisas podiam revelar nossos mais profundos traços de identidade e poderia ser utilizada por pessoas ruins para descobrir coisas sobre a gente. Eu nunca fui de me abrir muito na internet justamente por conta desse medo, na verdade acabei me tornando a pessoa que gosta de descobrir coisas sobre os outros.

Não que eu seja uma pessoa ruim, do tipo que planeja um ataque, um assalto, um sequestro ou algo do tipo, eu só era viciada em saber tudo da vida dos outros, saber dos mínimos detalhes possíveis sobre a vida delas. Isso era algo que me completava e me fazia sentir inteira, o frio na barriga que sentia enquanto via o perfil da pessoa que eu estava querendo procurar sobre. A cada descoberta meus olhos brilhavam cada vez mais, a cada novidade que eu encontrava mais eu me tornava viciada naquilo.

Era uma droga, eu sabia disso, mas mesmo assim eu me recusava a parar. Não haviam motivos, não me fazia mal e muito menos as pessoas que eu stalkeava. Na verdade, o único mal que fazia era quando eu conhecia uma das pessoas nas quais eu ficava obcecada e tinha que disfarçar que eu sabia tantas informações sobre ela. Se o FBI me conhecesse eles certamente me contratariam sem pensar duas vezes.

Tudo isso era um vício que eu não dividia com ninguém, não contava a ninguém, exceto a minha psicóloga, mas eu fazia isso porque era extremamente necessário caso o contrário eu esconderia dela também sem sombra de dúvidas.

Naquela noite fui forçada a sair do meu habitat natural do meu quarto e encarar a realidade. Eu fui para um barzinho e de lá acabei parando numa festa. As luzes piscavam no ambiente escuro e a música estava bastante alta, mesmo assim eu não dançava. Eu estava no canto da pista, no bar, bebendo calmamente o drink que eu havia pedido.

Meus amigos pareciam completamente entorpecidos pelo ambiente e pela bebida, enquanto eu me mantinha tranquila olhando cada situação ao meu redor com a maior serenidade, observando pessoa por pessoa, jeito por jeito, passo por passo. Planejando solenemente minha próxima vítima sem dizer uma palavra para aqueles que estavam ao meu redor.

Percebi que algumas pessoas ali eu já conhecia de resquícios de stalk, algumas eu já havia esbarrado enquanto fuxicava uma ou outra pessoa. Agora já era tarde demais, eu me sentia uma verdadeira detentora de informações sigilosas quando na verdade elas estavam públicas, ali para todo mundo ver.

Respirei fundo e bebi mais um gole da bebida, já sentindo meus sentidos ficarem levemente entorpecidos, mordi o lábio inferior e saí para andar pela festa, procurando novos rostos e hábitos para observar.

Fui rumo à área externa do local, onde algumas pessoas aproveitavam para conversar sem serem incomodadas e outras fumavam. Naquele lugar eu sentia o ar menos abafado que do lado de dentro, o que era um alívio pra mim. Todos os rostos ali eu conhecia de alguma rede social, o que não era algo difícil quando se tratava de mim. Sentei sozinha numa cadeira que havia ali e terminei minha bebida, coloquei o copo de plástico que havia bebido em cima da mesa e me prometi lembrar de pegar e jogar fora depois.

Peguei o celular e pensei em começar a ver mais um perfil, mas acabei desistindo, apenas olhei rapidamente a timeline do meu Twitter e abandonei o aparelho em cima da mesa, ficando realmente de saco cheio daquela situação.

Foi nesse momento que aconteceu algo que me inquietou profundamente. Eu vi um rosto familiar, mas não o conhecia das redes. Um dèjavu estranho.

Aquilo me deixou intrigada, era um rapaz, ele estava sentado sozinho também numa mesa a poucos metros de mim. Ele tinha a pele negra clara, olhos verdes brilhantes, cabelo castanho crespo bem curto num corte militar e um jeito acanhado. Tentei desvendar algo dele lendo seus movimentos corporais, mas nada me foi útil, ele era um mistério. Principalmente quando ele vestia um casaco de moletom com um capuz, se escondendo das pessoas ao redor dele.

Ele claramente não queria ser incomodado, mas minha vontade era de parar ao lado dele e perguntar "sei que isso é estranho, mas eu me pergunto como você parece conhecido, mas não nos conhecemos de lugar nenhum". Seria extremamente estranho e desconfortável por isso resolvi ficar na minha, mesmo assim eu mantinha os olhos firmes nele, ainda tentando perceber alguma falha no seu comportamento padrão. Ele não se acanhava com meu olhar, pelo contrário, me olhava fixamente de volta.

Seu olhar não dizia nada. Era neutro.

Pessoas normalmente ficam incomodadas com estranhos os olhando fixamente.

Mas ele não.

Isso me assustava.

Parecia uma brincadeira de sério bizarra.

Enquanto eu tentava ler o esquisitão fui atrapalhada por uma amiga minha que surgiu do nada colocando uma mão no meu ombro e falando em plenos pulmões:

- Você está sozinha aqui? Porque não está com a galera? – Eu estava prestes a responder quando olhei pro lado e percebi que o eremita estava nos encarando ainda, minhas bochechas ficaram rapidamente coradas e eu virei meu rosto rapidamente para a minha amiga tentando respondê-la o mais rápido possível.

- Só queria respirar um pouco, estava muito quente lá dentro. – Era a melhor desculpa que eu havia arranjado naquele momento. Não havia muito o que dizer, nem muito o que inventar, quanto mais simples a resposta fosse melhor.

- Entendi, quer que eu pegue mais uma bebida pra você? – Thais, a minha amiga que havia me tirado da minha distração profunda, estava tentando ser legal, porque ela viu que eu estava levemente desconfortável com aquela situação. O que, para ser sincera, era ótimo.

- Por favor. – Eu disse esticando o braço com a comanda. Thais foi se escondendo em direção a pista e quando eu me virei para observar o garoto de novo, ele que me olhava fixamente e não tinha a menor vontade de fingir que não estava o fazendo, ao contrário de mim, que a essa altura do campeonato só pensava em sair correndo.

O encarei de volta e esse olhar levou cerca de um minuto. Minha vontade era de me levantar para falar com ele, mas justamente quando meu pensamento me convenceu a fazer aquilo de fato, Thais voltou com a bebida.

- Obrigada. – Agradeci, grata e ao mesmo tempo irritada por ter aquele momento tão especial cortado no meio.

Eu estava estranhamente atraída por aquele garoto esquisito, mas não de uma forma sexual ou amorosa... Era estranho, mas era tão bom.

Bebi um gole e ela sentou ao meu lado, só para checar olhei para a mesa onde o garoto estava e quando eu fui ver ele já não estava mais lá.


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Stalker - ATO I [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora